domingo, 6 de janeiro de 2013

Língua e identidade

Na mensagem anterior, mencionei minha nova ocupação: estudante de graduação. Pois bem, estou cursando o segundo semestre do BI em Artes, na UFBA. Muita água já rolou por lá e gostaria de compartilhar algumas leituras que gostei bastante. Um dos livros mais interessantes que li no semestre passado foi "A identidade cultural na pós-modernidade", de Stuart Hall. Por incrível que pareça, o tema foi abordado numa disciplina oferecida pelo Instituto de Letras, mas criada especificamente para o BI, e chamava-se "Língua Portuguesa, Poder e Diversidade Cultural". A primeira avaliação baseou-se, então, nesse livro e teve como ponto-chave a relação entre língua e identidade na contemporaneidade. Sei que um único autor não esgota o tema, muito pelo contrário. Por isso mesmo estou aberto a comentários. Critique e sugira outras fontes de leitura. Sinta-se à vontade.

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Questão principal: Podemos dizer que a língua tem uma ação unificadora cuja determinação é anular e subordinar a diferença cultural?

Stuart Hall afirma que as culturas nacionais compõem-se de símbolos e representações, produzindo sentido sobre si mesmas capazes de construir identidades com as quais nos identificamos. A nação é, portanto, uma comunidade simbólica, um sistema de representação cultural. A língua configura-se como um elemento vital de tentativa de unificação em torno dessa identidade.

A língua única contribui para a criação e manutenção de instituições culturais nacionais, apresenta-se como meio dominante de comunicação, através da qual os símbolos podem ser transmitidos e a identidade nacional exaltada. Apesar de existirem diferenças locais dentro de uma mesma nação, de caráter regional, comunitário - entre estados, bairros ou grupos culturais afins -, através da língua, é possível determinar uma união simbólica. Assim pensavam os colonizadores portugueses que aportaram no Brasil no século XVI.

Os portugueses subjugaram a cultura indígena aos costumes e à disciplina europeia da época. Era uma forma de impor uma hegemonia cultural para que a colônia pudesse ser parte de Portugal. Hall destaca que esse tipo de unificação dava-se por uma supressão violenta da diferença cultural. Porém, leva-se bastante tempo para que uma identidade nacional hegemônica seja instituída, pois, ainda que conquistadas à força, as diferenças culturais são a origem das nações construídas sob o viés colonizador. No entanto, a própria hegemonia sobre a cultura dos colonizados é utilizada pelo autor para contestar a tese de que existe homogeneidade cultural.

Assim como os portugueses foram um centro de influência cultural durante o Império, os colonizados deixaram marcas culturais na sociedade que perduram até hoje. A língua é um exemplo vivo dessa influência. Diversos vocábulos formaram-se a partir de palavras indígenas. Alguns  são utilizados ainda hoje para nomear localidades, comidas, festas, etc. Mesmos modificados pela supremacia portuguesa, é possível notar uma morfologia oriunda de outra cultura. Dessa forma, Hall defende um deslocamento das identidade sociais, principalmente no fim do século XX, com o surgimento do mundo globalizado.

Atualmente, a influência não precisa ser exercida sob a força. Todo o mundo está conectado, as distâncias esteitaram-se. As identidades sofrem constantes deslocamentos à medida em que entram em contato com novas interpelações. A língua sofre influência de culturas externas longíquas geograficamente, ao mudar hábitos e incorporar novas identidades. Apenas comunidades fechadas politicamente, sob regime totalitário, como a China, sofrem menos deslocamentos culturais. A ideia de identidade nacional única no mundo moderno apresenta-se, assim, como um referencial utópico de modelo cultural de séculos anteriores.

2 comentários:

  1. tô lendo o blog e tô gostando muito viu?

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    1. Que bom! Tenho um monte de texto pronto na cabeça, alguns bem polêmicos. :-)

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