domingo, 27 de outubro de 2013

A experiência BODYXX

Foi na disciplina Ação e Mediação Cultural Através das Artes, ministrada pelo Prof. Djalma Thürler, que tive minha primeira experiência artística concreta. Ainda que tenha ficado restrita às dependências da universidade, a exposição fotográfica BODYXX, que ajudei a organizar, foi um sucesso. Não só o professor ficou satisfeito com o resultado, mas também os visitantes. Algumas pessoas entraram em contato para tentar levar a exposição para outros departamentos e até mesmo para além da faculdade. Infelizmente, isso ainda não aconteceu.


Tudo começou quando o professou escolheu o tema no qual toda a turma deveria se debruçar para elaborar projetos artísticos: o feminismo. Instantaneamente, tive a ideia de tratar o feminino trans*: sua construção, seu devir. A proposta agradou ao professor de imediato e, então, partimos para uma pesquisa sobre o tema.

A ideia original era produzir um documentário, no qual xs protagonistas teriam voz para falar o que quisessem. Assim, de forma espontânea, elxs delineariam toda sua subjetividade. Desde o início, fui contrário a qualquer abordagem vitimizante, que mostrasse aspectos negativos, como o preconceito sofrido etc. Foi então que Patrícia, colega estudante de fotografia, propôs uma série fotográfica no estilo do The Nu Project. Como a maioria da equipe conhecia o projeto do artista americano Matt Blum, a proposta foi acatada e o documentário foi descartado. Porém, a dificuldade de fotografar o íntimo das pessoas, principalmente daquelas que transitam entre gêneros, era um obstáculo.


O tema era completamente novo para mim. Tudo o que eu conhecia a respeito de transgêneros advinha de notícias em jornais e discussões com amigos. Isso causou uma grande insegurança. O tema exigia cuidado, principalmente no tratamento com xs fotografadxs. Isso foi sentido também pelo restante da equipe. Era preciso, também, vencer os preconceitos. E isso só era possível a partir de muita leitura.

E foi justamente o que eu fiz. Através de amigos e conhecidos na Academia, levantei uma bibliografia capaz de sustentar o argumento do projeto e de nos fazer adentrar no universo trans*. Eles também forneceram alguns contatos importantes para chegarmos a possíveis 'personagens'. Não foi fácil conseguir pessoas dispostas a expor-se por completo. Mais do que o corpo, elas estariam expondo sua personalidade, seu interior. Por isso que o ambiente escolhido para a sessão de fotos foi a residência delas. De todas as pessoas contactadas,  por volta de sete, somente três aceitaram o convite. Uma delas por sentir vergonha do próprio corpo, "acima do peso", como descreveu. Das três trans* que toparam participar, uma não quis que o ensaio acontecesse em sua residência, pois não morava sozinhx. Se não fosse o pouco tempo disponível -- tivemos apenas um mês para definir e produzir a exposição --, teríamos conseguido uma ou duas pessoas a mais.

Da esquerda para a direita: Eu, Sandro, Túlio, Patrícia e Neila
Durante o encontro inicial com Viviane Vê, realizado para apresentar-lhe o projeto e fazer-lhe o convite, foi grande a tensão. Pisávamos em ovos o tempo todo. O erro que mais cometi, talvez o mais comum aos que adentram ao universo trans*, foi o uso correto do gênero. De forma impensada, tal gafe era frequentemente cometida. Como todos os outros integrantes da equipe tinham menos segurança, eu fui o porta-voz em todas as reuniões. A partir dx segundx entrevistadx, os acertos superaram os erros.

Após toda a tensão inicial, o projeto caminhou com certa tranquilidade. Afora os problemas que todo trabalho em equipe possui -- infelizmente, algo bastante comum no BI em Artes --, a exposição obteve sucesso. A sua montagem me custou uma tarde de trabalho e a "cara feia" da chefa, mas o resultado obtido fez valer o incômodo causado. A grande maioria dos comentários escritos no livro de visita da exposição parabenizava a equipe. O professor, além de ter escrito elogios no livro, nos deu nota máxima. Para completar o sucesso, resta agora levar a exposição ao 'grande público'.


Abraços e beijos de agradecimento ao professor Djalma Thürler, e xs fotografadxs Viviane Vê, Nuriko e Marina Garlen. 

sábado, 12 de outubro de 2013

[Curtas #4] A maior flor do mundo

Depois de um mês distante do blog, retorno para compartilhar um vídeo que encontrei recentemente no youtube. Trata-se de "A maior flor do mundo", um curta-metragem produzido em stop motion, baseado na obra infantil homônima de José Saramago, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura, em 1998. Nela, o autor se coloca como personagem para contar a história de um  menino capaz de fazer brotar a maior flor do mundo. Saramago está presente na narrativa para desafiar-se a criar uma obra infantil, para a qual sentia-se inapto por não conseguir utilizar palavras simples. Serve também como uma provocação aos colegas de ofício. E, para além disso, é algo que nos faz refletir sobre o que tentamos ensinar às nossas crianças. Uma história ideal para o Dia das Crianças.
"E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo tem andando a ensinar?"
José Saramago.