domingo, 10 de novembro de 2013

Como evitar uma biografia não autorizada

Copiando a brilhante ideia de Fábio Flora, proprietário do blog Pasmatório, que eu adoro, resolvi tornar públicos os podres de minha vida. Dessa forma, não corro o risco de vê-la devassada por algum abutre ávido por ganhar dinheiro às custas da intimidade alheia. Eu, no ápice de minha fama, jamais quereria que isso acontecesse. Você não concorda? Se eu fosse Roberto Carlos, Gil, Caetano, Chico e companhia, não perderia mais tempo e faria a mesma coisa. Se alguém lançar uma biografia não autorizada, é só acessar o blog e constatar a inveracidade das falácias gananciosas. Ah, esses dedos ferinos! Mas eles não contavam com a nossa astúcia.

A lista de fatos é cronológica, ou tenta ser -- na medida em que a minha memória permite. Infelizmente, não tenho provas para apresentar. Mas não precisa, já que sou o autor-personagem das minhas próprias aventuras. Não sou louco o suficiente para querer me processar por calúnia e difamação. Algum juiz louco acataria tal ação? Prefiro achar que não. Então, vamos aos "causos".

1. Eu matei um rato afogado

Eu tinha um rato de pelúcia bem pequeno. Não lembro a sua origem, recordo apenas que eu gostava de levá-lo a todo lugar. Todo lugar mesmo. Num dia, fui à Praia dos Frades, em Mar Grande, com minha prima e levei o pequeno roedor. Não contente de fazê-lo apreciar a beleza da praia, decidi que faria bem para o bicho refrescar-se nas águas do mar. Já sabe, né? Deixei-o cair na água. Ele afundou. Como a água dessa praia era turva, dificultava a busca. Ficamos um tempão procurando o orelhudo -- em torno de uma hora --, sem sucesso. Quem disse que tinha salva vidas por perto... O rato havia desaparecido. E nem voltamos ao local nos dias seguintes para ver se o corpo tinha aparecido. Eu afoguei o rato. E minha prima foi cúmplice.


2. Eu dormi com o Fofão

Essa história é tão boboca que sinto um pouco de vergonha em contá-la. Quando criança, eu assistia muito a programas infantis de auditório. Não só o de Xuxa, Angélica, Sérgio Malandro -- sim, eu fazia o glu-glu -- e similares locais era composta a minha infância. Eu também fui fã de Bozo, Topo Gigio e Fofão. Deste último, tenho uma maior recordação, não só por causa do boneco amaldiçoado, mas pelo disco de vinil que ganhei de meu pai. Eu gostei tanto do presente que resolvi dormi com ele (!!!). Não me perguntem porquê fiz isso. Também não sei o motivo que fez meu pai aceitar isso -- neste dia, eu dormi ao seu lado, na cama do casal. É claro, é óbvio, é evidente que o disco amanheceu quebrado. E o que o retardado aqui fez? Abriu o berreiro. Meu pai, um santo, foi na loja e comprou outro. Desta vez, resolvi deixá-lo na prateleira, junto aos outros vinis. Santa inteligência!


 3. Eu deixei Cristina fugir

Eu tive uma lancha motorizada a pilha que se chamava Cristina (nome de fábrica, se é que você me entende). A única possibilidade de diversão com Cristina era colocá-la sobre a água, ligar seu motor e vê-la navegar. Enfim, o que esperar de uma lancha? Meu sonho era ter uma coleção daqueles navios artesanais de madeira, vendidos na praia pelos próprios autores, com as velas de tecido, decoração de conchas. Só que custavam caro e meu pai não comprava de jeito nenhum. Então, contentava-me com minha lancha motorizada, um brinquedo feito para ser brinquedo. Certa vez, minha família foi passar o fim de semana em Cacha Pregos, na ilha de Itaparica, onde a família de minha tia morava. Lá, podíamos escolher entre banhar-se no mar ou no rio. Às vezes, escolhíamos ambos, ficávamos no encontro do rio com o mar, num canal de escoamento da água doce. Foi nesse trecho que eu resolvi fazer Cristina nadar. E a danada nadou muito com suas pilhas novas em folha. Eu a liguei, me descuidei um pouco e não consegui mais alcançá-la. As águas agitadas não me deixaram agarrá-la. Nem os que tentaram conseguiram. Ela passou até por cima de quem estava mergulhando a cabeça na água para refrescar-se um pouco. Era rápida a minha Phelps. A lancha já estava chegando em alto mar quando foi pega por uns pescadores locais, que estavam no local com seu barco. A vantagem de ser criança é esta: os adultos fazem de tudo para te ver feliz novamente.


4. Eu não deixava passar em branco a exploração de menor

Minha mãe era -- aliás, é ainda hoje -- uma fumante compulsiva. Ela fuma, em média, três maços de cigarro por dia. E, como todo bom fumante, era muito, mas muito preguiçosa. Descer para comprar os próprios cigarros era algo que raramente ela fazia. Primeiro, pedia para mim ou para minha irmã. Se estívessemos fazendo algo importante, como estudando, recorria a meu pai. E não adiantava espernear. Tínhamos que descer e comprar na banca de revistas que ficava a poucos metros do prédio. Mas eu não deixava por menos. Ela tinha conta na banca, só comprava fiado para pagar no fim do mês. Então, toda ida minha para comprar cigarros rendia um gasto adicional de chocolate Lollo (quem não gostava?) e uma revista de palavras-cruzadas. Não sei porquê eu curtia bastante fazer as palavras-cruzadas comendo Lollo. Não podia ser outra combinação. Porém, um dia, minha farra foi descoberta. A conta deu muito alta e minha mãe nos proibiu de pegar itens adicionais em seu nome. Demo-nos mal. Continuamos comprando cigarros, agora sem ter nenhuma vantagem. Mas a farra foi boa enquanto durou.


5. Eu vendia revistas mal conservadas

Meu pai fez assinatura da revista em quadrinhos Turma da Mônica para mim e minha irmã. Todos nós lá em casa, inclusive ele, adorávamos a revista. E o problema que ocorre com todos que tem assinatura de uma revista também ocorria conosco: o que fazer com todos aqueles exemplares antigos. Bem, eu, minha irmã e mais alguns amigos do prédio tivemos uma ideia brilhante. Ao invés de jogar fora, revendíamos as revistas. Íamos até a calçada em frente ao prédio e oferecíamos as revistas a quem estivesse por ali. Ao lado do edifício, tinha uma padaria e uma farmácia e, logo em frente, um bar. Portanto, sempre tinham potenciais clientes. E não importava o grau de conservação. Bastava que a capa estivesse em boas condições. Espertinhos, não? Confesso que muitos compravam só de achar engraçada a abordagem dos 'vendedores'. E o que fazíamos com o dinheiro arrecadado? Não lembro. Mas, com certeza, gastávamos com alguma bobagem.


6. Eu estuprava a amiguinha

Eu juro. A culpa não era minha. Olhe só a foto abaixo. Qual homem em plena puberdade resistiria? Uma boneca do tamanho de uma criança de 8 anos sabia muito bem o que estava fazendo, não é mesmo? Uma saia curta dessas provoca os instintos mais primários nos homens. Chegar todo dia e ver as coxinhas grossas da amiguinha... a carne é fraca, gente. Macho como eu não resiste. De fato, eu deveria entrar com um processo contra essa criatura, por ter me tentado, por ter provocado o ato. A boneca periguete da Estrela, ela iniciou-me no mundo dos prazeres do sexo. Só não era versátil -- carrinho de mão era a única posição que ela fazia. Que horror.

#ironia


7. Eu tomava água da torneira

Isso é muito comum, eu sei. Afinal, quem gostava de deixar a brincadeira, subir escadas e ir em casa tomar água filtrada? Nenhum minuto podia ser perdido. Então, eu saciava a sede ali mesmo, na garagem do prédio. Abria uma torneira, utilizada para lavar os carros e os playgrounds, formava uma conchinha com as mãos e... pronto. O problema estava resolvido. Era só fazer exame de fezes uma vez por ano, tomar um remédio contra vermes e tudo voltava ao que era antes.



8. Eu brincava com um amigo no escuro do quarto

Não direi o nome do Santo. Não adianta insistir. Vai que o cara, hoje casado e com filhos, lê e se revolta comigo... Mas vou contar a história. Eu tinha um amiguinho -- e esse não era boneco da estrela -- que brincava muito comigo. Nós frequentávamos a casa um do outro. Podia dizer que se tratava do meu melhor amigo na época. Uma das brincadeiras que gostávamos muito era ir para o quarto, meu ou dele, fechar e trancar a porta, desligar a luz e ficar de esfregação -- masturbação através do roçar dos corpos. Rolavam uns beijos também, bem tímidos. Às vezes, fazíamos isso enquanto nossos pais estavam em casa. Nossa relação era apenas de amizade, não havia nenhum outro sentimento. Não pretendíamos viver além daquilo, até por que não sabíamos do que se tratava. Toda brincadeira tem começo e fim. E ela podia começar e terminar quantas vezes quiséssemos, sem problema algum. Não sei ao certo como nem quem começou aquela brincadeira. Só sei que é algo natural para a idade, período da adolescência. Muitos homens passam por essa experiência e nunca revelam. Um dia, um outro amigo do prédio também participou. Ele era mais velho e, portanto, tinha um preconceito já consolidado. Lembro perfeitamente que ele disse, após a diversão, que não repetiria para não acabar gostando daquilo. Bobinho. Podia ter se divertido muito mais.

Não só do sexo oposto temos curiosidades

9. Eu nunca levei namorada para casa

Pode falar o que quiser sobre a minha puberdade, na qual passei em sua totalidade no armário. Chamem-no guarda-roupa, gaveta, caixa de boneca, baú, sótão ou mausoléu. Tudo bem. Mas nunca diga que eu levei uma garota, hetero, bi ou lésbica, para apresentar a meus pais. Nunca tentei enganá-los. Nunca passou por minha cabeça fazer o que alguns amigos da época faziam. E olhe que uma conhecida lésbica um dia se ofereceu para ir comigo à faculdade de mãos dadas -- eu tinha dezoito anos -- e eu recusei. A ideia de fingir um relacionamento, de ludibriar uma menina ou mesmo de tentar me enganar, não me agradava. Tudo o que me faltava era coragem para ligar o foda-se e viver minha vida.



Fim da lista de minhas peripécias. Pelo menos, de algumas delas. E aí, diga a verdade, alguém conseguiria me difamar melhor?

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