quinta-feira, 6 de junho de 2013

Apenas mais um dia no Fórum Ruy Barbosa

Último dia do mês de fevereiro deste ano não bissexto. Desejávamos ter sido quatorze do mesmo mês, mas o carnaval e o recesso judiciário não permitiram. Fazia muito sol, como de costume em Salvador. Era também a segunda e a última manhã de quinta-feira dedicada a casamentos, como acontece todos os meses. Como era de hábito, os noivos e as noivas, cuja cerimônia fora agendada para a mesma data, estavam presentes, vestidos a caráter. Alguns até mais do que necessário. As mulheres vestiam-se de noivas. Algumas tinham até damas de honra. Todo a teatralização da cerimônia cristã. Tratavam-se de pessoas de baixo poder aquisitivo, que não podiam arcar com os altos custos de uma cerimônia religiosa. E, claro, existiam aqueles que preferiam apenas o registro civil. Encaixamo-nos neste último perfil. Desconsidero aqui a crítica quanto ao fato da maioria das religiões e templos não concordarem com o casamento entre pessoas do mesmo sexo, já que somos ateus. Não faríamos uma cerimônia religiosa, de qualquer forma. Apesar disso, o processo contempla aspectos do ritual cristão, para consolo dos que não puderam estar num altar. Inicialmente, ficam os casais e suas testemunhas (padrinhos?) sentadas num espaço exclusivo, aguardando ser chamados pelo microfone. O casal pode requerer uma sala privada com a presença apenas de seus convidados, pagando uma grande quantia a mais. Optamos pelo Salão Nobre do fórum, como os mais de vinte outros casais, um casamento coletivo. A tabeliã do cartório no qual demos entrada no pedido de união confirma nossos nomes, nos pergunta se temos alianças para trocar. Todos fazem o mesmo, sem distinção. Alianças entregues, assinamos o registro civil. Em seguida, as testemunhas o fazem. A Juíza chega e o juramento é feito olhos nos olhos. Após o "sim" e as alianças devidamente colocas no dedo anular da mão esquerda, é dado espaço para o beijo. Como de praxe, ela homologa a união e entrega de imediato o registro, o qual mostramos orgulhosos para amigos e familiares presentes no Salão. Na área externa, em meio às parabenizações costumeiras, relatos da surpresa causada aos convidados dos demais noivos. Os comentários variaram de notória desinformação -- "Não sabia que gays já podiam se casar" -- ao trivial preconceito -- "Devia ser numa sala separada" --, quando não as duas coisas juntas. Ouvindo tal comentário de desinformação da senhora sentada na fila posterior, minha mãe olhou para trás e disse, categoricamente: "Pode, claro que pode. Tanto pode que ele está lá. É meu filho". Uma sessão de fotos tendo o fórum como pano de fundo seguiu-se ao casamento. Horas depois, todos nos encontramos numa recepção intimista. Optamos por comemorar a união com um almoço no pequeno restaurante que mais frequentamos na cidade, com um cardápio preparado para a ocasião. Convidamos somente pessoas íntimas para partilhar o momento. Ainda assim, não conseguimos convidar todos, infelizmente. Mas não queríamos festa grande. Recepção para duzentos ou mais convidados é para quem gosta de mau olhado e de estar com gente hipócrita. A "sociedade" podia (e foi) notificada do casamento através das redes sociais. É por lá que mantemos "contato" com a maioria das pessoas mesmo... A lua-de-mel foi na cidade que fizemos a primeira viagem juntos e da qual gostamos bastante: São Paulo. A vida de casado ainda não começou de fato. Aguardamos ansiosos a entrega do apartamento comprado em 2009. Feito isso, e após uma digníssima reforma, inauguraremos uma nova rotina em nossas vidas, não muito diferente da que já possuímos, mas com maior intensidade.


Um comentário:

  1. Desejo que você seja muito Feliz nessa sua nova caminhada.
    Te amo meu primo ...

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