segunda-feira, 17 de junho de 2013

[Copa #1] A FIFA brinca de amigo oculto

Se você já participou de amigo oculto no fim do ano, na época de Natal, já deve ter percebido que ao menos um participante sai insatisfeito com o presente recebido. Sabe aquele parente, amigo ou colega sem noção que resolve presentear o azarento sorteado com um porta-retrato, um pacote de cuecas, uma caixa de chocolates sortidos, etc? E quando cada um divulga uma lista de presente que deseja ganhar e o tal amigo ignora? Pois é, amigo oculto é que nem futebol, uma caixinha de surpresas. Não dá para confiar na técnica e nas regras do jogo. Surpresas acontecem com frequência. E a FIFA, a maior entidade futebolística do mundo, representa o nosso amigo espírito de porco. Para a Copa das Confederações, só recebemos dela presentes de grego.


Afora as exigências cabulosas, que vão de encontro até às leis do país-sede, quem tentou e/ou conseguiu comprar ingressos para a Copa das Confederações deve ter sido pego de surpresa. Nada de filas, horas em pé aguardando sua vez, sistema que sai do ar, etc. Oportunidade igual para todos os torcedores do mundo. Apenas um canal de vendas foi disponibilizado: a Internet. Até aí, tudo bem. Mas foi só a venda começar para chover problemas.

Na pré-venda de ingressos para clientes Visa, o sistema apresentou lentidão, não suportou a quantidade de acessos simultâneos. O processo de venda era complexo, composto por seis etapas. E muitas informações importantes foram omitidas. O valor do ingresso para as partidas era dividido em categorias, cada qual correspondendo a um setor da arquibancada. Quem está acostumado a comprar ingressos para shows e peças de teatro, por exemplo, sabe que o valor diminui ou aumenta de acordo com a posição da poltrona, a melhor visibilidade que se tem do espetáculo. Mas a FIFA não disponibilizou o mapa de assentos dos estádios. Sequer um mapa apenas com as áreas reservadas para cada categoria. Não era possível saber a diferença entre elas além do custo cobrado. O público foi obrigado a comprar no escuro.

Também não foram disponibilizados ingressos de meia-entrada para estudantes e idosos. Estes só foram vendidos na terceira fase de vendas, mediante sorteio (!!!). O torcedor acessava o site, preenchia um cadastro e solicitava uma quantidade limitada de ingressos, entre eles a meia-entrada. Posteriormente, ele recebia uma mensagem da FIFA autorizando a compra. Onde já se viu isso?

Para comprar ingresso, independente da fase, tinha que criar um cadastro, mediante preenchimento de formulário. Entre as informações solicitadas, estava o CPF. Este era validado e, por incrível que pareça, o algoritmo de validação estava errado. A minha identificação e a de outros colegas de trabalho apresentou irregularidade no dígito verificador. O cadastro foi realizado após muitas tentativas. Será que testaram o sistema antes de disponibilizá-lo aos usuários?

Agora, o pior problema de todo o processo de venda de ingressos. No ato do pagamento, após informar os dados do cartão de crédito e confirmar a operação, o sistema apresentava muita lentidão. Aparecia a mensagem de processamento durante mais de um minuto. Algumas pessoas tentaram retornar para a tela anterior para tentar novamente. E conseguiram. Porém, o pagamento foi debitado do cartão duas vezes, uma vez para cada tentativa, mesmo que a primeira não tenha tido confirmação da compra. Isso repercutiu nos jornais. E qual foi a solução da FIFA? O espectador deveria enviar e-mail e aguardar a resolução do problema. Aqueles que não tinham tentado comprar ingresso novamente (debitado duas vezes), tiveram que esperar para saber se iriam ter ingressos.

É de se espantar que problemas como esses ocorram, pois se trata de um evento promovido pela entidade máxima do futebol, acostumada a produzir grandes eventos em todo o mundo. Em agosto, começa a venda de ingressos para a Copa do Mundo 2014. Será que os problemas persistirão? Além disso, as próximas Copa das Confederações e Copa do Mundo serão na Rússia, em 2018. Vale a pena acompanhar para verificar se os  mesmos desmandos e os problemas técnicos dignos de uma empresa amadora se repetirão.

* Esta é só a primeira de uma série de publicações sobre a Copa.

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