quarta-feira, 13 de março de 2013

"Vazio"

A adolescência é um momento único. Hoje, olho para trás e consigo ver além de julgamentos a respeito das escolhas feitas. No geral, gosto de quem fui. Naquela época de medos e descobertas, lembro de uma paixão recíproca, porém não concretizada. Durante o ensino médio, antes chamado segundo grau, apaixonei-me por um colega de outra turma. Éramos da mesma série, mas de salas distintas. Nunca tivemos aproximação, muito menos amigos/colegas em comum, mas os olhares tímidos foram se tornando cada vez mais firmes, conscientes, decididos. Nunca avançamos. Apesar de já ter me descoberto homossexual, não tinha a coragem suficiente para abordar alguém do mesmo sexo, ainda mais se tratando de uma pessoa externa ao círculo de amizades. Ele, pior ainda, namorava uma garota, numa clara necessidade de negar sua orientação sexual. Foi nesse turbulento contexto que me aventurei pelo mundo da poesia. Encantei-me de imediato com Fernando Pessoa e seus heterônimos. Escrevi dois poemas, sempre em momentos de tristeza, os quais estimulavam minha inspiração. Porém, esta minguou logo que ingressei à faculdade de computação. A lógica engoliu a minha emoção. Quem sabe não volto a me aventurar novamente...

Compartilho o meu primeiro poema, chamado "Vazio".


Vazio

Se ao menos eu tivesse um espelho
Para que, através dele,
Eu pudesse enxergar minha alma turva e longíqua
Caminharia tranquilo pelos becos escuros da vida
Porque eu, mesmo não sendo reflexo de minha personalidade,
Sinto-me capaz de guiar minha consciência pela mais sombria escuridão
Se ao menos eu tivesse uma imagem
Tentaria alcançá-la e agarrá-la
Pois, por mais sincera que minha fronte seja
Por mais pureza que revele o meu ser
Eu não possuo um espelho
E, assim, convivo com aparências
Guiado pelo que os cegos dizem.

Escrito por mim, em 20/08/1997, aos 17 aninhos.

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