sábado, 30 de março de 2013

À Copa da Árvore


"As gralhas pousavam; as gralhas se alçavam no ar. As árvores em que tocavam tão caprichosamente pareciam insuficientes para alojá-las. As copas faziam cantar a brisa em seu interior; os ramos rangiam audivelmente; de vez em quando, embora fosse pleno verão, deixavam cair cascas ou galhos finos. As gralhas subiam e desciam de novo, erguendo-se em número menor, sempre que as andorinhas se preparavam para pousar, pois a noite já era suficiente para tornar o ar quase escuro dentro da floresta. O musgo estava macio; os troncos das árvores espectrais. Atrás delas abria-se uma campina prateada. O capim-dos-pampas erguiam suas lanças emplumadas de montículos verdes no fim do prado. Um trecho de água cintilava. A mariposa convulvulos girava em parafuso sobre as flores. Laranja e púrpura, nastúrcio e cerejeira diluíam-se na meia-luz, mas a planta do fumo e a flor da paixão, sobre as quais regirava a grande mariposa, eram alvas como porcelana. As gralhas faziam chiar as asas juntas nas copas das árvores, e ajeitavam-se para dormir quando, bem ao longe, um som familiar reboou e tremeu -- intensificou-se -- praticamente estrondeou em seus ouvidos -- sagradas, sonolentas asas outras nos ares -- a sineta do jantar na casa."

Trecho de "O Quarto de Jacob", de Virgínia Woolf.

Nenhum comentário:

Postar um comentário