quarta-feira, 1 de maio de 2013

O Homem Visível

Foi ontem, último dia do mês de abril, por volta de 22 horas. Peguei um ônibus Barra-3 na Avenida Manoel Dias da Silva para, enfim, ir para casa e descansar do trabalho extenuante daquela noite. Eu guardava o troco do cobrador, após passar a roleta. O ônibus havia parado no ponto em frente ao Bradesco. Entre usuários do transporte que desciam do carro e alguns que ainda aguardavam no ponto, uma pessoa caminhava vagarosamente atrás do abrigo, em direção à esquina, para atravessar a rua. Era um morador de rua. Vestia farrapos que cobriam apenas seu tronco. Mesmo sujos e surrados, os tecidos organizavam-se de forma a indicar um estilo, uma criação particular. Abaixo da cintura, apenas a roupa íntima. Na cabeça que reluzia a luz dos fortes refletores da avenida, uma passadeira como acessório. No caminhar, uma marca. Uma jovem, sentada próxima ao cobrador, esbugalha os olhos, inclina-se para ter um melhor ângulo e deixa escapar voluntariamente uma interjeição de surpresa. Foi um convite para o meu olhar dirigir-se à cena externa. Um outro passageiro, sentado mais à frente, ergue o braço e, dedo indicador em riste, sorriso estampado no rosto, mostra ao amigo com o qual conversava, que pergunta de imediato: "É mulher?". "Não. É homem. (pausa) É um velho.", responde o atento observador. Outro coloca a cabeça na janela e grita: "Xuxa". Enquanto isso, no mesmo cenário, um outro morador de rua dormia, envolto em lençóis, aparentemente tranquilo e totalmente invisível.

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