tag:blogger.com,1999:blog-45327503743094356292024-03-12T20:20:41.956-06:00Impressões sobre a estradaAnonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.comBlogger51125tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-3789501051582003442015-03-08T11:26:00.000-06:002015-03-08T11:26:41.572-06:00As fronteiras do efêmero no arrocha<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">Artigo escrito como avaliação da disciplina HACB23 - Arte e Cidade, ministrada pelo Prof. Joaquim Viana.</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">* * * </span></div>
<div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="CENTER" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<b>As
fronteiras do efêmero no <i>arrocha</i></b></div>
<div align="RIGHT" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Carlos
Henrique Nunes Costa</div>
<div align="RIGHT" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
Na edição II do Colóquio Internacional Fronteiras Geopolíticas e
Geoartísticas, realizado em 07 de outubro de 2014, o crítico de
arte e estética François Soulages proferiu uma palestra, na qual
definiu a cidade como elemento vivo, sempre em movimento, um
organismo complexo em constante progressão. Arquitetos costumam
tratar-lhe segundo uma visão mecanicista, cartesiana, uma simples
composição geométrica. No entanto, o aspecto do urbano pode ser
aliado ao efêmero, observando a cidade como um ser biológico que
sofre mutações. Mais do que um conjunto de blocos, quarteirões e
vias, a cidade é assunto da cultura; é o motor efêmero e
metamorfoseado da cultura (SOULAGES, 2014).</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
Observar o uso dos espaços públicos é uma forma eficaz de
verificar como a cidade é um organismo vivo. Os canteiros centrais
das grandes avenidas são locais cujo objetivo é transgredido
frequentemente pela população. Os semáforos instalados ao longo da
avenida Antônio Carlos Magalhães, por exemplo, com suas faixas de
pedestres, obedecem a uma lógica cartesiana de modelar os caminhos
possíveis de se tomar. Essa lógica obedece exclusivamente à
necessidade de fazer fluir os automóveis e fazer chegar às
corporações o meio de obtenção do lucro. Não se avalia o
atendimento da necessidade dos pedestres, os caminhos que percorrem
usualmente, para facilitar-lhes a mobilidade. Por isso, é comum ver
pessoas atravessando a avenida fora das faixas de pedestres,
distantes dos semáforos, andando pelo canteiro central em busca de
um percurso otimizado ao seu destino.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
O Estado considera os desvios do caminho instituído como infrações
e, assim, constrói cidades meramente cartesianas, que impõem a
mecanização dos corpos. Esses movimentos adversos constituem,
segundo Viana Neto (2013-2), experiências emancipatórias que
fissuram o dimensional do Estado, provocando rupturas nos signos
icônicos. A todo momento, micropolíticas emancipatórias confrontam
a macropolítica do poder e vice-versa, num jogo de ação-reação.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
O centro da cidade (ou mesmo a noção de centralidade) corresponde
ao espaço geopolítico de afirmação da identidade hegemônica. A
estetização dos espaços públicos e privados busca a modelização
global icônica da cidade. Contudo, há poderes invisíveis que
questionam as fronteiras (Viana Neto, 2013-1). A ocupação dos
pontos de ônibus, locais de aglomeração de pessoas, principalmente
em horário de pico, por parte de ambulantes, é um exemplo de
micropolítica de resistência. Banidos da possibilidade de
constituir negócio, seguindo os trâmites formais excludentes, os
ambulantes comercializam produtos diversos: bebidas, alimentos,
música, vídeos. Essa ação contribui para o rompimento das
fronteiras e explicitam a organicidade, o efêmero das cidades.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
A resistência ao identificado, fichado, reconhecido provoca ruptura
com os consensos superficiais e sedutores da subjetividade dominante.
Expõe novos e diferentes modos de vida, nos quais as leis de Estado
são depostas (Viana Neto, 2013-2). Os espaços públicos e privados
são, dessa forma, remodelados, transformando-se em naturais palcos
de microrrevoluções emancipatórias, onde a subjetividade atinge,
também, o campo artístico.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
Garis Burgi, em seu trabalho “Né dans la rue, mort chez cartier”,
discute as fissuras fronteiriças que a arte produzida por grupos
invisíveis socialmente causa, através dos murais grafite. Para
isso, ele distingue o ser-fronteira e o ser-sem-fronteira, sendo este
último responsável por questionar as fronteiras estéticas e morais
do senso comum dominante. A arte produzida nas ruas irrompem uma
discordância com a arte institucionalizada dos museus, galerias e
seus especialistas. “A rua é uma galeria a céu aberto”, afirma
Burgi (2014).
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
Seguindo o mesmo pensamento de Burgi, pode-se inferir que os pontos
de ônibus de Salvador são, também, espaços de disseminação de
um devir artístico que contrasta com o signo icônico-artístico
dominante, representado pelo Estado em consonância com a indústria
cultural local e nacional. Nos pontos, os ambulantes de CD atraem o
público reproduzindo as músicas que vendem, em volume acima do
convencional. Aqueles que vendem DVD possuem até mesmo televisores e
tocadores para exibir os exemplares. Todos os estilos convivem, do
<i>gospel</i> ao pagode. Esse mercado informal não se configura
apenas uma forma de “ganhar a vida” para os ambulantes,
contrapondo o mercado legal mantido pelo Estado, mas também como
espaço de visibilidade de uma estética marginal, criada a partir de
singularidades de resistência. Dessa forma, dissemina-se o estilo
musical conhecido como arrocha.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
O arrocha surgiu nos grotões urbanos, totalmente à margem dos
estilos musicais empreendidos e bem valorados pela indústria
cultural baiana. A força desse estilo deu-se por intermédio dos
eventos, realizados fora do eixo central da cidade, e disseminou-se
graças à comercialização de CD “pirata”. O rompimento da
fronteira geopolítica possibilitou a massificação do arrocha. A
partir daí, houve a tentativa de ressignificação do estilo,
transformado-o em produto para consumo da classe média, alçando
cantores ao <i>status</i> de artistas de primeiro escalão,
representantes da cultura hegemônica. Os shows passaram a ser
realizados nas tradicionais casas de espetáculo, com direito a
anúncio em <i>outdoors</i>, rádio e televisão. O estilo musical
foi incorporado por bandas tradicionais, surgindo vertentes como
“arrocha universitário” – vale ressaltar o quanto o termo
“universitário” imputa ao estilo uma nova formação simbólica,
a legitimação do consumo. Embora atraído por uma política
identitária hegemônica para a cultura da cidade, o arrocha
microrrevolucionário persiste nos grotões e nos pontos de ônibus,
distante dos <i>softwares</i> de correção de “imperfeições
faciais”, modelagem do corpo em academias de ginástica e de
tratamentos em clínicas de estética.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjO6SWBBUMN5mjU-d7fSs0J5i90iLDk_pkTMWGFJMYjhfAWM83kBPxSoSVlHv1AA7PiyHueP_b-rUdqHPLgT-0HdzeLAHpNgkP1Q0DuJu2AwpWTGhuoqreqg8YrRJ4VJ5C3e1B5C-M5SqQ/s1600/pablo+(1).jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjO6SWBBUMN5mjU-d7fSs0J5i90iLDk_pkTMWGFJMYjhfAWM83kBPxSoSVlHv1AA7PiyHueP_b-rUdqHPLgT-0HdzeLAHpNgkP1Q0DuJu2AwpWTGhuoqreqg8YrRJ4VJ5C3e1B5C-M5SqQ/s1600/pablo+(1).jpg" height="320" width="196" /></a></div>
<div align="CENTER" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="line-height: 150%;">Cartaz de divulgação do DVD ao vivo de Pablo do Arrocha.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
A imagem acima exemplifica a tentativa de sobrecodificação de um
signo marginal para transformá-lo em mais um ícone do consumo
hedonista dos produtos culturais. A associação com a produtora Som
Livre, o visual que converge para a padronização estética
dominante, dotada de objetivo claramente higienista, reafirma a
conduta do sistema dominante em invisibilizar as identidades
emancipatórias erguidas a partir de uma arte minoritária.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
O arrocha pertence ao campo da arte denominado por Viana Neto
(2013-1) como “arte minoritária”. Ela é – enquanto modo de
vida, expressão para além da cultura – paralelamente ao conjunto
estético de perceptos e afectos produzido, um campo de luta, através
do qual vislumbra-se sujeitos invisíveis que, paradoxalmente, são
familiares a todos. A arte minoritária escapa do molde de
estetização padrão do mundo e se efetiva a partir de trocas
micropolíticas, como ocorrem nos pontos de ônibus da capital
baiana.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
Em seu discurso, Soulages (2014) afirmou que a cidade são os
humanos, as ruas em movimentos, o fluxo, a mobilidade, o trabalho e a
economia, as tensões e a fraqueza, as relações sociais (públicas)
e a vida privada, enfim, uma infinidade de coisas humanas. O efêmero
conduz a cidade. É por isso que, mesmo ao menos atento, o corpo é
hipersensibilizado pela cidade a todo instante. Ao andar por ela, o
confronto se dá no espaço público, gerando tensões que explicitam
as fissuras geopolíticas determinadas pelo Estado. A cidade é,
portanto, a confluência da coisa urbana com a coisa humana.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<b>Referências</b></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.35cm; margin-bottom: 0cm;">
BURGI, Gary. Fronteiras e formas do gratite-efêmero. In: <span lang="zxx"><b>Colóquio
Internacional Fronteiras Geopolíticas e Geoartísticas</b></span>,
2., 2014, Salvador. Anotações. Salvador: Universidade Federal da
Bahia, 2014.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.35cm; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.35cm; margin-bottom: 0cm;">
SOULAGES, François. As fronteiras efêmeras da cidade: estrutura e
história. In: <span lang="zxx"><b>Colóquio Internacional Fronteiras
Geopolíticas e Geoartísticas</b></span>, 2., 2014, Salvador.
Anotações. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2014.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.35cm; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.35cm; margin-bottom: 0cm;">
VIANA NETO, Joaquim. Fronteiras e singularidades de resistência. In:
<b>Colloque International Frontières & Esthétisation de
L’Espace Public</b>, 2013, Paris. Anais. Paris: Institut National
d’Histoire de l’Art, 2013-1.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.35cm; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.35cm; margin-bottom: 0cm;">
VIANA NETO, Joaquim. L’Art du dehors: frontières & dépositions
In: SOULAGES, François; MARTIN, Pascal. <b>Les frontières du flou</b>.
Paris: L’Harmattan, 2013-2.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com0Salvador - BA, Brasil-12.9730401 -38.502303999999981-13.2206846 -38.825027499999983 -12.7253956 -38.179580499999979tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-20450056711501846562014-12-17T19:57:00.001-06:002014-12-17T19:57:24.305-06:00#NossaFamíliaExisteRecebi o e-mail da campanha #NossaFamíliaExiste e não resisti a encaminhá-lo.<br />
<br />
<table align="center" bgcolor="transparent !important" cellpadding="0" cellspacing="0" style="background-image: none; border-collapse: collapse; border-radius: 5px; border-spacing: 0px; border-style: none; border-width: 0px; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13.3333339691162px; margin: 0px auto; width: 590px;"><tbody>
<tr><td style="margin: 0px; padding: 0px;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" style="border-radius: 5px; border-spacing: 0px; border-style: none; border-width: 0px; margin: 0px; width: 590px;"><tbody>
<tr><td style="margin: 0px; padding: 0px;"><table align="center" bgcolor="#FFF8DC" cellpadding="0" cellspacing="0" style="background-color: cornsilk; background-image: none; border-collapse: collapse; border-radius: 5px 5px 0px 0px; border-spacing: 0px; border-style: none; border-width: 0px; margin: 0px; padding: 0px; width: 590px;"><tbody>
<tr><td style="border-radius: 5px 5px 0px 0px; margin: 0px; padding: 0px;" width="590"><img alt="1" class="CToWUd a6T" height="218" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEhKRfm6lZF8qZ7PRGCz-dDGnmJxrXi3efwc6x6aWyhEbF7w3M-RVvZdFKlswatKMvWHQYARbHYNcSeVvPP5Yud13xA9X8QCTZMt4jmtsIMc36G8ylyAkKk2NstqgBdIOp3v0DnyEpHrJBrU6tqTH3iSSx7xgnfltq8vjMDsu8vhunmv3NTLwJQZnIB1A-Heo3g=s0-d-e1-ft" style="border-radius: 4px 4px 0px 0px; border-width: 0px; cursor: pointer; outline: 0px;" tabindex="0" width="590" /><br />
<div class="a6S" dir="ltr" style="left: 615.888885498047px; opacity: 0.01; position: absolute; top: 204.98957824707px;">
<div aria-label="Fazer o download do anexo " class="T-I J-J5-Ji aQv T-I-ax7 L3 a5q" data-tooltip-class="a1V" data-tooltip="Fazer o download" id=":37h" role="button" style="-webkit-box-shadow: none; background: rgba(0, 0, 0, 0.6); border-radius: 3px; border: 1px solid rgb(115, 115, 115); box-shadow: none; color: #444444; cursor: pointer; display: inline-block; font-size: 11px; font-weight: bold; height: 24px; line-height: 23px; margin-left: 8px; margin-right: 0px; min-width: 0px; outline: 0px; padding: 0px; position: relative; text-align: center; white-space: nowrap; width: 30px;" tabindex="0">
<div class="aSK J-J5-Ji aYr" style="background: url(https://ssl.gstatic.com/mail/sprites/newattachmentcards-7f961476482232d487c7980cdeb07e59.png) -219px -129px no-repeat; cursor: pointer; display: inline-block; height: 21px; position: relative; vertical-align: middle; width: 21px;">
</div>
</div>
</div>
</td></tr>
</tbody></table>
</td></tr>
<tr><td style="margin: 0px; padding: 0px;"><table align="left" bgcolor="#FFF8DC" cellpadding="0" cellspacing="0" style="background-color: cornsilk; background-image: none; border-collapse: collapse; border-radius: 0px 0px 4px 4px; border-spacing: 0px; border-style: none; border-width: 0px; margin: 0px; padding: 0px; width: 590px;"><tbody>
<tr valign="top"><td style="margin: 0px; max-width: 100%; padding: 25px 30px 20px;"><div style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;">
<table style="border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; border-style: none; border-width: 0px; margin: auto; width: 100%px;"><tbody>
<tr><td align="left" style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;" width="530"><div style="margin: 0px; padding: 0px;">
<h2 align="center" style="color: rosybrown; font-family: 'Trebuchet MS', 'Lucida Grande', 'Lucida Sans Unicode', 'Lucida Sans', Tahoma, sans-serif; font-size: 35px; line-height: 1.2em; margin: 10px 0px; padding: 0px; text-align: center;">
Documentário mostra natal de crianças com pais homossexuais</h2>
</div>
</td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;">
<table style="border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; border-style: none; border-width: 0px; margin: auto; width: 100%px;"><tbody>
<tr><td align="left" style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;" width="530"><div style="margin: 0px; padding: 0px;">
<div align="justify" style="color: teal; font-family: 'Trebuchet MS', 'Lucida Grande', 'Lucida Sans Unicode', 'Lucida Sans', Tahoma, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 1.3em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
A ação organizada contra o retrocesso ao reconhecimento do Estado das famílias compostas por duas pessoas do mesmo sexo está nas ruas desde 2012 e lança agora um vídeo para quebrar todos os preconceitos que giram em torno de casais de gays e lésbicas. <a href="https://go.madmimi.com/redirects/1418755752-911917f178d1fb698fef2e03c971d460-7a5cd57?pa=27015632619" style="color: #3693cc; text-decoration: none; word-break: break-word;" target="_blank">Clique e assista ao documentário!</a></div>
</div>
</td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div style="clear: both; margin: 0px; padding: 5px 0px;">
<table style="border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; border-style: none; border-width: 0px; margin: auto; width: 100%px;"><tbody>
<tr><td align="left" style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;" width="530"><table align="center" style="border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; border-style: none; border-width: 0px; margin: auto; width: 530px;"><tbody>
<tr><td style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;" valign="top"><div align="center" style="margin: 0px auto 1.1em; padding: 0px; text-align: center;">
<a href="https://go.madmimi.com/redirects/1418755752-9c3775b8582724e50daa4d1fa854fe25-7a5cd57?pa=27015632619" style="color: #3693cc;" target="_blank"><img alt=" NossaFamiliaExiste - CurtaFinal MadMIMI" class="CToWUd" height="317" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEhOCTj8pDQePL32Yefx0UipFYbXpd90bBBT-9gX5R-yGZ6WuGUwoBDvwtL3eEXHOQ9Dm1z0PYeO6ww3cbrPtGXmH3OxU-Cda5JetPcL7LQD1E3pOzwxAGWpVxtXDTBihon_y5PLG_iALSgTxoU_jICGf9d5nwH0W8LpxipMGIZ5tpfpRyebzUDfnlcWyK4-bqpRWUgjLL1qo0RTC4kh7w5gt7C8-jEhDlCO8hrk-EO-K_VGlBrgEDA=s0-d-e1-ft" style="border-width: 0px;" width="530" /></a><br />
<div align="justify" style="clear: both; color: teal; font-family: 'Trebuchet MS', 'Lucida Grande', 'Lucida Sans Unicode', 'Lucida Sans', Tahoma, sans-serif; font-size: 11px; font-style: italic; line-height: 1.5em; margin-bottom: 1.5em; margin-top: 3px; padding: 0px; text-align: justify;">
Clique e assista ao documentário!</div>
</div>
</td></tr>
</tbody></table>
</td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;">
<table style="border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; border-style: none; border-width: 0px; margin: auto; width: 100%px;"><tbody>
<tr><td align="left" style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;" width="530"><div style="margin: 0px; padding: 0px;">
<div align="justify" style="color: teal; font-family: 'Trebuchet MS', 'Lucida Grande', 'Lucida Sans Unicode', 'Lucida Sans', Tahoma, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 1.3em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
A campanha começou com fotos de casais e seus filhos com a temática do natal e agora já viralizou nas redes e comoveu milhares de pessoas em torno da causa. O objetivo final é a mudança no texto do Estatuto da Família e o reconhecimento de famílias que saiam do "padrão" homem, mulher e filhos."</div>
</div>
</td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div style="clear: both; margin: 0px; padding: 5px 0px;">
<table style="border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; border-style: none; border-width: 0px; margin: auto; width: 100%px;"><tbody>
<tr><td align="left" style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;" width="530"><table align="center" style="border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; border-style: none; border-width: 0px; margin: auto; width: 530px;"><tbody>
<tr><td style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;" valign="top"><div align="center" style="margin: 0px auto 1.1em; padding: 0px; text-align: center;">
<a href="https://go.madmimi.com/redirects/1418755752-9da4534116e8cecf64b8619ce055a7d8-7a5cd57?pa=27015632619" style="color: #3693cc;" target="_blank"><img alt="1" class="CToWUd" height="353" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEgfLIHHsQc3LOOGjycJ1_EzA22bRV687_zUy89x6TyJ2q5Z46kHcS2Krhjw4U25M-GwVGNSvWzjEONBd2lJRlcQTyTTPF18LB9JTISyvkzrz_dpjuhO7C8qZ3URFhcPIYMyOETXcLvoyFXEhxjikJN9os0G4biSagR020r2cT4Jd61_TmDGkpjXwQeOhCHbhWI=s0-d-e1-ft" style="border-width: 0px;" width="530" /></a></div>
</td></tr>
</tbody></table>
</td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div style="clear: both; margin: 0px; padding: 5px 0px;">
<table style="border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; border-style: none; border-width: 0px; margin: auto; width: 100%px;"><tbody>
<tr><td align="left" style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;" width="530"><table align="center" style="border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; border-style: none; border-width: 0px; margin: auto; width: 530px;"><tbody>
<tr><td style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;" valign="top"><div align="center" style="margin: 0px auto 1.1em; padding: 0px; text-align: center;">
<a href="https://go.madmimi.com/redirects/1418755752-f563fcabbcd99b35d5fd9249fdbed48b-7a5cd57?pa=27015632619" style="color: #3693cc;" target="_blank"><img alt="1" class="CToWUd" height="170" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEhBPJgFDuycY4lhsNTm3Zgo17tvlqx3xSjoCt5QLV2KNNgWLZkhGtCJrrIg0t8z6B1qKmkHKJlBLLpp1CqejYJbkFDIfsgKqhhdCrzjNHzfMnmgjCshKw2pbW0gtGy9UTAg96DM66Pz1J2RgCsGKozaXAKIwUD2KnMPcby1JdmBq4wY0yc7WkhgGnMp2PFlL-s=s0-d-e1-ft" style="border-width: 0px;" width="255" /></a></div>
</td><td style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;" width="20"></td><td style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;" valign="top"><div align="center" style="margin: 0px auto 1.1em; padding: 0px; text-align: center;">
<a href="https://go.madmimi.com/redirects/1418755752-1e155f56cb87ae77a43ba3b9bb56a334-7a5cd57?pa=27015632619" style="color: #3693cc;" target="_blank"><img alt="1" class="CToWUd" height="170" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjl7AN4-y8bZiYtMEzhcs1myzT_1zlznNfXEHF4so4VHOWC0BeHmaPXR8nn5SGaJ5zrnxoDA_3n4hsyzizKoGEOrboWeXyqcINZkGDNT62EemfXGcJpIwgUiKKGDESvqB9rqIXMDJnMcmH8TSgdklJVxeEvNw-3A8wVvMuTb3WPAj5gENcYeRT5iLO9TdNtWS4=s0-d-e1-ft" style="border-width: 0px;" width="255" /></a></div>
</td></tr>
</tbody></table>
</td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;">
<table style="border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; border-style: none; border-width: 0px; margin: auto; width: 100%px;"><tbody>
<tr><td align="left" style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;" width="530"><div style="margin: 0px; padding: 0px;">
<h1 align="left" style="color: #333333; font-family: sans-serif; font-size: 20px; line-height: 1.3em; margin: 0px 0px 10px; padding: 0px;">
ENTENDA O CASO</h1>
<div align="justify" style="color: teal; font-family: 'Trebuchet MS', 'Lucida Grande', 'Lucida Sans Unicode', 'Lucida Sans', Tahoma, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 1.3em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
Desde maio de 2013 casais homoafetivos já podem se casar em todo território nacional. O Supremo Tribunal Federal (a mais alta instância da justiça do país) já decidiu que casais compostos por duas pessoas do mesmo sexo são entidades familiares. Dezenas de casais formados por dois homens ou duas mulheres já adotaram dezenas de crianças ou tiveram seus filhos por métodos de reprodução assistida.</div>
</div>
</td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;">
<table style="border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; border-style: none; border-width: 0px; margin: auto; width: 100%px;"><tbody>
<tr><td align="left" style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;" width="530"><div style="margin: 0px; padding: 0px;">
<div align="justify" style="color: teal; font-family: 'Trebuchet MS', 'Lucida Grande', 'Lucida Sans Unicode', 'Lucida Sans', Tahoma, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 1.3em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
Isso sem contar os muitos casais com filhos frutos de outros relacionamentos. Contudo, está em tramitação no Congresso Nacional o Projeto de Lei 6583/13, conhecido pelo irônico nome de “Estatuto da Família”. O objetivo do Projeto de Lei é retroceder em relação ao reconhecimento do Estado Brasileiro das famílias compostas por duas pessoas do mesmo sexo. O autor da proposta ainda estuda a possibilidade de inserir no texto um artigo que retire dos casais homoafetivos o direito que eles já possuem de adotarem seus filhos.</div>
</div>
</td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;">
<table style="border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; border-style: none; border-width: 0px; margin: auto; width: 100%px;"><tbody>
<tr><td align="left" style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;" width="530"><div style="margin: 0px; padding: 0px;">
<h1 align="left" style="color: #333333; font-family: sans-serif; font-size: 20px; line-height: 1.3em; margin: 0px 0px 10px; padding: 0px;">
A CAMPANHA</h1>
<div align="justify" style="color: teal; font-family: 'Trebuchet MS', 'Lucida Grande', 'Lucida Sans Unicode', 'Lucida Sans', Tahoma, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 1.3em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
O #NossaFamíliaExiste tem como objetivo "mostrar que as famílias homoafetivas existem, são entidades familiares como qualquer outra", descrito no texto-manifesto publicado nas redes sociais. Para isso, utiliza a simbologia do natal e pede para que todos postem nas suas redes uma foto com plaquinhas de reinvidicação ao lado das árvores natalinas e dos familiares.</div>
</div>
</td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div style="clear: both; margin: 0px; padding: 5px 0px;">
<table style="border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; border-style: none; border-width: 0px; margin: auto; width: 100%px;"><tbody>
<tr><td align="left" style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;" width="530"><table align="center" style="border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; border-style: none; border-width: 0px; margin: auto; width: 530px;"><tbody>
<tr><td style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;" valign="top"><div align="center" style="margin: 0px auto 1.1em; padding: 0px; text-align: center;">
<a href="https://go.madmimi.com/redirects/1418755752-7f75713257fbb18ee155d40d9fcfb2a3-7a5cd57?pa=27015632619" style="color: #3693cc;" target="_blank"><img alt="1" class="CToWUd" height="353" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEhrPcQFbBXrRqV2fSCrCYYjnwQG36vDKWsHqajxoh3Oh4cslEWvFkRrRWZv7Zi55HgoZLfzfpyH_CVvclzdU_zkJ7nvviwKuQnRvKk7LzfQmF2DGSoV_btdRgqmWaqiM8o3ac147QCAg9lEm0LoSCpRRwYImtusG6mAV1M0hDPyiGNxzusrp_S0EALSMs7G1I0=s0-d-e1-ft" style="border-width: 0px;" width="530" /></a><br />
<div align="justify" style="clear: both; color: teal; font-family: 'Trebuchet MS', 'Lucida Grande', 'Lucida Sans Unicode', 'Lucida Sans', Tahoma, sans-serif; font-size: 11px; font-style: italic; line-height: 1.5em; margin-bottom: 1.5em; margin-top: 3px; padding: 0px; text-align: justify;">
Clique e saiba mais no Facebook!</div>
</div>
</td></tr>
</tbody></table>
</td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;">
<table style="border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; border-style: none; border-width: 0px; margin: auto; width: 100%px;"><tbody>
<tr><td align="left" style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;" width="530"><div style="margin: 0px; padding: 0px;">
<h1 align="left" style="color: #333333; font-family: sans-serif; font-size: 20px; line-height: 1.3em; margin: 0px 0px 10px; padding: 0px;">
PARTICIPE</h1>
<div align="justify" style="color: teal; font-family: 'Trebuchet MS', 'Lucida Grande', 'Lucida Sans Unicode', 'Lucida Sans', Tahoma, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 1.5em; margin-bottom: 1.3em; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
O convite é para que todos postemos nas redes sociais uma foto de sua família segurando um papel com a Hastag da campanha #NossaFamíliaExiste. Depois de feita a foto é só postar nas redes e usar a hastag da campanha.Também vale postar um breve vídeo de celular de sua família. Vamos mostrar ao congresso nacional que não aceitamos nenhum retrocesso na nossa luta por um país mais justo e igualitário para todos e todas.</div>
</div>
</td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div style="clear: both; margin: 0px; padding: 0px;">
<table style="border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; border-style: none; border-width: 0px; margin: 0px; width: 100%px;"><tbody>
<tr><td align="left" height="1" style="clear: both; font-size: 1px; line-height: 0; margin: 0px; padding: 0px;" width="530"><img alt="1px" class="CToWUd" height="1" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEgBRCSwTxe1CyJt1Y1wi5dplKuUMhyphenhyphenftXu0iZNhNzOsk6JxVw1uoP-AhGALFrL77U30rx_4VFJJu-RzDza5T9O4B3-zXt4nh70NeDzz6-kNAB9h5soB0pyqAAhmcMw6ssJUGoCUye78EQ17uvlU2BI=s0-d-e1-ft" style="border-width: 0px;" width="530" /></td></tr>
</tbody></table>
</div>
</td></tr>
</tbody></table>
</td></tr>
</tbody></table>
</td></tr>
<tr><td style="margin: 0px; padding: 0px;"><table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" style="background-image: none; border-collapse: collapse; border-radius: 0px 0px 4px 4px; border-spacing: 0px; border-style: none; border-width: 0px; margin: 0px; padding: 0px; width: 590px;"><tbody>
<tr><td bgcolor="transparent" style="background-color: transparent; border-radius: 0px 0px 4px 4px; color: #222222; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, Verdana, sans-serif; margin: 0px; padding: 25px 30px 0px;"><table style="border-collapse: collapse; border-spacing: 0px; border-style: none; border-width: 0px; margin: 0px auto; width: 530px;"><tbody>
<tr><td align="center !important" bgcolor="transparent" style="background-color: transparent; display: block !important; float: left; font-family: arial, sans-serif; margin: 0px; max-width: 100%; padding: 0px; text-align: center !important; width: 530px;"><div align="center" style="color: darkslategrey; font-family: sans-serif; font-size: 13px; margin: 0px; padding: 0px;">
©2014 Nossa Família Existe | <a href="mailto:euapoio@casamentociviligualitario.com.br" style="color: #1155cc;" target="_blank">euapoio@<wbr></wbr>casamentociviligualitario.com.<wbr></wbr>br</a></div>
</td></tr>
</tbody></table>
</td></tr>
</tbody></table>
</td></tr>
</tbody></table>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com0Salvador - BA, Brasil-12.9730401 -38.502303999999981-13.2206846 -38.825027499999983 -12.7253956 -38.179580499999979tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-24202614796665543392014-11-10T10:12:00.000-06:002014-11-10T10:12:19.327-06:00Obscenidades para uma dona-de-casa<div style="text-align: justify;">
Precisando de uma chacoalhada? <b>Ignácio de Loyola Brandão</b> te ajuda.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
<i>Três da tarde ainda, ficava ansiosa. Andava para lá, entrava na cozinha, preparava nescafé. Ligava televisão, desligava, abria o livro. Regava a planta já regada, girava a agenda telefônica, à procura de amiga a quem chamar. Apanhava o litro de martíni, desistia, é estranho beber sozinha às três e meia da tarde. Podem achar que você é alcoólatra. Abria gavetas, arrumava calcinhas e sutiãs arrumados. Fiscalizava as meias do marido, nenhuma precisando remendo. Jamais havia meias em mau estado, ela se esquecia que ele é neurótico por meias, ao menor sinal de esgarçamento, joga fora. Nem dá aos empregados do prédio, atira no lixo.<br /><br />Quatro horas, vontade de descer, perguntar se o carteiro chegou, às vezes vem mais cedo. Por que há de vir? Melhor esperar, pode despertar desconfiança. Porteiros sempre se metem na vida dos outros, qualquer situação que não pareça normal, ficam de orelha em pé. Então, ele passará a atenção no que o carteiro está trazendo de especial para a mulher do 91 perguntar tanto, com uma cara lambida. Ah, aquela não me engana! Desistiu. Quanto tempo falta para ele chegar? Ela não gostava de coisas fora do normal, instituiu sua vida dentro de um esquema nunca desobedecido, pautara o cotidiano dentro da rotina sem sobressaltos. Senão, seria muito difícil viver. Cada vez que o trem saía da linha, era um sofrimento, ela mergulhava na depressão. Inconsolável, nem pulseiras e brincos, presentes que o marido trazia, atenuavam.<br /><br />Na fossa, rondava como fera enjaulada, querendo se atirar do nono andar. Que desgraça se armaria. O que não diriam a respeito de sua vida. Iam comentar que foi por um amante. Pelo marido infiel. Encontrariam ligações com alguma mulher, o que provocava nela o maior horror. Não disseram que a desquitada do 56 descia para se encontrar com o manobrista, nos carros da garagem? Apenas por isso não se estatelava alegremente lá embaixo, acabando com tudo.<br /><br />Quase cinco. E se o carteiro atrasar? Meu deus, faltam dez minutos. Quem sabe ela possa descer, dar uma olhadela na vitrine da butique da esquina, voltar como quem não quer nada, ver se a carta já chegou. O que dirá hoje? Os bicos dos teus seios saltam desses mamilos marrons procurando a minha boca enlouquecida. Ficava excitada só em pensar. A cada dia as cartas ficam mais abusadas, entronas, era alguém que escrevia bem, sabia colocar as coisas. Dia sim, dia não, o carteiro trazia o envelope amarelo, com tarja marrom, papel fino, de bom gosto. Discreto, contrastava com as frases. Que loucura, ela jamais imaginara situações assim, será que existiam? Se o marido, algum dia, tivesse proposto um décimo daquilo, teria pulado da cama, vestido a roupa e voltado para casa da mãe. Que era o único lugar para onde poderia voltar, saíra de casa para se casar. Bem, para falar a verdade, não teria voltado. Porque a mãe iria perguntar, ela teria que responder com honestidade. A mãe diria ao pai, para se desabafar. O pai, por sua vez, deixaria escapar no bar da esquina, entre amigos. E homem, sabe-se como é, é aproveitador, não deixa escapar ocasião de humilhar a mulher, desprezar, pisar em cima.<br /><br />As amigas da mãe discutiriam o episódio e a condenariam. Aquelas mulheres tinham caras terríveis. Ligou outra vez a tevê, programa feminino ensinando a fazer cerâmica. Lembrou-se que uma das cartas tinha um postal com cenas da vida etrusca, uma sujeira inominável, o homem de pé atrás da mulher, aquela coisa enorme no meio das pernas dela. Como podia ser tão grande? Rasgou em mil pedaços, pôs fogo em cima do cinzeiro, jogou tudo na privada. O que pensavam que ela era? Por que mandavam tais cartas, cheias de palavras que ela não ousava pensar, preferia não conhecer, quanto mais dizer. Uma vez, o marido tinha dito, resfolegante, no seu ouvido, logo depois de casada, minha linda bocetinha. E ela esfriou completamente, ficou dois meses sem gozar.<br /><br />Nem dizia gozar, usava ter prazer, atingir o orgasmo. Ficou louca da vida no chá de cozinha de uma amiga, as meninas brincando, morriam de rir quando ouviam a palavra orgasmo. Gritavam: como pode uma palavra tão feia para uma coisa tão gostosa? Que grosseria tinha sido aquele chá, a amiga nua no meio da sala, porque tinha perdido no jogo de adivinhação dos presentes. E as outras rindo e comentando tamanhos, posições, jeitos, poses, quantas vezes. Mulher, quando quer, sabe ser pior do que homem. Sim, só que conhecia muitas daquelas amigas, diziam mas não faziam, era tudo da boca para fora. A tua boca engolindo inteiro o meu cacete e o meu creme descendo pela tua garganta, para te lubrificar inteira. Que nojenta foi aquela carta, ela nem acreditava, até encontrou uma palavra engraçada, inominável. Ah, as amigas fingiam, sabia que uma delas era fria, o marido corria como louco atrás de outras, gastava todo o salário nas casas de massagens, em motéis. E aquela carta que ele tinha proposto que se encontrassem uma tarde no motel? Num quarto cheio de espelhos, para que você veja como trepo gostoso em você, enfiando meu pau bem no fundo. Perdeu completamente a vergonha, dizer isso na minha cara, que mulher casada não se sentiria pisada, desgostosa com uma linguagem destas, um desconhecido a julgá-la puta, sem nada a fazer em casa, pronta para sair rumo a motéis de beira de estrada. Para que lado ficam?<br /><br />Vai ver, um dos amigos de meu marido, homem não pode ver mulher, fica excitado e é capaz de trair o amigo apenas por uma trepada. Vejam o que estou dizendo, trepada, como se fosse a coisa mais natural do mundo.<br /><br />Caiu em si raciocinando se não seria alguém a mando do próprio marido, para averiguar se ela era acessível a uma cantada. Meu deus, o que digo? Fico transtornada com estas cartas que chegam religiosamente, é até pecado falar em religião, misturar com um assunto deste, escabroso. E se um dia o marido vier mais cedo para casa, apanhar uma das cartas, querer saber? Qual pode ser a reação de um homem de verdade, que se preze, ao ver que a mulher está recebendo bilhetes de um estranho? Que fala em coxas úmidas como a seiva que sai de você e que eu provoquei com meus beijos e com este pau que você suga furiosamente cada vez que nos encontramos, como ontem à noite, em pleno táxi, nem se importou com o chofer que se masturbava. Sua louca, por que está guardando as cartas no fundo daquela cesta? A cesta foi a firma que mandou num antigo natal, com frutas, vinhos, doces, champanhe. A carta dizia deixo champanhe gelada escorrer nos pêlos da tua bocetinha e tomo em baixo com aquele teu gosto bom. Porcaria, deixar champanhe escorrer pelas partes da gente. Claro, não há mal, sou mulher limpa, de banho diário, dois ou três no calor. Fresquinha, cheia de desodorante, lavanda, colônia. Coisa que sempre gostei foi cheirar bem, estar de banho tomado. Sou mulher limpa. No entanto, me pediu na carta: não se esfregue desse jeito, deixe o cheiro natural, é o teu cheiro que quero sentir, porque ele me deixa louco, pau duro. Repete essa palavra que não uso. Nem pau, nem pinto, cacete, caralho, mandioca, pica, piça, piaba, pincel, pimba, pila, careca, bilola, banana, vara, trouxa, trabuco, traíra, teca, sulapa, sarsarugo, seringa, manjuba.<br /><br />Nenhuma. Expressões baixas. A ele, não se dá nenhuma denominação. Deve ser sentido, não nomeado. Tem gente que adora falar, gritar obscenidades, assim é que se excitam, aposto que procuram nos dicionários, para encontrar o maior número de palavras. Os homens são animais, não sabem curtir o amor gostoso, quieto, tranqüilo, sem gritos, o amor que cai sobre a gente como a lua em noite de junho. Assim eram os versinhos no almanaque que a farmácia deu como brinde, no dia dos namorados. Tirou o disco da Bethânia, comprou um LP só por causa de uma música, Negue. Ouvia até o disco rachar, adorava aquela frase, a boca molhada ainda marcada pelo beijo seu. Boca marcada, corpo manchado com chupadas que deixam marcas pretas na pele. Coisas de amantes. Esse homem da carta deve saber muito. Um atleta sexual. Minha amiga Marjori falou de um artista da televisão. Podia ficar quantas horas quisesse na mulher. Tirava, punha, virava, repunha, revirava, inventava, as mulheres tresloucadas por ele. Onde Marjori achou estas besteiras, ela não conhece ninguém de tevê?<br /><br />Interessa é que a gente assim se diverte. Se bem que se possa divertir, sem precisar se sujeitar a certas coisas. Dessas que a mulher se vê obrigada, para contentar o marido e ele não vá procurar outras. Que diabo, mulher tem que se impor! Que pensam que somos para nos utilizarem? Como se fôssemos aparelhos de barba, com gilete descartável. Um instrumento prático para o dia-a-dia, com hora certa! Como os homens conseguem fazer barba diariamente, na mesma hora? Nunca mudam. Todos os dias raspando, os gestos eternos. É a impressão que tenho quando entro no banheiro e vejo meu marido fazendo a barba. Há quinze anos, ele começa pelo lado direito, o esquerdo, deixa o queixo para o fim, apara o bigode. Rio muito quando olho o bigode. Não posso esquecer um dia que os pelinhos do bigode me rasparam, ele estava com a cabeça entre as minhas pernas, brincando. Vinha subindo, fechei as pernas, não vou deixar fazer porcarias deste tipo. Quem pensa que sou? Os homens experimentam, se a mulher deixa, vão dizer que sou da vida. Puta, dizem puta, mas é palavra que me desagrada. E o bigode faz cócegas, ri, ele achou que eu tinha gostado, quis tentar de novo, tive de ser franca, desagradável. Ele ficou mole, inteirinho, durante mais de duas semanas nada aconteceu. O que é um alívio para a mulher. Quando não acontece é feriado, férias. Por que os homens não tiram férias coletivas? Ia ser tão bom para as mulheres, nenhum incômodo, nada de estar se sujeitando. Na carta de anteontem ele comentava o tamanho de sua língua, que tem ponta afiada e uma velocidade de não sei quantas rotações por segundo. Esse homem tem senso de humor. É importante que uma pessoa brinque, saiba fazer rir. O que ele vai fazer com uma língua a tantas mil rotações? Emprestar ao dentista para obturar dentes? Outra coisa engraçada que a carta falou, só que esta é uma outra carta, chegou no mês passado, num papel azul bonito: queria me ver de meias pretas e ligas. Ridículo, mulher nua de pé no meio do quarto, com meias pretas e ligas. Nem pelada nem vestida. E se eu pedisse a ele que ficasse de meias e ligas? Arranjava uma daquelas ligas antigas, que meu avô usava e deixava o homem pelado com meias. Igual fazer amor de chinelos. Outro dia, estava vendo o programa do Sílvio Santos, no domingo. Acho o domingo muito chato, sem ter o que fazer, as crianças vão patinar, meu marido passa a manhã nos campos de várzeas, depois almoça, cochila, e vai fazer jockeyterapia. Ligo a televisão, porque o programa Sílvio Santos tem quadros muito engraçados. Como o dos casais que respondem perguntas, mostrando que se conhecem. O Sílvio Santos perguntou aos casais se havia alguma coisa que o homem tivesse tentado fazer e a mulher não topou. Dois responderam que elas topavam tudo. Dois disseram que não, que a mulher não aceitava sugestões, nem achava legal novidade. A que não topava era morena, rosto bonito, lábio cheio e dentes brancos, sorridente, tinha cara de quem topava tudo e era exatamente a que não. A mulher franzina, de cabelos escorridos, boca murcha, abriu os olhos desse tamanho e respondeu que não havia nada que ele quisesse que ela não fizesse e a cara dele mostrava que realmente estavam numa boa. Parece que iam sair do programa e se comer.<br /><br />Como se pode ir a público e falar desse jeito, sem constrangimento, com a cara lavada, deixando todo mundo saber como somos, sem nenhum respeito? Há que se ter compostura. Ouvi esta palavra a vida inteira, e por isso levo uma vida decente, não tenho do que me envergonhar, posso me olhar no espelho, sou limpa por dentro e por fora. Talvez por isso me lave tanto, para me igualar, juro que conservo a mesma pureza de menina encantada com a vida. Aliás, a vida não me desiludiu em nada. Tive pequenos aborrecimentos e problemas, nunca grandes desilusões e nenhum fracasso. Posso me considerar realizada, portanto satisfeita, sem invejas, rancores. Sou uma das mulheres que as famílias admiram neste prédio. Uma casa confortável, bem decorada, qualquer uma destas revistas de onde tiro as idéias podia vir aqui e fotografar, não faria vergonha. Nossa, cinco e meia, se não voar, meu marido chega, o carteiro entrega o envelope a ele, vai ser um sururu. Prestem atenção, veja a audácia do sujo, me escrevendo, semana passada. (Disse que faz três meses que recebo as cartas? Se disse, me desculpem, ando transtornada com elas, não sei mais o que fazer de minha vida, penso que numa hora acabo me desquitando, indo embora, não suporto esta casa, o meu marido sempre na casa de massagens e na várzea, esses filhos com patins, skates, enchendo álbuns de figurinhas e comendo como loucos.) Semana passada o maluco me escreveu: Queria te ver no sururu, ia te pôr de pé no meio do salão e enfiar minha pica dura como pedra bem no meio da tua racha melada, te fodendo muito, fazendo você gritar quero mais, quero tudo, quero que todo mundo nesta sala me enterre o cacete.<br /><br />Tive vontade de rasgar tal petulância, um pavor. Sem saber o que fazer, fiquei imobilizada, me deu uma paralisia, procurei imaginar que depois de estar em pé no meio da sala recebendo um homem dentro de mim, na frente de todos, não me sobraria muito na vida. Era me atirar no fogão e ligar o gás. Entrei em pânico quando senti que as pessoas poderiam me aplaudir, gritando bravo, bravo, bis, e sairiam dizendo para todo mundo: “sabe quem fode como ninguém? A rainha das fodas?” Eu. Seria a rainha, miss, me chamariam para todas as festas. Simplesmente para me ver fodendo, não pela amizade, carinho que possam ter por mim, mas porque eu satisfaria os caprichos e as fantasias deles. Situações horrendas, humilhantes, desprezíveis para mulher que tem um bom marido, filhos na escola, uma casa num prédio excelente, dois carros.<br /><br />Apanho a carta, como quem não quer nada, olho distraidamente o destinatário, agora mudou o envelope, enfio no bolso, com naturalidade, e caminho até a rua, me dirijo para os lados do supermercado, trêmula, sem poder andar direito, perna toda molhada. Fico tão ansiosa, deve ser uma doença que me molho toda, o suco desce pelas pernas, tenho medo que escorra pelas canelas e vejam. Preciso voltar, desesperada para ler a carta. O que estará dizendo hoje? Comprei puropurê, tenho dezenas de latas de puropurê. Cada vez que desço para apanhar a carta, vou ao supermercado e apanho uma lata de puropurê. O gesto é automático, nem tenho imaginação de ir para outro lado. Por que não compro ervilhas? Todo mundo adora ervilhas em casa. Se meu marido entrar na despensa e enxergar esse carregamento de puropurê vai querer saber o que significa. E quem é que sabe?<br /><br />É dele mesmo, o meu querido correspondente. Confesso, o meu pavor é me sentir apaixonada por este homem que escreve cruamente. Querer sumir, fugir com ele. Se aparecer não vou agüentar, basta ele tocar este telefone e dizer: “Venha, te espero no supermercado, perto da gôndola do puropurê.” Desço correndo, nem faço as malas, nem deixo bilhete. Vamos embora, levando uma garrafa de champanhe, vamos para as festas que ele conhece. Fico louca, nem sei o que digo, tudo delírio, por favor não prestem atenção, nem liguem, não quero trepar com ninguém, adoro meu marido e o que ele faz é bom, gostoso, vou usar meias pretas e ligas para ele, vai gostar, penso que vai ficar louco, o pau endurecido querendo me penetrar. Corto o envelope com a tesoura, cuidadosamente. Amo estas cartas, necessito, se elas pararem vou morrer. Não consigo ler direito na primeira vez, perco tudo, as letras embaralham, somem, vejo o papel em branco. Ouça só o que ele me diz: Te virar de costas, abrir sua bundinha dura, o buraquinho rosa, cuspir no meu pau e te enfiar de uma vez só para ouvir você gritar. Não é coisa para mulher ler, não é coisa decente que se possa falar a uma mulher como eu. Vou mostrar as cartas ao meu marido, vamos à polícia, descobrir, ele tem de parar, acabo louca, acabo mentecapta, me atiro deste nono andar. Releio para ver se está realmente escrito isso, ou se imaginei. Escrito, com todas as palavras que não gosto: pau, bundinha. Tento outra vez, as palavras estão ali, queimando. Fico deitada, lendo, relendo, inquieta, ansiosa para que a carta desapareça, ela é uma visão, não existe e, no entanto, está em minhas mãos, escrita por alguém que não me considera, me humilha, me arrasa.<br /><br />Agora, escureceu totalmente, não acendo a luz, cochilo um pouco, acordo assustada. E se meu marido chega e me vê com a carta? Dobro, recoloco no envelope. Vou à despensa, jogo a carta na cesta de natal, quero tomar um banho. Hoje é sexta-feira, meu marido chega mais tarde, passa pelo clube para jogar squash. A casa fica tranqüila, peço à empregada que faça omelete, salada, o tempo inteiro é meu. Adoro as segundas, quartas e sextas, ninguém em casa, nunca sei onde estão as crianças, nem me interessa. Porque assim me deito na cama (adolescente, escrevia o meu diário deitada) e posso escrever outra carta. Colocando amanhã, ela me será entregue segunda. O carteiro das cinco traz. Começo a ficar ansiosa de manhã, esperando o momento dele chegar e imaginando o que vai ser de minha vida se parar de receber estas cartas.</i></div>
</blockquote>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com0Salvador - BA, República Federativa do Brasil-12.9722286 -38.501420100000018-13.2198731 -38.824143600000021 -12.7245841 -38.178696600000016tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-71003055002216100762014-10-22T10:54:00.001-06:002014-10-22T10:54:05.361-06:00Desabafo de um ex funcionário da Prefeitura de Salvador<div style="text-align: justify;">
Ele foi meu colega na empresa de tecnologia da Prefeitura de Salvador. No pouco tempo em que trabalhei lá, presenciei os maiores absurdos, típicos de uma empresa aparelhada, cujos chefes eram indicados politicamente. Antônio Imbassahy era o prefeito. Já desligado da administração municipal, tempos depois, com a prefeitura administrada por João Henrique, eu vi a chefe de um dos departamentos da empresa municipal de tecnologia no rio vermelho com a camisa do PT, "comemorando" a reeleição de Lula. Surpreendido com o que vi, respirei aliviado por não pertencer mais ao quadro daquela empresa.<br />
<br />
Mas meu colega persistiu, ficando na empresa por doze anos. E tentou executar projetos em prol da população. Sem êxito. Recentemente, uma nova oportunidade de trabalho apareceu-lhe. De imediato, pediu desligamento e enviou uma mesagem a todos os colegas, a qual transcrevo a seguir com o consentimento dele. Para além de uma crítica à política municipal, a mensagem de meu colega apresenta uma reflexão ao que já figura como aspecto da cultura baiana.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
_________________________________________________________</div>
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Amigos,</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Primeiro lugar um excelente dia e um desejo de um futuro brilhante para todos.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Peço
desculpas pela maneira abrupta como estou avisando da minha saída da
empresa, mas foi assim que as circunstancias determinaram: fui convocado
abruptamente para tomar decisões importantes e entre elas seguir um
novo caminho.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Queria agradecer a todos vocês,
mais próximos ou menos próximos, que consciente ou inconscientemente me
concederam uma oportunidade ímpar de aprendizado intelectual, humano e
espiritual na Prefeitura do Salvador. Tenho muito a agradecer pelo que
desenvolvi, não pelo conhecimento técnico (esse que é passageiro e
devorado pelas constantes mudanças tecnológicas) mas, pelo conhecimento
que obtive das organizações, das pessoas, dos nossos comportamentos,
nossos defeitos-erros e nossas virtudes. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Carrego, como a maioria daqueles que já trabalharam na iniciativa privada, a frustração de não poder ter servido ao público-cidadão com projetos que poderiam tornar nossa cidade lugar melhor de se viver. Sinto pela crônica resistência da Prefeitura de Salvador em não ter
a sua própria Infovia, a Cidade Digital, que traria inestimáveis
benefícios às empresas, à prefeitura e à cidade. Desde 2006, o assunto
é de conhecimento de todos (empregados, gestores e políticos). Eu
fiz várias investidas externas e sei que existe uma
"resistência" que priva a cidade de um feito, que ao contrário do que se
pensa, traria grandes dividendos políticos, econômicos e sociais muito
mais vantajosos do qualquer outro arranjo político que se conceba.
Pode parecer arrogante ou ilusório, mas essa é a minha visão após 08 anos
de observação (permitam-me evocar John Lennon mas I'M A DREAMER com
muito orgulho).</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>É estranho ver
uma terra que tem a vocação natural para inovar e brilhar, o lugar onde
foi inventada a Guitarra Elétrica, que teve o primeiro Centro Espírita
do Brasil, onde foi descoberto o primeira fonte de Petróleo do país,
onde o mestre da <span style="font-size: small;">Anísio Teixeira teve a
inspiração para propor a Revolução do Ensino, que já teve marca própria
de Refrigerante e Chocolate, é muito frustrante ver a terceira
capital do país apequenar-se a tal ponto de se orgulhar apenas do seu
"carnaval", seu "acarajé", seu "pelourinho" e da sua dupla "ba x vi". </span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Mas
o que dizer de uma cidade que no início do século 20 usava bonde como
transporte principal, mas em pleno século 21 ainda não concluiu o seu
metrô porque o poder político privilegiou o cronograma de interesses
privados concorrentes dos trilhos?</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>O que eu
tenho a dizer à classe política de Salvador é que um projeto político
vitorioso tem que adotar pelo menos um projeto de repercussão social
para fazer história. Podem falar o que quiser do atual Governo Federal,
mas ele adotou vários projetos de alcance e um deles é que sustenta a
vitória do partido ao longo dos últimos 12 anos. Simples assim, ou se
privilegia o financiamento de campanha e seus interesses particulares ou
se faz história através de transformações na vida das pessoas. O poder
público de Salvador ao deixar de fazer o planejamento da cidade e
terceirizá-lo à iniciativa privada (como fez ao extinguir seus órgãos
pensantes e a escantear funcionários de carreira) corre o risco de
permanecer por longo tempo uma cidade provinciana e só viver da sua fama
de cidade da "festa". </i><br />
<br />
<i>(...) </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Estou por aí, mas ligados a vocês pelo coração e pela Internet!</i></div>
<div>
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com0Salvador - BA, República Federativa do Brasil-12.9722286 -38.501420100000018-13.2198731 -38.824143600000021 -12.7245841 -38.178696600000016tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-76182148120371644992014-10-18T13:06:00.000-06:002014-10-18T13:14:30.353-06:00A crueldade da opressão feminina em Navalha na Carne<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/EpUvDThZJeQ?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">Primeira adaptação de Navalha na Carne, em 1969</span></div>
<div align="RIGHT" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="RIGHT" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Carlos
Henrique Nunes Costa</div>
<div align="RIGHT" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
É no quarto de um hotel barato que se reúnem as três únicas
personagens da peça <i>Navalha na Carne</i>, de Plínio Marcos. Em meio a
cinco mobílias gastas, a prostituta Neusa Sueli, o cafetão Vado e o
homossexual Veludo desvelam uma ruidosa dinâmica de opressão, ora
no papel de vítimas, ora no papel de algozes. A realidade é
apresentada <i>in natura </i>e, por
isso mesmo, dota as personagens de grande complexidade. Elas são
genuínas feras lutando com seu instinto pela sobrevivência.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
Logo nos primeiros diálogos, torna-se evidente a violência presente
na relação entre Neusa Sueli e Vado. O tratamento ríspido do
cafetão para com a prostituta, não recíproco, levanta suspeita
sobre a hierarquia dessa relação e suas consequências. A entrada
em cena de Veludo modifica o enlace do casal, reconfigurando as teias
de poder existentes, embora ainda sejam a reprodução da opressão
social a que estão submetidos.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
O texto não encerra uma postura moral; pelo contrário, a moral
passa ao largo de toda a trama da peça. Plínio Marcos não valora a
situação; ele apenas a apresenta. Assim como sua primeira obra,
<i>Barrela</i>, <i>Navalha na Carne</i> apresenta-se como interlocutora de um
extrato social invisibilizado no teatro brasileiro daquele período.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
Plínio Marcos estreou como dramaturgo em 1959, em Santos, sua cidade
natal. Começou a carreira escrevendo peças que retratavam a vida de
páreas sociais. O universo de prostitutas, cafetões, loucos,
homossexuais, bandidos, marginais vinham à tona através de suas
obras. Ao contrário dos dramaturgos da época, que, engajados
politicamente contra a Ditadura Militar, alçavam ao estado de herói
o proletariado brasileiro, Plínio deu vazão a personagens sem
interesse político, sem qualquer propósito revolucionário. Ainda
assim, foi visto como uma ameaça ao regime e teve diversas obras
censuradas.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
Vieira (1994) divide a dramaturgia de Plínio Marcos em três fases: anos
1960 e 1970, cujas peças escritas contêm a maior parte das
personagens marginais e desvalidas; 1970 a 1976, período em que se
dedicou a musicais; e 1978 a 1988, fase dos textos míticos. Mas foi
a primeira fase do autor que o levou, mais tarde, ao reconhecimento,
sendo tido como um dos grandes nomes do <a href="http://www.spescoladeteatro.org.br/noticias/ver.php?id=1432">Teatro da Crueldade</a>, em sua pretensa vertente brasileira.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
O teatro da primeira fase de Plínio
Marcos caracteriza-se por personagens autênticos, movidos por seus
sentimentos. Estando o rancor, o ressentimento, o ódio presentes na
dinâmica social desses indivíduos, a violência acaba por se tornar
o fio condutor do enredo. Os conflitos são mostrados de imediato,
mesmo sem antes delinear o perfil de cada personagem. Os diálogos
são providos de um vigor que desnuda com crueza a situação
(VIEIRA, 1994).</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
No Teatro da Crueldade, movimentos, gestos, emoções se expandem; o
teatro adquire outra expressividade que não a das palavras. De mera
distração, torna-se um meio de questionamento do homem, um olhar
voltado para o seu interior (ARTAUD, 2006). E, apesar de não emitir
juízo de valor em seus textos, pois suas personagens nada conhecem
de moral, as escolhas de Plínio Marcos deixam clara a ideologia que
legitima a exclusão social.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
Segundo Souza (2009), a ideologia meritocrática vigente, embasada
nas premissas democráticas-capitalistas de igualdade e liberdade dos
indivíduos, invisibiliza a classe social. Sob o pretexto de
igualdade de oportunidades, justificam-se as desigualdades,
culpabilizando os oprimidos por sua posição social – vítimas de
si mesmos. Essa ideia está incrustada no senso comum de tal forma
que os indivíduos marginalizados reproduzem, sem se dar conta, a
própria precariedade. Eles acabam por reproduzir em seu meio os
esquemas do poder dominante.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
Essa condição está presente acintosamente nas obras da primeira
fase de Plínio Marcos. Em Navalha na Carne, é percebida ao longo da
trama, através do jogo de submissão ao qual cada personagem impõe
à outra. A humilhação física e psicológica é uma arma constante
para estar no centro do poder. A relação entre eles é tão
conflituosa que se torna premente indagar o porquê de Neusa Sueli
continuar com Vado, em que se sustenta tal dependência, se existe
afeto.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
Neusa Sueli sustenta Vado, que diz ser este o motivo de continuar na
relação. Portanto, a relação de poder não é, necessariamente,
econômica; não para essa classe social. Neusa demonstra não querer
perder seu cafetão e não o desmente quando este afirma que “Mulher
que quer se bacanear com cara linha de frente como eu tem que se
virar certinho”. A dependência é, então, pautada na imagem que
Vado traz para Neusa. Ainda que submissa a ele, fora daquele quarto
de hotel ela ocuparia uma posição perante as demais colegas de
profissão que sozinha não conseguiria manter.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
Em determinado momento da peça, Neusa Sueli diz-se cansada da vida
que leva. Reclama do comportamento de Vado diante de seu esforço
para ganhar a vida. “Duvido que gente de verdade viva assim, um
aporrinhando o outro, um se servindo do outro”. Mas, parada na
porta do quarto após a saída de Vado, pergunta-lhe, como quem pede,
se ele vai voltar. É a inércia frente àquela situação. As
personagens não são dotadas de senso político.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
Neusa Sueli está distante de representar um modelo de mulher
feminista. Ela almeja uma vida como a de todo mundo, inclusive no
amor. Mas essa é uma fantasia que nunca será realizada.
Ironicamente, ela está “presa” à Vado, seu antagonista,
justamente o oposto do amor sonhado. É, portanto, retratada como uma
mulher fraca.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLxX_9RfW0l1s5Rcq29SCUdzXCJmIglTmq2jdy_Ah-GxxwUI8qSvD74_otGTujbxkDXpvH61CR7cTHKCsasYwhJMzLgFzp5iO11M5w7FabsV4FWtSZQgaK0j7ywOISt98wqhmY1I3UI2w/s1600/vera.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLxX_9RfW0l1s5Rcq29SCUdzXCJmIglTmq2jdy_Ah-GxxwUI8qSvD74_otGTujbxkDXpvH61CR7cTHKCsasYwhJMzLgFzp5iO11M5w7FabsV4FWtSZQgaK0j7ywOISt98wqhmY1I3UI2w/s1600/vera.jpg" height="320" width="213" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-small;">Vera Fishcer como Neusa Sueli na segunda adaptação para o cinema.</span></div>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
<br />
A ideia de opressão feminina é
também reforçada pela personagem do homossexual Veludo. Durante a
briga para forçar uma confissão do roubo do dinheiro que Neusa
havia deixado para Vado, a prostituta agride o homossexual,
arranhando seu rosto. Nesse momento, Veludo ameaça Neusa e diz a
Vado que pode enfrentá-la de igual para igual, pois ela é mulher.
Soma-se a isso o fato de Veludo ter roubado o dinheiro para sair com
um rapaz. Decerto, Veludo também precisa pagar para ter companhia.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
Na dramaturgia pliniana, homossexuais e mulheres são elos igualmente
fracos, pois dotados de um devir feminino. Embora faça parte de uma
classe excluída, o cafetão exerce o papel de dominante. O homem
heterossexual e viril subjuga o feminino. Retrata-se, dessa forma,
uma hierarquia de gênero não inventada por aquelas personagens, mas
ainda assim desempenhada por eles com veemência. Sem perceber, eles
reproduzem a teia social do poder dominante que os imobiliza na
exclusão. E, convivendo diariamente com essa realidade, passam a
aceitá-la e a servir-se dela.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-indent: 2cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 2.51cm; orphans: 0; page-break-before: auto; widows: 0;">
“<i>Qual o sentido de autoconfiança que é possível para esses
seres humanos que só aprenderam a usar e serem usados? Que tipo de
relação consigo mesmos? Que tipo de relação com os 'outros'?”</i>
(SOUZA, 2009, 48)</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<b>Referências</b></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.35cm; margin-bottom: 0cm;">
ARTAUD, Antonin. <b>O teatro e seu duplo</b>. Tradução: Teixeira
Coelho. São Paulo: Martins Fontes, 2006.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.35cm; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.35cm; margin-bottom: 0cm;">
MARCOS, Plínio. <u>Navalha na Carne</u>. In: ZANOTTO, Ilka Marinho.
<b>Plínio Marcos: melhor teatro.</b> São Paulo: Global, 2003.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.35cm; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.35cm; margin-bottom: 0cm;">
SOUZA, Jessé. <b>A ralé brasileira: quem é e como vive</b>. Belo
Horizonte: UFMG, 2009.</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.35cm; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.35cm; margin-bottom: 0cm;">
VIEIRA, Paulo. <b>Plínio Marcos, a flor e o mal.</b> São Paulo:
Firmo, 1994.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com0Salvador - BA, República Federativa do Brasil-12.9722286 -38.501420100000018-13.2198731 -38.824143600000021 -12.7245841 -38.178696600000016tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-26226998109517832652014-03-15T17:25:00.000-06:002014-03-15T17:25:16.823-06:00Um encontro com a arte contemporânea<div class="separator" style="clear: both; text-align: right;">
<i>por Carlos Henrique Costa</i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnLsw20XKVcLJC2HNezzrfF3yf38i2hLg0JtzITM1nm1GlSuMR8KS44fojpxf3JvRyR0D9kw8CM1BcOEpM1KzYIUL3qG3GeT7fc-gxhbqD2QInuQWp_-pbPuB8Z1q8be14GBZQLrk5TrI/s1600/paulo1.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnLsw20XKVcLJC2HNezzrfF3yf38i2hLg0JtzITM1nm1GlSuMR8KS44fojpxf3JvRyR0D9kw8CM1BcOEpM1KzYIUL3qG3GeT7fc-gxhbqD2QInuQWp_-pbPuB8Z1q8be14GBZQLrk5TrI/s1600/paulo1.JPG" height="240" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A tarefa de um galerista de arte é árdua. Leva tempo para que se ganhe a confiança e a notoriedade no mercado local. Com a formação de uma clientela, então se torna possível alçar voos mais altos e conquistar, também, os mercados nacional e internacional. Paulo Darzé é um exemplo vivo de experiência de sucesso num mercado tido como instável e com público oscilante. Com 31 anos no mercado de arte, começou com uma pequena galeria no Salvador Praia Hotel, no bairro de Ondina, em 1983, em sociedade com um amigo. Depois, decidiu seguir sozinho e mudou-se para a Graça, onde, desde 2003, ocupa um espaçoso galpão no Corredor da Vitória.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Paulo Darzé não esconde as dificuldades que enfrentou e ainda enfrenta para comercializar obras de arte contemporânea. De fato, a arte contemporânea passa por uma grande resistência do público frente às obras produzidas. O senso de estética da arte moderna, iniciado em meados do século XIX, ainda influencia o olhar do público. Naquela época, os movimentos nasciam com o lançamento de manifestos, os quais funcionavam como manuais para a crítica e para o público. Toda a intenção por trás dos movimentos orientava o olhar dos especialistas da arte e, consequentemente, do público. Este pensamento perdura e afasta o público acostumado a vangloriar o antigo, uma arte que se pretendia clássica, longeva, atemporal. Ao contrário disso, a arte contemporânea manisfesta-se no momento que o público a observa; seu 'sentido' é construído durante a fruição. O observador complementa a obra de arte, passa a ser parte de sua produção, não tendo mais um papel passivo. E isso causa incertezas, estranhamentos. Esse cenário exige maior esforço por parte do galerista, que passa a desempenhar também a função de marchand. Ele é responsável pela organização de exposições, apresentando novos artistas ou os novos trabalhos de artistas já consagrados.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2m6tQ2vfXTZQEuo03aAj3ouOda9rGYrOJnt9piUqwn_FcwGtuVcb4s782GczE5-m_e8F63XvSpt74OBzt-eD_l9WJD-FoEgcZEiw-HCM3qC1j_0WCEh8qU3tGZjEEWvwCU4jw3knZPsQ/s1600/paulo2.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2m6tQ2vfXTZQEuo03aAj3ouOda9rGYrOJnt9piUqwn_FcwGtuVcb4s782GczE5-m_e8F63XvSpt74OBzt-eD_l9WJD-FoEgcZEiw-HCM3qC1j_0WCEh8qU3tGZjEEWvwCU4jw3knZPsQ/s1600/paulo2.JPG" height="240" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na opinião de Paulo Darzé, o baiano, ainda impregnado de um senso estético barroco, tem um olhar conservador sobre as obras de arte contemporânea. Por isso, as galerias passaram a exercer a função de impulsionar o cenário artístico local. Por meio de exposições, apresentam ao público artistas reconhecidos no eixo Rio-São Paulo, contribuindo para “abrir o olho da produção local”. Pela galeria, situada no Corredor da Vitória, já passou, por exemplo, Antônio José de Barros de Carvalho e Mello Mourão, mais conhecido como Tunga, notável artista contemporâneo nacional. Nascido na pequena cidade de Palmares, interior de Pernambuco, vive hoje no Rio de Janeiro, mas já tem carreira internacional – suas provocadoras instalações alcançaram salões em Nova Iorque, em Chicago, em Paris e em Amsterdã. Hoje, é citado por Darzé como um dos artistas cuja exposição mais ajudou na consolidação da sua galeria no mercado de arte.</div>
<br />
<iframe align="center" allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/yqFbfP_7tLg" width="560"></iframe>
<br />
<br />
Paulo Darzé Galeria de Arte<br />
Rua Dr. Chysippo de Aguiar, 8 – Corredor da Vitória<br />
Tel.: (71) 3267-0930<br />
Horário de Funcionamento: segunda à sexta, das 9h às 19h; e sábado, das 9h às 13h.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com0Salvador - BA, Brasil-12.9722286 -38.501420100000018-13.2198731 -38.824143600000021 -12.7245841 -38.178696600000016tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-176294787716745262014-02-28T12:30:00.001-06:002014-02-28T12:30:40.848-06:00"Sobre o fanatismo"<div style="text-align: justify;">
Este post é, antes de tudo, mais uma dica de blog, um dos tantos que acompanho. O nome do blog é "<a href="http://artedofim.blogspot.com.br/">O Fim</a>" e seu autor, da cidade de Santiago, no Rio Grande do Sul, é um jovem poeta, de estrofes breves e fortes. O último poema compartilhado, chamado "Sobre o Fanatismo", motivou-me a divulgar seu trabalho no meu blog. Além deste, existem tantos outros poemas dignos de destaque. A seguir, transcrevo-o.</div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<blockquote class="tr_bq">
<a href="http://artedofim.blogspot.com.br/2014/02/sobre-o-fanatismo.html">Sobre o Fanatismo</a></blockquote>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<b>I</b><br /><br />fanatismo<br />é observar um galho<br />julgando ser a árvore<br />e querer que o galho<br />seja a árvore<br />em definitivo<br /><br /><b>II</b><br /><br />todo homem se suicida:<br />seja em corpo ou mente<br />em psique ou alma<br />de tal ou qual forma<br />em maior ou menor grau<br />em tormento ou na paz...<br /><br />fanatismo<br />é suicidar-se<br />jurando a todos e a si<br />que não o faz<br /><br /><b>III</b><br /><br />fanático<br />é quem quer fazer<br />com que o seu eu<br />se torne o meu</blockquote>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com0Salvador - BA, Brasil-12.9722286 -38.501420100000018-13.2198731 -38.824143600000021 -12.7245841 -38.178696600000016tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-84976311291455136262014-02-17T07:32:00.000-06:002014-02-17T07:32:08.639-06:00O dia de Ellen Page<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<object width="320" height="266" class="BLOGGER-youtube-video" classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=6,0,40,0" data-thumbnail-src="https://ytimg.googleusercontent.com/vi/ab7Q_1vBvtY/0.jpg"><param name="movie" value="https://youtube.googleapis.com/v/ab7Q_1vBvtY&source=uds" /><param name="bgcolor" value="#FFFFFF" /><param name="allowFullScreen" value="true" /><embed width="320" height="266" src="https://youtube.googleapis.com/v/ab7Q_1vBvtY&source=uds" type="application/x-shockwave-flash" allowfullscreen="true"></embed></object></div>
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com0Salvador - BA, Brasil-12.9722286 -38.501420100000018-13.2198731 -38.824143600000021 -12.7245841 -38.178696600000016tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-39154720453724887592014-02-04T16:11:00.002-06:002014-02-04T16:11:34.027-06:00Nós, os "homines sedens"<div class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
Na edição número 185 da Revista Cult, Márcia Tiburi faz uma sucinta resenha, transcrita adiante, sobre o livro "O pensamento sentado", de autoria de Norval Baitello Junior, professor da PUC de São Paulo. De imediato, interessei-me pela temática e incluí a publicação na minha "lista de desejo". Ao ler a resenha, notei que o sentar está mesmo culturalmente enraizado no ambiente de trabalho capitalista -- vide as experiências profissionais que tive ao longo da vida, inclusive a atual.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um dia, no sanitário da empresa, um colega de setor me abordou, dizendo estar me procurando há algum tempo, mas que nunca me encontrava no lugar. Embora tenha sido um exagero de sua parte tal afirmação, eu realmente não costumo ficar todo o tempo sentado em minha posição, que chamo de vez em quando, em tom jocoso, de estábulo. Não por ser inquieto, mas por considerar bons hábitos, também profissionais, a relação pessoal e os intervalos de descanso. Há quem prefira permanecer em sua estação de trabalho por longas horas, levantando-se apenas para o (considerado, no senso comum organizacional) estritamente necessário. No entanto, esse não é perfil de todos, e não pode ser tido como um padrão a ser seguido.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A disciplina laboral que aprendi como correta ao longo desses anos é: permanecer no nicho de trabalho durante todo o tempo, independente da atividade que esteja desempenhando e do tempo necessário para cumpri-la, se definido. Não ter essa conduta gera fofoca dos colegas e críticas por parte das chefias mais conservadoras. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em outro extremo, o ócio pode ser tolerado se você não demonstrá-lo por completo, ou seja, ficando sentado em frente ao seu microcomputador. Pode-se navegar na internet, ler artigos etc. Mas a leitura deve ser via tela LCD. Abrir um livro de romance, arte, filosofia, qualquer um cuja temática fuja à sua (aparente) especialização, incomoda ainda mais.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
É claro que este é apenas um exemplo, algo a que o tema me remeteu de imediato. Recomendo a leitura da resenha e, apesar de ainda não ter lido o livro, considero o tema bastante interessante. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPt4F_7zNI_QNiozEqTpWOxQ56ft6gIYr2-2RCdnWAU2vQV_f7KvUH__J2OQD0J-1F7SfU-IMPkpdaIFC7tNrEN3ORZdT2wLp0Z3h_GHPosI_H7Kpyb5qQJKuiOP2SdSgNLNuNOXjkyRM/s1600/homo+sedens.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPt4F_7zNI_QNiozEqTpWOxQ56ft6gIYr2-2RCdnWAU2vQV_f7KvUH__J2OQD0J-1F7SfU-IMPkpdaIFC7tNrEN3ORZdT2wLp0Z3h_GHPosI_H7Kpyb5qQJKuiOP2SdSgNLNuNOXjkyRM/s1600/homo+sedens.jpeg" height="132" width="320" /></a></div>
</div>
<blockquote>
<div style="text-align: center;">
<a href="http://revistacult.uol.com.br/home/2013/11/homo-sedens/">Homo Sedens</a></div>
<div style="text-align: right;">
</div>
</blockquote>
<blockquote>
<div style="text-align: right;">
Marcia Tiburi</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
</blockquote>
<blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Tratar o ato de sentar como uma questão culturalmente relevante pode soar como mera brincadeira. Quem, começando a levá-la a sério, se perguntar “quanto tempo de nossas vidas passamos sentados?” ou “quantas cadeiras há no mundo?”, por mais que consiga respostas estatisticamente impressionantes, não terá, contudo, atingido o cerne da questão inusitada que nos faz pensar nas formas assumidas pelo sedentarismo como caráter da cultura. Na contramão do nomadismo, o sedentarismo faz parte da história de nossa civilização. Mais do que parte da história, é uma postura que caracteriza nosso tempo presente. A maior parte de nossos gestos corporais acaba no assento; passamos muitas horas do dia sentados, tudo, em nossas vidas, convida-nos a sentar. Mas esse convite agradável ao descanso tem significados mais complexos: sentamos em casa, na rua, nas escolas, sentamo-nos diante de máquinas; sobretudo, hoje em dia, sentamo-nos diante de telas.</div>
</blockquote>
<blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Norval Baitello Junior, professor da PUC de São Paulo, escreveu, em seu livro O pensamento sentado (Unisinos, 2012), sobre o lugar do “assento” em uma cultura sedentária. Sua crítica vai na direção de um pensamento sentado que, para ele, seria o pensamento acomodado. Recuperando a expressão alemã usada por Nietzsche para falar da “vida sedentária” – Sitzfleisch – ele explora a tradução por “carne de assento” que, literalmente, leva à usual “bunda”. Bunda tem um vasto alcance no Brasil. Mesmo que soe deselegante, não seria um erro considerar a atualidade de um “pensamento-bunda”, aquele pensamento cansado que, no extremo, expressa o que entendemos no cotidiano, no âmbito da irresponsabilidade do “bundão”.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
</blockquote>
<blockquote>
<div style="text-align: justify;">
O caráter “assentado” é o da “discursividade previsível e acomodada”, a que reduz o ato de pensar em nossa época, contra sua natureza mais íntima. O “decréscimo da mobilidade” do corpo é, segundo ele, também do pensar, cuja imprevisibilidade e capacidade de surpreender estariam em baixa. Conhecemos essa acomodação, sabemos que ela é necessária ao poder, ao sistema econômico e político, que esperam corpos dóceis e mentes paradas, repetindo acomodadamente mais do mesmo que mantém tudo no mesmo lugar: sentado. </div>
</blockquote>
<blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Pensar na reflexão aos saltos do livro de Baitello é uma atitude dinâmica, como seria o movimento de nosso corpo, inquieto e propenso a caminhar, pular, correr e saltar. A capacidade humana, que está ligada a todo o nosso processo de aprendizagem em relação à vida, de explorar o entorno, é diminuída quando tudo se reduz a “assento”. O primata que somos se ressente de não poder mover-se.</div>
</blockquote>
<blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<b>Regra da cultura</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Baitello nos lembra que sentar e sedar têm a mesma origem etimológica: sedere. Assim, comentando que somos “Homo sedens”, a atrofia dos músculos e dos movimentos surge como uma espécie de regra da cultura. Quando observamos o nosso dia a dia, sentados por todos os lados, diante de computadores, da televisão, dentro de carros, temos certeza que a mobilidade corporal que nos caracterizaria, e que ainda se coloca como nossa potência, cede lugar à estranha mobilidade incorporal da máquina. As máquinas se movem em nosso lugar, tornamo-nos imóveis: esperamos sentados a máquina que nos substitui. De certo modo, participamos passivamente de um “devir” imóvel, que não nos leva a lugar nenhum, senão àquele onde já fomos previamente postos.</div>
</blockquote>
<blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Por fim, forçados a sentar, vivendo o elogio da disciplina, resistimos enquanto seres sentados em nome de um esforço. Valorizamos aquele que consegue aguentar a sala de aula, a cadeira no trabalho burocrático.</div>
</blockquote>
<blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Somos, por fim, vítimas do que Baitello apontou como uma “conjunção perversa”, em que o sedentarismo de nossos corpos alia-se à hiperatividade visual. Anestesiados diante das máquinas, vivemos na direção contrária de nossa própria capacidade nômade.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
</blockquote>
<blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Talvez fugir desse mundo seja um desejo soterrado por cadeiras numa avalanche mole ao qual nosso corpo se adequa por ter medo de seus próprias potências. Bom lembrar que fugir é sempre um direito.</div>
</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com0Salvador - BA, Brasil-12.9722286 -38.501420100000018-13.2198731 -38.824143600000021 -12.7245841 -38.178696600000016tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-82302751860136713952014-01-16T13:05:00.003-06:002014-01-16T13:05:23.104-06:00The gay men projectSeguindo a tendência de diversos trabalhos de abordar o cotidiano de pessoas em metrópoles -- existem páginas no Facebook que captam um momento na vida de cidadãos de NY, Paris, SP etc. --, o corpo feminino descolonizado (<a href="http://www.thenuproject.com/%E2%80%8E">The Nu Project</a>), entre outros, o fotógrafo novaiorquino Kevin Truong criou o The Gay Men Project. Como o próprio nome sugere, trata-se de um catálogo visual mostrando a vida de "homens gays" ao redor do mundo. O diferencial em relação aos outros trabalhos que conheço do mesmo tipo é que todos podem participar enviando sua história. O projeto segue sem depender exclusivamente do fotógrafo para registrar o cotidiano dos gays, o que pode render muito tempo de vida e muitas histórias interessantes.<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWGYxxtmQAhRHey6VSveCNoHNYvwvEvrDw0E-8e8IGBhHHtAf1f4EsSfigMPX5XBjTWmn3ry248KUwWeGu_5fEcR435X8MR0R51-hhZqwcvEACwSK4z4yvld3438VGGhyphenhyphenujWbob9IzFus/s1600/flavio_14.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWGYxxtmQAhRHey6VSveCNoHNYvwvEvrDw0E-8e8IGBhHHtAf1f4EsSfigMPX5XBjTWmn3ry248KUwWeGu_5fEcR435X8MR0R51-hhZqwcvEACwSK4z4yvld3438VGGhyphenhyphenujWbob9IzFus/s1600/flavio_14.jpg" height="232" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto enviada por Flávio, de São Paulo</td></tr>
</tbody></table>
<br />
Com a palavra, o idealizador do projeto (em inglês):<br />
<blockquote class="tr_bq">
<br />
<div style="text-align: justify;">
“<i>This project is simple. Basically I’m trying to photograph as many gay men as I can. My goal is to create a platform, a visibility on some level, and a resource for others who may not be as openly gay. A visual catalog of gay men and their stories. When I think of my own experience, and all the time I spent in the closet and hiding the fact that I was gay–to be at a place now where I feel completely comfortable being on the blog and telling the world “Hey, I’m a gay man,” I think there’s a power in that, for me and for a lot of the men on the blog. So it’s kind of a numbers game, I think the more men I photograph, the more impact the project has.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>My dream is to take the project to as many different cities as I can across the world.</i>”</div>
</blockquote>
<div style="text-align: right;">
<blockquote class="tr_bq">
Kevin Truong </blockquote>
</div>
<br />
Acompanhe os relatos no site <a href="http://thegaymenproject.com/"><cite class="vurls"><b>thegaymenproject</b>.com/</cite></a>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com0Salvador - BA, Brasil-12.9722286 -38.501420100000018-13.2198731 -38.824143600000021 -12.7245841 -38.178696600000016tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-75852480420340235012013-12-01T12:02:00.000-06:002013-12-01T12:07:18.270-06:00Areia e Tempo na Narrativa de uma Vida [4/4]<a href="http://impressoessobreaestrada.blogspot.com.br/2013/11/areia-e-tempo-na-narrativa-de-uma-vida_26.html">Ler a parte 3/4</a><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Áurea e D. Maria travam constantes batalhas contra o destino, provável culpado por ter lhes aprisionado num local ermo e inóspito. Áurea explicita sua insatisfação a Vasco algumas vezes, seja por diálogo seja por comportamento arredio. Durante o pouco tempo de estadia do esposo no areal, a jovem grávida ocupa o papel então dedicado a mulheres daquela época. Ela precisa obedecer ao marido. D. Maria, mais serena, vê-se motivada a seguir o desejo da filha quando Vasco começa a ter ímpetos violentos. Ela passa a se preocupar com o futuro ao lado de um homem descontrolado. Ambas as mulheres iniciam a busca por uma rota de fuga.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Conflito de gerações</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Várias tentativas de fuga são frustradas por infortúnios. Primeiro, D. Maria suborna um dos membros da caravana a levá-las dali. No dia seguinte ao acordo, o grupo foge, deixando ela, a filha e Vasco sozinhos. Após a morte do patriarca, o desejo aumenta ainda mais. Elas veem-se completamete isoladas, dependentes da ajuda dos nativos da aldeia quilombola. Apesar de novas tentativas de fuga serem feitas, elas passam gradativamente a assumir o controle de suas próprias vidas. Elas não precisavam mais viver à sombra de um homem. A personalidade das duas mulheres vão se distanciando. D. Maria passa a aceitar a nova vida, enquanto na jovem Áurea o sentimento de não pertencimento cresce cada vez mais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A gravidez de Áurea avança de estágio e elas se encontram impedidas de prosseguir com as tentativas de fuga. Após o nascimento da filha Maria, a ansiedade volta a tomar conta de Áurea. Maria cresce vendo a insatisfação da mãe com a vida daquele local. Aos poucos, esta passa a ser também a sua insatisfação. Ela, então, cresce com o mesmo desejo de não pertencimento, mesmo sem ter conhecido a vida na cidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgP5-IT1bTg8tAPAfVyhAFTzW5hCCH01ciCtWuuXT7v55xFaGkPJiXhTZQg9kP7X1RnLwdM-vfgtpTf-Gi-EXX4rWcWX-4sm7kJajk1xRXbu_ypTxO1uJ5H-CKVQACxA0BZGXgCi-9tV3Y/s1600/02.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="170" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgP5-IT1bTg8tAPAfVyhAFTzW5hCCH01ciCtWuuXT7v55xFaGkPJiXhTZQg9kP7X1RnLwdM-vfgtpTf-Gi-EXX4rWcWX-4sm7kJajk1xRXbu_ypTxO1uJ5H-CKVQACxA0BZGXgCi-9tV3Y/s400/02.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma discussão ocorrida aos 45min 07seg ilustra a desavença entre D. Maria e Áurea e revela uma grande mudança de personalidade da figura feminina da mais velha. Seguem trechos dessa discussão:</div>
<blockquote class="tr_bq">
Áurea: “A senhora já esqueceu como é lá fora, mãe?”<br />
D. Maria: “Não, não esqueci, mas não sinto mais falta.”<br />
(…)<br />
D. Maria: “E lá fora, o que você espera lá fora? O que de bom a vida pode te oferecer lá fora?”<br />
Áurea: “Eu não vou me enterrar aqui, mãe.”<br />
(…)<br />
D. Maria: “Eu gosto daqui. Aqui homem nenhum manda em mim.”<br />
(…)<br />
Áurea: “Desde que essa menina nasceu que eu espero ela crescer pra ir embora desse lugar.”</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Percebe-se, portanto, a diferença entre os anseios da mãe e da filha. E, principalmente, é possível notar o motivo que levou D. Maria a não querer mais se mudar. Naquele local distante, as convenções sociais que regem o papel da mulher da sociedade não tem valia. É claro que há uma definição clara de papéis ditadas pelo gênero. Contudo, ali elas não ocupariam um papel secundário. Afinal, elas lideravam a própria família.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4Uyb7nXG_FHU5Y5VT7ULaw-G3zghlsEE_z7HBch_XAnqvJxwgyfimgO0yK0cyUC4vWI5jOyLWIJSW1BJeg0LWxoFQABF_fz1_Exwgou52-060StVhbQ3rcy79WvMx69_rQ1BqmshefdM/s1600/18822724_jpg-r_640_600-b_1_D6D6D6-f_jpg-q_x-xxyxx.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="248" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4Uyb7nXG_FHU5Y5VT7ULaw-G3zghlsEE_z7HBch_XAnqvJxwgyfimgO0yK0cyUC4vWI5jOyLWIJSW1BJeg0LWxoFQABF_fz1_Exwgou52-060StVhbQ3rcy79WvMx69_rQ1BqmshefdM/s400/18822724_jpg-r_640_600-b_1_D6D6D6-f_jpg-q_x-xxyxx.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Após a morte de sua mãe, Áurea prossegue nas tentativas de fuga, levando sempre a filha consigo. Maria cresce, torna-se adulta e, apesar de não apresentar a ânsia por sair do local, sente-se incomodada com o destino sem muitas opções. A personagem apresenta características totalmente diferentes das demais personagens femininas da trama. Maria é menos contida, mais espontânea, soando até mesmo agressiva. Parece ditar a própria vida, não aceitando, por exemplo, o papel esperado dela na aldeia. Não apenas o comportamento, mas a roupa utilizada confirma essa percepção. O vestido branco de alça possui decotes e não é comprido, deixando, por descuido proposital, sua roupa íntima à mostra.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A sequencia que se inicia aos 1h 21min 13seg demonstra a personalidade forte da filha de Áurea. Na cena, Maria aparece descendo uma duna rapidamente – atitude esperada de “moleques” –, entra em casa, recebe prontamente uma reclamação, ignora e inicia a seguinte discussão:</div>
<blockquote class="tr_bq">
Maria: “Tem café?”<br />
Áurea: “Tinha de manhã.”<br />
Maria: “Perdi nada.”<br />
Áurea: “Você não tem nada pra perder, minha filha.”<br />
Maria: “Não tenho mermo, mãe. Não busco sal, não salgo peixe, não faço filho.”<br />
Áurea: “Filho você faz. Só não deixa nascer.”<br />
Maria: “Mas não faz falta também. Mirinho aí, já são quantos, Mirinho? Massu, que é jeitoso, podia fazer um cercadinho aí fora pros filhos do Mirinho. Mulher ainda nova... Até o fim da vida, lotava um cercadinho inteiro.”<br />
Áurea: “Por que você não toma coragem e vai embora daqui, minha filha?”<br />
Maria: “Eu vou, mãe.”<br />
Áurea: “Então, vai, vai embora. Você não tem filho, não tem nada que te prenda aqui. Toma coragem e vai embora. Toma um rumo na vida.”<br />
Maria: “Que rumo a senhora quer que eu tome na vida, mãe? O seu?”<br />
Áurea: “Eu tomei um rumo na minha vida. Eu tenho uma família.”<br />
Maria: “Essa família não é sua, mãe.”</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
O diálogo trocado não revela apenas as diferenças de personalidade da mãe e da filha. Ele mostra ao espectador que somente um lugar ermo, distante da moralidade dominante dos grandes centros urbanos, poderia produzir uma personalidade como a de Maria. A filha tem domínio absoluto sobre seu corpo, sobre seu destino. Ela questiona a escolha feita pela mãe, antes obcecada em ir embora do local. O filme exibe uma família na qual, a cada geração, uma mulher assume uma nova postura, sempre mais firme e decisiva. No entanto, a sequencia final do filme mostra que, em meio a tantas diferenças, há uma forte semelhança.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Análise do fim do filme</b></div>
<div style="text-align: center;">
<b>a partir de 1h 41min 49seg</b><br />
<b><br /></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/yiqMjQULW6U?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: center;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
A sequencia final do filme inicia-se com o plano geral capturando a paisagem das dunas com uma grande lagoa em volta. A câmera não está fixa, ela movimenta-se horizontalmente, passeando pela paisagem calmamente até um corredor de areia, por onde se vê um carro apontar frontalmente. Ao fundo, inicialmente em off, o barulho do motor de um veículo. Ouve-se sons da água da lagoa sendo agitada pelo vento. Pássaros cantam livremente. O ar é bucólico, de muita tranquilidade. O carro avança até que a câmera o capte lateralmente e ele preencha todo o enquadramento. Agora, o som do motor ocupa toda a percepção auditiva. O carro para e o motor é desligado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O próximo plano apresenta a câmera fixa no banco traseiro do carro. Uma mulher está ao volante, mas não é possível ver seu rosto. A identidade da motorista é reservada. Ela dá um suspiro e abre a porta do carro. Denota-se certa excitação na mulher. Algum encontro está para acontecer.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os planos são mais curtos, mas não induzem à ação. Agora, a câmera está fixada abaixo do veículo. Vê-se apenas os pés da mulher, saindo do carro em direção ao chão. Ela calça sapatos vermelhos, uma tonalidade forte, contrastante com as cores presentes até então, sempre frias e discretas. Provavelmente, trata-se de alguém que acabara de chegar da cidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No plano seguinte, a personagem é mostrada frontalmente. Ela é vista de corpo inteiro, ao lado do carro. O figurino confirma se tratar de uma moradora de um centro urbano. Percebe-se o nervosismo. Ela olha ao redor como quem tenta reconhecer a paisagem. Os passos vão na direção da câmera. Ouve-se cacarejo de galinha. A casa é certamente habitada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A mulher aproxima-se da casa. A cena é vista novamente do banco traseiro do veículo. Desta vez, a câmera não está fixa. Ela movimenta-se para esquerda, desvelando todo o cenário. Porém, não se vê ninguém além da visitante. Em seguida, vê-se a área externa a partir do interior da casa, pela porta. A mulher aparece, prestes a entrar na casa. Ouve-se ruídos (som indireto) que apontam para o manuseio de objetos, talvez o preparo de algum alimento. Alguém está na casa, mas ainda não é mostrado. A todo o momento, o recurso do som indireto é utilizado para causar suspense. O encontro entre as personagens não é desnudado de imediato.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Num plano subjetivo, a partir do olhar da visitante, um travelling mostra toda a casa. Neste momento, reconhece-se objetos de decoração e móveis antigos, aqueles mesmos trazidos por Áurea e D. Maria. Eles estão dispostos cuidadosamente, formando um ambiente pessoal. Alguém tornou aquele o seu lar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqAgbDAzUoAcE4NjlGkYO7v7qpP1mPLS9q2Tw51kFdalO5fJ0aTlo7CF95qM3x1IN_z5I6alZEloTxovEBKYeosv_PObcJC2U3rJXwZ1C2-ecF9AKpO6wcnQf1txydN5BwiB_GkeMDAIw/s1600/Tempo08.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="171" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqAgbDAzUoAcE4NjlGkYO7v7qpP1mPLS9q2Tw51kFdalO5fJ0aTlo7CF95qM3x1IN_z5I6alZEloTxovEBKYeosv_PObcJC2U3rJXwZ1C2-ecF9AKpO6wcnQf1txydN5BwiB_GkeMDAIw/s400/Tempo08.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A câmera aproxima-se de uma mesa, na qual se vê Áurea sentada, de costas. A fonte dos ruídos é, então, revelada. A velha mulher percebe a presença de alguém e volta-se lentamente para trás. Ela veste luto – Seu Massu está morto. Ela para e olha demoradamente para o espectador, ainda sob plano subjetivo, como quem quer ter certeza do que vê diante de si. Finalmente, diz, aproximando-se, em close-up: “Maria. Filha.” Elas se abraçam com ternura. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O soldado que acompanhara a expedição de cientistas retornou ao local para transportar o corpo de um piloto cujo avião fora abatido durante a guerra. Ele conhece Maria e reencontra Áurea, que lhe pede para levar a filha consigo para uma cidade mais próxima, onde ela possa recomeçar sua vida e ser feliz. Agora, anos mais tarde, ela retorna para visitar a mãe.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O diretor utiliza plano contra plano nas tomadas seguintes, nas quais um diálogo entre mãe e filha é conduzido. Os cortes não são rápidos. A conversa transcorre num ritmo lento, saudoso. Maria leva um toca-fitas e coloca uma música clássica – Áurea era pianista e confessa, em um momento da vida, ainda jovem, ser a música o que ela mais sentia falta. As feições de ambas são capturadas pela câmera, sempre em close-up, enfatizando a emoção do reencontro. Esta é contida, não pendendo para o melodrama. Maria olha para a lua e conta que o homem pisou lá. Áurea a fita, surpresa, e pergunta o que o homem encontrou na lua. Ao que Maria responde, com voz tenra, quase sussurrante: “Nada. Dizem que areia.” Áurea sorri. A música aumenta, tomando conta de todo o campo de percepção auditiva. O plano geral mostra as duas sentadas. A câmera afasta-se mais, gradativamente. A casa e toda a paisagem em volta são mostradas. Enfim, com o volume da música-tema ainda mais alto, uma panorâmica das dunas é exibida.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O filme termina com a mesma imagem que começou, as dunas, a partir de uma visão panorâmica. No final, tem-se a associação com a lua, um lugar distante, hostil, mas que o homem fez questão de explorar. É o encerramento de um ciclo na vida daquelas mulheres tão diferentes, que fizeram escolhas diferentes. Através do diálogo final, percebe-se o ponto em comum que une aquelas vidas: a areia. O que, no início, era desprovido de significado, rejeitado como um espaço que não permitiria um futuro adequado, sob uma visão cultural de metrópole, passou a ser o elo das três gerações de mulheres, mesmo que hoje vivam distantes umas das outras.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fim.</div>
<br />
<a href="http://impressoessobreaestrada.blogspot.com.br/2013/11/areia-e-tempo-na-narrativa-de-uma-vida_26.html">Ler a parte 3/4</a>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com1Salvador - BA, República Federativa do Brasil-12.9703817 -38.512382-13.218028200000001 -38.835105500000004 -12.7227352 -38.1896585tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-57113658976075247682013-11-26T15:07:00.001-06:002013-12-01T12:03:47.826-06:00Areia e Tempo na Narrativa de uma Vida [3/4]<a href="http://impressoessobreaestrada.blogspot.com.br/2013/11/areia-e-tempo-na-narrativa-de-uma-vida_21.html">Ler parte 2/4</a><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
A narrativa caracteriza-se por não explicitar, de forma banal, a história, deixando-a sempre imprevisível. A passagem do tempo segue a mesma lógica. Por estar em um local ermo, hostil, as personagens não utilizam relógios. A distância entre dois locais é medida em dias de caminhada. Assim, diversos símbolos são utilizados para situar o espectador no tempo. Apenas dois deles comunicam claramente uma data. Na maioria das vezes, as imagens jogavam com referências que necessitavam da atenção e da análise do observador. A percepção semiótica do espectador é aguçada a todo instante. A seguir, diversos elementos imagéticos – complementados posteriormente por parcos diálogos – utilizados no filme para denotar tempo são analisados.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>Os marcos temporais</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<u>A caravana</u></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEvgtNBVqwxS4pR5NU6AbQBkX8AW9GAJ8TavFmtEAlqCPcfUSoIrg_x_VuCvLM7JkJ-Iy4uYRKihxu-OIVuvDgp9ofRlGNiNA0BLYdysNuvixdk1Xhd8z0ojfRF0zlRvdE_66WMhoHm8o/s1600/Tempo00.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="182" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEvgtNBVqwxS4pR5NU6AbQBkX8AW9GAJ8TavFmtEAlqCPcfUSoIrg_x_VuCvLM7JkJ-Iy4uYRKihxu-OIVuvDgp9ofRlGNiNA0BLYdysNuvixdk1Xhd8z0ojfRF0zlRvdE_66WMhoHm8o/s400/Tempo00.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
A segunda tomada do filme pode, de imediato, não informar muito sobre o tempo, mas dá pistas. Um olhar mais atento pode capturar detalhes preciosos. Por exemplo, não há veículos motorizados na caravana. Com certeza, esta não foi uma escolha de Vasco. Carros capazes de atravessar dunas de areia ainda não haviam sido inventados. O grupo teve, então, de locomover seus pertences em jumentos e carroças.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<u>Definindo espaço e tempo</u></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEih00JGFVrrrbMt4pL3ZXgVJzUCQyHNmTNED0uD-kznDMsIW70Fw9Sqm4-z2OBZxu_42gJLwb9w0KiohftlbNI_ah37KYiF3yg5iX3AxphcNRqBTZ9lHbE94we6kWlLGmi15G-P_gBPiCo/s1600/24.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="172" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEih00JGFVrrrbMt4pL3ZXgVJzUCQyHNmTNED0uD-kznDMsIW70Fw9Sqm4-z2OBZxu_42gJLwb9w0KiohftlbNI_ah37KYiF3yg5iX3AxphcNRqBTZ9lHbE94we6kWlLGmi15G-P_gBPiCo/s400/24.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao fim do plano atravessado pela caravana, um letreiro situa explicitamente o espectador no espaço e no tempo. A história inicia-se em 1910, no Maranhão, nordeste brasileiro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<u>A primeira mudança da paisagem</u></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfgi7Dkua3QTFzfwX4A32LTwzlaSFbaJi3nqh5pkzszoHNwSW_ZiSHihTYxo5pXKyWWYsXfStOyKXrX3WOOF_vFuYrmiN3qOCeoVATuJPWUzVudjPYO1EvzTA0osyQ732ZxdBYkWAtAy0/s1600/Tempo01.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="170" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfgi7Dkua3QTFzfwX4A32LTwzlaSFbaJi3nqh5pkzszoHNwSW_ZiSHihTYxo5pXKyWWYsXfStOyKXrX3WOOF_vFuYrmiN3qOCeoVATuJPWUzVudjPYO1EvzTA0osyQ732ZxdBYkWAtAy0/s400/Tempo01.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao encontrar o terreno que comprara, Vasco demonstra ter esperança de, um dia, nele abundar água. Ele e os demais integrantes do grupo firmam acampamento e iniciam a construção de uma casa. Aos 38min 06seg, um plano geral mostra a casa envolta em nova paisagem. De repente, tudo ao redor é alterado. A casa está quase ilhada, rodeada por uma grande lagoa. As dunas, atrás, mostram que a areia também se movimentou, formando um novo desenho. Aparece também, no topo da colina, o mercador, que passa pelo local uma vez ao ano. Dessa forma, o filme sugere a passagem do tempo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<u>A segunda mudança da paisagem</u></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkPvzC2BQ5Ere8IBVYK8LAJr7d-pju81Y4GFQZMsz7SwcJPzWRWYzO-emTdhIF8gf4njikxgLe-59mDJv7bMhabO1xdA79ZwN0b_xgAudyQUyjyX3CazRrUvGi52TJPVFFiKWGM7sZ884/s1600/Tempo02.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="168" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkPvzC2BQ5Ere8IBVYK8LAJr7d-pju81Y4GFQZMsz7SwcJPzWRWYzO-emTdhIF8gf4njikxgLe-59mDJv7bMhabO1xdA79ZwN0b_xgAudyQUyjyX3CazRrUvGi52TJPVFFiKWGM7sZ884/s400/Tempo02.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
A casa, antes rodeada de água, está escorada a uma parede de areia. Novamente, a paisagem modificada sinaliza a passagem do tempo e a alteração de rumo na vida das personagens. Vê-se, no alto, da montanha de areia, uma criança. É Maria, filha de Áurea, nascida e já crescida. O plano geral dá lugar ao plano médio, que mostra a criança descendo a duna em direção à casa quase soterrada. Posteriormente, as dunas invadem a casa e matam D. Maria, que dormia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<u>O eclipse</u></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOiM23G_Ox0rR36jhNjXivurtDU42I7AUwt7RZuYnHbJKiaiBtz2xVZpNSRbBYGhO0qVwOVijI-KPQ7f-AMWO5bmH22jGjFxmVg3Qf1z_jJW0HCgozmNj2gEkJCfmO9jGJh0jTFHZogyA/s1600/Tempo03.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOiM23G_Ox0rR36jhNjXivurtDU42I7AUwt7RZuYnHbJKiaiBtz2xVZpNSRbBYGhO0qVwOVijI-KPQ7f-AMWO5bmH22jGjFxmVg3Qf1z_jJW0HCgozmNj2gEkJCfmO9jGJh0jTFHZogyA/s400/Tempo03.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
O uso de fatos históricos é outro recurso da narrativa para situar o espectador no tempo. O eclipse solar ocorrido em 1919 aparece no filme. Nos planos que compõem o trecho a partir dos 51min 08seg, Áurea percebe que o sol está sendo encoberto, tudo está escurecendo. Então, volta o olhar para o céu e vislumbra o eclipse. Mas o que seria apenas recurso temporal acaba por também fazer parte da trama. Isso porque uma expedição de cientistas adentra as dunas à procura do lugar ideal para registrar em fotos o fenômeno natural.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Áurea segue os rastros deixados na areia pela expedição de cientistas e conhece um soldado que os escoltava até o local. Ela tem uma relação amorosa com o recruta. Então, pede-lhe que siga com os cientistas. O soldado pede autorização dos cientistas, que a concedem. Áurea informa que precisa buscar a mãe e a filha que ficaram em casa, há dois dias a pé dali. No entanto, ao retornar, encontra a casa soterrada. A mãe fora encoberta pela areia enquanto dormia. A filha, Maria, sobrevive.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<u>O marco geodésico</u></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEqFBiiQrqasPxACCG-koQmt_18hOuSwblPHfG-TxP2W-4hSnt6SsgnqNdZv0y2ejyXjR68fjlbUeiUiz4sY2Q-YWErznDLQ1YpdUf_nCP9x5q1LsQrh_DY3OXC4S9jgLxFAZC3oCXiEM/s1600/Tempo04.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="170" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEqFBiiQrqasPxACCG-koQmt_18hOuSwblPHfG-TxP2W-4hSnt6SsgnqNdZv0y2ejyXjR68fjlbUeiUiz4sY2Q-YWErznDLQ1YpdUf_nCP9x5q1LsQrh_DY3OXC4S9jgLxFAZC3oCXiEM/s400/Tempo04.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
A morte da mãe atrasa Áurea. Quando ela retorna ao local onde acampou a expedição de cientistas, com a filha, não há mais ninguém. Mais um plano de fuga é frustrado. Desta vez, vê-se a data exata do eclipse solar, 19 maio de 1919, grafado no marco geodésico. É informado, mais uma vez, de forma explícita, o período no qual a trama se encontra. Agora, é possível calcular a idade de Maria. A mãe, que chegou grávida em 1910, agora possui uma filha com, aproximadamente, 8 anos de idade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<u>Os aviões de guerra</u></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYcYq7EvSQLZ9PIXGevawtrNyA53FIqFdmV9Fz6DuzJfmoeknD6JyrNtFwODhDUIyXxoExhCX1uZseX446hVjJckw9xhX1QfKl9H6sxR3vsSS-YAWISNdKnkrt34cRJq0FMHUmLuBubUU/s1600/Tempo05.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="170" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYcYq7EvSQLZ9PIXGevawtrNyA53FIqFdmV9Fz6DuzJfmoeknD6JyrNtFwODhDUIyXxoExhCX1uZseX446hVjJckw9xhX1QfKl9H6sxR3vsSS-YAWISNdKnkrt34cRJq0FMHUmLuBubUU/s400/Tempo05.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Aos 1h 18min 45seg, um grupo de aviões de guerra – provavelmente um esquadrão – é avistado no céu. Abaixo deles, caminhando pela areia, vê-se uma pessoa. Há um corte e o plano muda para médio, exibindo Maria, já adulta, com caminhar errante, segurando uma garrafa de bebida alcoólica. Dá para diferenciar as personagens interpretadas por Fernanda Torres pelo caminhar e pelo vestido, agora despojado, mais condizente com o clima do local. Nota-se que esta pessoa não tem amarras com os costumes morais da época, presente nos centros urbanos. Ela nasceu e foi educada ali. Portanto, não se trata de Áurea, mas de Maria.<br />
<br />
Mais tarde, aos 1h 23min 59seg, o trecho mostra Maria encontrando o corpo de um piloto na praia. O avião em que ele estava fora provavelmente atingido, causando sua queda. Esses símbolos estão associados à Segunda Guerra Mundial, da qual o Brasil participou ao lado das forças aliadas. A costa brasileira foi alvo de ataques alemães. O filme sugere, então, que a narrativa situa-se agora na década de 40.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<u>O acesso por carro</u></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg86D1q8tOg273TAbXuaUmJbe0K76o-gsOOaDoCb9fx7kavBFwSNYoSC6whsYvr7yFppHcF-wrpEy9bsRx8t4poECxhAXrctWh1SSAdSghz3sVTKlnjoKDq6AmEEGC-6I7BC9vFHNXtD4g/s1600/Tempo06.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="170" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg86D1q8tOg273TAbXuaUmJbe0K76o-gsOOaDoCb9fx7kavBFwSNYoSC6whsYvr7yFppHcF-wrpEy9bsRx8t4poECxhAXrctWh1SSAdSghz3sVTKlnjoKDq6AmEEGC-6I7BC9vFHNXtD4g/s400/Tempo06.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
O soldado que escoltara a expedição de cientistas em 1919 retorna ao local. Desta vez, ele é designado para recuperar o corpo do piloto. O acesso é feito por um jipe, diferentemente do que fizeram com os cientistas. Mostra-se, com isso, que os carros foram aprimorados para chegar a lugares de difícil acesso. A guerra está a todo vapor. Enquanto isso, nos EUA, o capitalismo se desenvolve sem amarras. O país só participa do fim da segunda guerra, sofrendo menos impacto econômico que os países que lutaram desde o início. O fordismo se destaca como modelo industrial e esta empresa lidera a produção mundial de carros.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<u>A maquiagem e o figurino</u></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvgLwUITfYcI7guUdVkVBVRtLfomsysBqZcMLfoRh9-28XRYKuoTJJQrlZKK9Cwou1F781O_acFS1fHkw_-r-1YoNnVfB3V7UDZgSpLClvoxYMVKhNJusnz6EawAhwvrpAqNgGVuc7T6k/s1600/Tempo07.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="170" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvgLwUITfYcI7guUdVkVBVRtLfomsysBqZcMLfoRh9-28XRYKuoTJJQrlZKK9Cwou1F781O_acFS1fHkw_-r-1YoNnVfB3V7UDZgSpLClvoxYMVKhNJusnz6EawAhwvrpAqNgGVuc7T6k/s400/Tempo07.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
A última sequencia do filme é o maior exemplo de utilização da maquiagem como recurso de tempo. As duas personagens que dialogam na mesma cena são interpretadas por Fernanda Montenegro. Neste momento, a diferença de idade é marcadamente expressa não só no andar e na voz (interpretação), mas também no rosto e no cabelo das personagens.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEJ9uvCDyTvAjRyB9oWdOflWSfewiN29VSMmwyml3EbjXPJQ2mpvEhwNIpz1cLReU73BGMlcr0qLnA2X6O79A-te_PldBTaE2TBP0vQM3aLOM2R0d4ftB7ZNbI2T1QzsibK5wN2E8OgqY/s1600/25.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="171" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEJ9uvCDyTvAjRyB9oWdOflWSfewiN29VSMmwyml3EbjXPJQ2mpvEhwNIpz1cLReU73BGMlcr0qLnA2X6O79A-te_PldBTaE2TBP0vQM3aLOM2R0d4ftB7ZNbI2T1QzsibK5wN2E8OgqY/s400/25.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
O figurino também auxilia a demarcação do tempo. No início do filme, mãe e filha vestem trajes do início do século XX. Quase não se via o corpo da mulher. No meio do filme, as personagens aparecem com roupas mais leves, improvisadas, desatando as amarras estilísticas da época, ditadas pelos centros urbanos. Na última sequencia do filme, Maria está vestida com trajes característicos da década de 70. Aproximadamente trinta anos se passaram. Ela foi para a cidade com o soldado, a pedido de Áurea, e agora retorna ao labirinto de areia para visitar sua mãe. O contraste entre duas vidas, entre duas gerações é nítido, mas também o é o elo que as une.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na próxima e última parte desta análise, será abordado o 'psicológico' das personagens. O trecho final é esmiuçado para ilustrar a mudança comportamental das protagonistas e sua relação com o ambiente que as cerca.<br />
<br />
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; text-align: start;">Leia a última parte da análise, clicando </span><a href="http://impressoessobreaestrada.blogspot.com.br/2013/12/areia-e-tempo-na-narrativa-de-uma-vida.html" style="background-color: white; color: black; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; text-align: start; text-decoration: none;">AQUI</a><span style="background-color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; text-align: start;">.</span></div>
<br />
<a href="http://impressoessobreaestrada.blogspot.com.br/2013/11/areia-e-tempo-na-narrativa-de-uma-vida_21.html">Ler parte 2/4</a>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com0Salvador - BA, República Federativa do Brasil-12.9703817 -38.512382-13.218028200000001 -38.835105500000004 -12.7227352 -38.1896585tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-60421188168368416332013-11-21T19:23:00.001-06:002013-12-01T12:06:51.691-06:00Areia e Tempo na Narrativa de uma Vida [2/4]<a href="http://impressoessobreaestrada.blogspot.com.br/2013/11/areia-e-tempo-na-narrativa-de-uma-vida.html">Ler a parte 1/4</a><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Para auxiliar o processo de análise, optou-se por decupar a abertura e o fim do filme. Na abertura, descrita a seguir, o tipo de narrativa e o local são apresentados. Embora os personagens principais também o sejam, sua personalidade não é entregue por completo. O enredo é desvelado aos poucos, na medida em que os personagens ganham <span style="background-color: white;">notoriedade</span>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b>A abertura do filme</b><br />
<b>0min 00seg - 7min 34seg</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/z9VlDWnbDds?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por longos 2min 12seg, a tela preta anuncia os produtores, patrocinadores e apoiadores da realização cinematográfica que está por vir. As logomarcas são apresentadas de forma lenta. Ao fundo, um ruído distorcido remete ao zumbido provocado pelo vento ao encontrar uma barreira para atravessar (a fresta de uma janela, por exemplo). Esses aspectos produzem uma sensação de quietude que prenuncia um filme de narrativa lenta, com planos majoritariamente longos e finitos. Ao exibir os letreiros com a produtora executiva, o diretor, as atrizes principais e o título do filme, o barulho do vento ganha maior nitidez, aumentando gradativamente de volume.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A primeira imagem que se tem do filme propriamente dito é uma tomada aérea das dunas, dos Lençóis Maranhenses. Através deste grande plano, vê-se amontoados de areia com pequenos lagos em sua base. Não há sinal de aglomerado urbano ou mesmo de aldeia. Um pássaro é visto e ouvido sobrevoando livremente o local, fazendo o mesmo trajeto da câmera. Sem nenhuma dificuldade de percepção, enxerga-se sua sombra nas areias logo abaixo. O vento toma conta do ambiente, podendo notar também, ao longe, o som do mar. As poucas cores, sempre tendendo para o monocromático, variações de claro e escuro, discretas tonalidades, reforçam a sensação de um local ainda selvagem, com pouca interferência humana. O filme apresenta, portanto, o espaço onde se passará a história: um lugar distante da civilização, ermo, aparentemente inóspito.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEge7y7QeV9mWgW4XlcQcTzFqXPEJ_fwIg8SxfS8EMq0TwsUxqqx0xtSqYQGO37_duS1uwnrOJAEdfvnP7eBsWrKWCpRxUrZI6KO3G8WmzdSGK0E25lRO1-Rw7UOUz1Xs0Pcab29AlxJccg/s1600/01.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="136" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEge7y7QeV9mWgW4XlcQcTzFqXPEJ_fwIg8SxfS8EMq0TwsUxqqx0xtSqYQGO37_duS1uwnrOJAEdfvnP7eBsWrKWCpRxUrZI6KO3G8WmzdSGK0E25lRO1-Rw7UOUz1Xs0Pcab29AlxJccg/s320/01.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
O plano seguinte mostra uma paisagem. A câmera está fixa sob a areia, enaltecendo o seu intenso movimento ao ricochetear do forte vento. Ao fundo da imagem, um banco de areia, a parte mais alta da formação, por onde uma caravana começa a passar, partindo da extremidade esquerda para a extremidade direita do plano. Assim, em primeiro plano vê-se muita areia sendo carregada pelo vento, em sentido oposto ao da caravana. Esta caminha de forma irregular, esparsada, em grupos distintos, uns mais lentos que os outros, enfatizando a dificuldade de homens e de animais de caminhar sob o sol forte, a areia fofa e o vento de areia em direção oposta. Acima do banco de areia, um pequeno espaço é reservado para o céu, esbranquiçado, quase da mesma tonalidade da areia. As cores apresentadas pelo ambiente contrastam com a silhueta da caravana que o atravessa. Estrangeiros. Os letreiros com os nomes dos atores secundários são exibidos durante os 2min 11seg do trajeto. O som do vento predomina, mas ouve-se também, mais distantes, gritos de homens a puxar jumentos, a pedir ajuda e a incentivar os demais. Ao fim deste plano, o letreiro situa com clareza o espectador no espaço e no tempo: “Maranhão - Brasil 1910”. Agora, os comandos de voz dos homens ficam nítidos. O vento passa, então, a segundo plano da percepção auditiva. Nota-se claramente que os gritos mais audíveis são do homem que está à frente da caravana, tentando estimular os demais: “Vamos. Não parem”. Encerra-se a primeira sequência.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O grande plano passa para um plano médio. Os personagens começam a ser apresentados. A câmera ainda está fixa. O homem à frente da caravana é visto em plano frontal, movimentando-se na direção da câmera. Uma profusão de ruídos é escutada. Cabras berrando, carroceria sendo puxada, homens incentivando os demais, objetos tilintando ao caminhar irregular e contido dos jumentos. O vento permanece como pano de fundo. Vê-se ainda muita areia suspensa no ar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3YZlKuzSDb_P035F7E1wzvmmKdZsSyY47yDwrYCnG9B7SjUlYapxc5RbV0z5N1Xo3DMg4z3TYnAA5nRZHJ7cd1BbXC8CoFosFoQYwo0IrGTzU9wT1NryLVRDWhz5OW8f2x84QFQz_zSw/s1600/Tempo00.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="146" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3YZlKuzSDb_P035F7E1wzvmmKdZsSyY47yDwrYCnG9B7SjUlYapxc5RbV0z5N1Xo3DMg4z3TYnAA5nRZHJ7cd1BbXC8CoFosFoQYwo0IrGTzU9wT1NryLVRDWhz5OW8f2x84QFQz_zSw/s320/Tempo00.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
O próximo plano apresenta as duas protagonistas. Desta vez, a câmera está em movimento horizontal, em primeiro plano lateral, em close-up, acompanhando o andar das personagens. Nota-se que a cabeça delas, de perfil, entra e sai freneticamente do enquadramento. A expressão do rosto é de extremo cansaço físico. Elas estão muito suadas e utilizam lenços para proteger a cabeça do sol escaldante. A respiração ofegante toma conta do som. O espectador é levado a sentir o cansaço daquela caminhada desgastante. Ao fundo, ouve-se o guia da caravana avisar que o destino já se aproxima. As duas protagonistas não falam.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Com câmera fixa em plano médio, o chefe de expedição é novamente enfocado. Ele segura um mapa, faz uma rápida leitura e afirma a um componente da caravana ter chegado ao destino procurado, demonstrando ter esperança daquele terreno possuir, num futuro próximo, água. Vento e ruídos de fundo da caravana persistem. O primeiro diálogo do filme levanta questões sobre o motivo da migração daquele grupo para uma região tão distante. O objetivo do grupo era encontrar o local onde poderia morar e subsistir. Do que estariam fugindo, afinal?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Num roupante de entusiasmo, o guia da caravana atravessa todo o plano – geral e lateral. Ele conclama os demais membros a montar acampamento, certo de que compartilham da mesma euforia. As protagonistas avistam o que restou de um pequeno lago, ajoelham-se diante de uma pequena poça e banham-se, tentando apaziguar o calor provocado pela alta temperatura irradiada pelo sol e absorvida pela areia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os diálogos das duas sequências que compõem a abertura do filme são raros. Durante os 7min 35seg introdutórios, o espectador é recheado de sensações, que desvelam o local e a reação das personagens a ele. A história não é explicitada de imediato. O nome das personagens é apresentado nas próximas sequências, aos poucos. As suas personalidades delineiam-se gradativamente, sem pressa. Apesar da narrativa clássica, o enredo não é entregue ao espectador de imediato. As sequências iniciais levantam mais questões do que trazem respostas a respeito da trama. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKAYYOjgL1GNAcxuL3ToAJcA1VSNrQ_Vr8qf-XTOqZK7SyH-WdN3Eo0lo2EeobvhSME404MNMYA0q1nAifHvpIyXtCGR9T2tVwdoCkEUJPSlML9WojdEDPnOYEKIBVFOHHkjVUgC-bKZ8/s1600/060723areia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="177" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKAYYOjgL1GNAcxuL3ToAJcA1VSNrQ_Vr8qf-XTOqZK7SyH-WdN3Eo0lo2EeobvhSME404MNMYA0q1nAifHvpIyXtCGR9T2tVwdoCkEUJPSlML9WojdEDPnOYEKIBVFOHHkjVUgC-bKZ8/s320/060723areia.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Um possível motivo para a migração da família para os Lençóis Maranhenses pode ser obtido com o auxílio de uma contextualização histórica. Em 1910, o Brasil passava por graves problemas financeiros. Diversos bancos decretaram falência. Os grandes centros urbanos estavam com a economia combalida. A dívida interna e externa era muito alta. Dessa forma, pode se justificar o entusiasmo de Vasco, o guia da caravana, ao encontrar o local e demonstrar esperança de ter ali água num futuro breve. Na sequência que se iniciar aos 16min 55seg, durante uma discussão entre Vasco e sua esposa, Áurea, que se recusava a entrar na cabana de palha e madeira recém-construída, os diálogos desvendam o mistério: </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Áurea: “<i>Eu tinha a minha casa.</i>”<br />
Vasco: “<i>Você não tinha nada. Tinha dívidas, só.</i>”<br />
Áurea: “<i>Morar aqui é me fazer pagar caro demais pelas minhas dívidas.</i>”<br />
Vasco: “<i>Eu também paguei caro demais por você.</i>”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Pode-se, assim, associar o casamento de Áurea e Vasco a este problema financeiro familiar, que pode ter começado após a morte de seu pai – a mãe, D. Maria, veste luto. Tudo isso pode ser inferido a partir da junção dos diálogos, do figurino e do contexto da época. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As duas únicas mulheres do grupo são relegadas aos trabalhos domésticos. A todo tempo, obedecem aos comandos de Vasco. Áurea está no início da gravidez e sua mãe já demonstra preocupação com o estado de saúde de ambos. Nenhuma das duas está satisfeita com a migração, principalmente a jovem. A mudança não foi uma escolha para elas. Nas cenas seguintes, vê-se Áurea e D. Maria planejando uma fuga, notadamente após Vasco ter rompantes agressivos, causados pelo contato com os moradores locais, de uma aldeia quilombola próxima, com os quais há um rápido embate pela terra. Em virtude disso, os demais membros do grupo passam a desconfiar da segurança do local e debandam, deixando Vasco, Áurea e D. Maria sozinhos. Com todo o trabalho ainda por fazer – eles estavam finalizando a construção da casa –, ao perceber que o grupo estava desfeito, Vasco tem um novo rompante agressivo. Mas, desta vez, ele causa um acidente que resulta na sua própria morte (sequencia que começa aos 20min 03seg).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A partir da morte do patriarca, as duas mulheres veem-se completamente isoladas. O filme volta-se, então, para a luta diária de Áurea e D. Maria contra o ambiente hostil e a saudade do conforto da cidade grande. Em um trecho (24min 43seg), a mãe segue um grupo de homens, mas os perde de vista. É ajudada pelas pegadas e por um bando de aves marítimas. Ela, então, encontra a praia, onde está também a aldeia quilombola. D. Maria se vale da natureza (o voo dos pássaros em direção ao mar) para buscar ajuda dos nativos. A relação com estes é reconfigurada. A postura das protagonistas frente ao ambiente é reformulada a cada nova experiência. As personagens femininas ocupam, agora, o centro da trama. Com elas, os indomáveis montes de areia e o tempo, outros dois grandes personagens, ora aliados ora antagonistas.</div>
<br />
Leia a terceira parte da análise, clicando <a href="http://impressoessobreaestrada.blogspot.com.br/2013/11/areia-e-tempo-na-narrativa-de-uma-vida_26.html">AQUI</a>.<br />
<br />
<a href="http://impressoessobreaestrada.blogspot.com.br/2013/11/areia-e-tempo-na-narrativa-de-uma-vida.html">Ler a parte 1/4</a>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com0Salvador - BA, República Federativa do Brasil-12.9703817 -38.512382-13.218028200000001 -38.835105500000004 -12.7227352 -38.1896585tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-27516932077047723022013-11-16T05:50:00.000-06:002013-11-22T15:19:35.720-06:00Areia e Tempo na Narrativa de uma Vida [1/4]<div style="text-align: justify;">
Tudo começou quando Luiz Carlos Barreto avistou a foto de uma casa parcialmente soterrada pela areia em um bar do Ceará. Curioso, perguntou ao dono do estabelecimento de quem era aquela casa. Ficou sabendo, então, que a antiga moradora passou toda a vida lutando contra a areia e que a casa foi soterrada apenas após a sua morte. A história tocou o produtor, que vislumbrou ali o ponto de partida para uma fábula. Conversou com o diretor Andrucha Waddington a respeito da ideia e, então, os dois chamaram a roteirista Elena Soárez para elaborar o argumento do filme. O roteiro levou dois anos para ser finalizado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmxS0pn8FcN6lmNbat5kioOylk2QlyquQSzArsKi0YqXZQTf4rv-t0PkYN3ed5m1ycgHhKngAgpFPCIC7u6OzNkvp0vl5kfPcsp_htBGFE4ANSgvlT9rpR4yMtSPme7ivi7mWicfZx4no/s1600/Casa+de+areia-cartaz1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmxS0pn8FcN6lmNbat5kioOylk2QlyquQSzArsKi0YqXZQTf4rv-t0PkYN3ed5m1ycgHhKngAgpFPCIC7u6OzNkvp0vl5kfPcsp_htBGFE4ANSgvlT9rpR4yMtSPme7ivi7mWicfZx4no/s320/Casa+de+areia-cartaz1.jpg" width="216" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Casa de Areia foi lançado em 2005. Neste e no ano seguinte, participou de importantes festivais de cinema, como Toronto, Berlim e Sundance. Fernanda Montenegro e Fernanda Torres repetem os papéis de mãe e filha nesta ficção. A história conta a saga de Áurea, vivida por Torres, que, conjuntamente com sua mãe, D. Maria, vivida por Montenegro, chegam a um manancial de areia, no Maranhão, levadas por Vasco, marido de sua filha. Este acreditava ter adquirido terras férteis, as quais poderiam lhes dar uma melhor condição financeira. Porém, eles não sabiam que o desconhecido local ficava distante dos centros urbanos e que era um grande labirinto de areia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Áurea sente-se isolada e presa naquele local inóspito. Grávida, teme que seu filho nasça e cresça ali. Esperançosa de poder mudar seu destino, convence a mãe a ir embora. Inúmeras tentativas de fuga são feitas pelas duas mulheres, que travam verdadeiras batalhas contra o destino. Porém, o sucesso de seus planos de fuga não depende exclusivamente delas. Primeiro, não encontram uma rota rápida e direta para uma cidade próxima – o mar aberto não é propício para uma viagem de barco de pequeno porte. Em seguida, a gravidez de Áurea, em estágio avançado, e a idade de sua mãe, dificultam cada vez mais a mobilidade. O movimento intenso das dunas exige mudanças de comportamento das personagens. O local parece ser o grande empecilho para a tomada de rumo delas. Direta ou indiretamente, o ambiente as obriga a recomeçar. Até que, com o tempo, elas aprendem a conviver com ele e conseguem, consequentemente, apropriar-se de suas vidas. O filme narra, dessa forna, o périplo de uma mulher que, isolada, reconfigura sua vida , dando-lhe novos significados.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEif0q3N0XaAU3ZS5uKqhvMD8TW6i7WX5HctNKYRG3p4U20QxhrgZbrsYP4mnFlV9H9se32-LsVw9Rx9NvIsDqBhPJxfT0u2AJL2ORIpRtZ1heTX_6Wodifcea2QT45kU2lqMKIOxlOZp-A/s1600/casa-de-areia-2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEif0q3N0XaAU3ZS5uKqhvMD8TW6i7WX5HctNKYRG3p4U20QxhrgZbrsYP4mnFlV9H9se32-LsVw9Rx9NvIsDqBhPJxfT0u2AJL2ORIpRtZ1heTX_6Wodifcea2QT45kU2lqMKIOxlOZp-A/s320/casa-de-areia-2.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O isolamento do local não foi empecilho apenas para as personagens. O filme teve uma produção difícil de ser realizada. A cidade mais próxima dos Lençóis Maranhenses, Santo Amaro, não tinha estrutura para acolher os mais de cem integrantes da equipe. Ela possuía apenas uma pousada e outra ainda sendo construída. A produção teve que arcar com o término da construção da segunda pousada para viabilizar a filmagem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As dunas também causaram transtornos à produção. Em um mesmo dia, sete jipes quebraram por conta dos solavancos e dos constantes atolamentos na areia. As salas de estúdio, de direção, os camarins tiveram de ser construídos sobre a areia, tendo que enfrentar ventos fortes. O teto da sala de direção desabou numa noite de chuva torrencial, alagando e danificando equipamentos. Mas tais dificuldades já faziam parte do currículo do diretor Andrucha Waddington.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoWZGKXdsPHCUOyMboqvhCPIf5ht1Iy_hBKUafpR7Hjz3MxIYK0gSoSlrdh8fPkvKSNQpQX4ceJsBPoYtFVwDZcAUwdM9cuSSoZoixhV3wc8n6XV5sNgPEp5OWQBRkm07qy82Sw4oatm0/s1600/16.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoWZGKXdsPHCUOyMboqvhCPIf5ht1Iy_hBKUafpR7Hjz3MxIYK0gSoSlrdh8fPkvKSNQpQX4ceJsBPoYtFVwDZcAUwdM9cuSSoZoixhV3wc8n6XV5sNgPEp5OWQBRkm07qy82Sw4oatm0/s320/16.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Em 2000, Andrucha rodou o filme Eu Tu Eles no sertão nordestino. A região de ambos os filmes é a mesma, mas o clima é diferente. Por conseguinte, a paisagem também. A fotografia é uma marca das duas obras, mas possui sentidos opostos. No primeiro, a paisagem se sobressai. Há uma explosão de cores características da vegetação e das construções da região. Em Casa de Areia, a fotografia é mais contida. O tom é sóbrio, quase monocromático, principalmente nas cenas iniciais. Ricardo Della Rosa, diretor de fotografia, opta por não destacar a paisagem. Ela é parte integrante da história e não deve sobressair apenas como beleza natural, um lugar exótico.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É também repetido o trabalho conjunto com a roteirista Elena Sóarez e as atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, esposa e sogra respectivamente. A parceria com a roteirista vem de 1999, com o longa Gêmeas. O feito foi repetido em Eu Tu Eles e também em Casa de Areia. Gêmeas contou, também, com a atuação das duas atrizes. No entanto, elas não contracenaram juntas. Em Casa de Areia, elas interpretam filha e mãe, tal qual na vida real, contracenando juntas pela primeira vez na carreira.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Esta análise detém-se basicamente sobre aspectos do filme que enfatizam o seu caráter poético. As personagens tem pouco diálogo. Diversos elementos são, então, utilizados para dar significado às emoções das diferentes vidas presentes na obra, indo muito além da interpretação artística. Em Casa de Areia, abstrações como o ambiente e o tempo são também personagens. Por isso, a análise debruça-se sobre esses personagens abstratos e as modificações que causam às personagens concretas. A decupagem da abertura e do fim do filme é feita para auxiliar o processo de análise.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Leia a segunda parte da análise, clicando <a href="http://impressoessobreaestrada.blogspot.com.br/2013/11/areia-e-tempo-na-narrativa-de-uma-vida_21.html">AQUI</a>.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com0Salvador - BA, República Federativa do Brasil-12.9703817 -38.512382-13.218028200000001 -38.835105500000004 -12.7227352 -38.1896585tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-50680623103531603752013-11-10T14:29:00.001-06:002013-11-10T14:29:26.341-06:00Como evitar uma biografia não autorizada<div style="text-align: justify;">
Copiando a brilhante ideia de Fábio Flora, proprietário do blog <a href="http://pasmatorio.blogspot.com.br/">Pasmatório</a>, que eu adoro, resolvi tornar públicos os podres de minha vida. Dessa forma, não corro o risco de vê-la devassada por algum abutre ávido por ganhar dinheiro às custas da intimidade alheia. Eu, no ápice de minha fama, jamais quereria que isso acontecesse. Você não concorda? Se eu fosse Roberto Carlos, Gil, Caetano, Chico e companhia, não perderia mais tempo e faria a mesma coisa. Se alguém lançar uma biografia não autorizada, é só acessar o blog e constatar a inveracidade das falácias gananciosas. Ah, esses dedos ferinos! Mas eles não contavam com a nossa astúcia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A lista de fatos é cronológica, ou tenta ser -- na medida em que a minha memória permite. Infelizmente, não tenho provas para apresentar. Mas não precisa, já que sou o autor-personagem das minhas próprias aventuras. Não sou louco o suficiente para querer me processar por calúnia e difamação. Algum juiz louco acataria tal ação? Prefiro achar que não. Então, vamos aos "causos". </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>1. Eu matei um rato afogado</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu tinha um rato de pelúcia bem pequeno. Não lembro a sua origem, recordo apenas que eu gostava de levá-lo a todo lugar. Todo lugar mesmo. Num dia, fui à Praia dos Frades, em Mar Grande, com minha prima e levei o pequeno roedor. Não contente de fazê-lo apreciar a beleza da praia, decidi que faria bem para o bicho refrescar-se nas águas do mar. Já sabe, né? Deixei-o cair na água. Ele afundou. Como a água dessa praia era turva, dificultava a busca. Ficamos um tempão procurando o orelhudo -- em torno de uma hora --, sem sucesso. Quem disse que tinha salva vidas por perto... O rato havia desaparecido. E nem voltamos ao local nos dias seguintes para ver se o corpo tinha aparecido. Eu afoguei o rato. E minha prima foi cúmplice.<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZB44KgDXBQtkKVNpK-D2WRiR3Xrd8Nhk-61cauCixtYrLDS0LCmKFNwq6ZqewjJWymg6AE5QmPME3sa9r6GQNoajV4_CSvyJdwB6JXRQTJ0NEJtsbPW_LK9PICxzTQmwrZc8X7H6T-7U/s1600/Super+mouse.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="195" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZB44KgDXBQtkKVNpK-D2WRiR3Xrd8Nhk-61cauCixtYrLDS0LCmKFNwq6ZqewjJWymg6AE5QmPME3sa9r6GQNoajV4_CSvyJdwB6JXRQTJ0NEJtsbPW_LK9PICxzTQmwrZc8X7H6T-7U/s200/Super+mouse.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<b>2. Eu dormi com o Fofão</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Essa história é tão boboca que sinto um pouco de vergonha em contá-la. Quando criança, eu assistia muito a programas infantis de auditório. Não só o de Xuxa, Angélica, Sérgio Malandro -- sim, eu fazia o glu-glu -- e similares locais era composta a minha infância. Eu também fui fã de Bozo, Topo Gigio e Fofão. Deste último, tenho uma maior recordação, não só por causa do boneco amaldiçoado, mas pelo disco de vinil que ganhei de meu pai. Eu gostei tanto do presente que resolvi dormi com ele (!!!). Não me perguntem porquê fiz isso. Também não sei o motivo que fez meu pai aceitar isso -- neste dia, eu dormi ao seu lado, na cama do casal. É claro, é óbvio, é evidente que o disco amanheceu quebrado. E o que o retardado aqui fez? Abriu o berreiro. Meu pai, um santo, foi na loja e comprou outro. Desta vez, resolvi deixá-lo na prateleira, junto aos outros vinis. Santa inteligência!<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgd6chO9_mf8s-j6XWN7c0wSuS1b-PTea6B11fBvbSgU84v_oCD7x0NqNGA5pT-CfBFT1Tx84LmB0xGHWAVnFtvGaK5MwyID-LgmbN6t5uKcMFw6SNKqWA4VuIzPZlZt0fDT2rUF7qR7ZY/s1600/Disco-fof%C3%A3o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgd6chO9_mf8s-j6XWN7c0wSuS1b-PTea6B11fBvbSgU84v_oCD7x0NqNGA5pT-CfBFT1Tx84LmB0xGHWAVnFtvGaK5MwyID-LgmbN6t5uKcMFw6SNKqWA4VuIzPZlZt0fDT2rUF7qR7ZY/s200/Disco-fof%C3%A3o.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<b> 3. Eu deixei Cristina fugir</b><br />
<br />
<div>
<span style="background-color: white;">Eu tive uma lancha motorizada a pilha que se chamava Cristina (nome de fábrica, se é que você me entende). A única possibilidade de diversão com Cristina era colocá-la sobre a água, ligar seu motor e vê-la navegar. Enfim, o que esperar de uma lancha? Meu sonho era ter uma coleção daqueles navios artesanais de madeira, vendidos na praia pelos próprios autores, com as velas de tecido, decoração de conchas. Só que custavam caro e meu pai não comprava de jeito nenhum. Então, contentava-me com minha lancha motorizada, um brinquedo feito para ser brinquedo. Certa vez, minha família foi passar o fim de semana em Cacha Pregos, na ilha de Itaparica, onde a família de minha tia morava. Lá, podíamos escolher entre banhar-se no mar ou no rio. Às vezes, escolhíamos ambos, ficávamos no encontro do rio com o mar, num canal de escoamento da água doce. Foi nesse trecho que eu resolvi fazer Cristina nadar. E a danada nadou muito com suas pilhas novas em folha. Eu a liguei, me descuidei um pouco e não consegui mais alcançá-la. As águas agitadas não me deixaram agarrá-la. Nem os que tentaram conseguiram. Ela passou até por cima de quem estava mergulhando a cabeça na água para refrescar-se um pouco. Era rápida a minha Phelps. A lancha já estava chegando em alto mar quando foi pega por uns pescadores locais, que estavam no local com seu barco. A vantagem de ser criança é esta: os adultos fazem de tudo para te ver feliz novamente.</span></div>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFLhOTxiu8goJwe0aYfygVY3okBmyT0EhEkQk9v8DxWQ9ZGgto8HrHzcNRIOoLjTNiOnfTB1Lmu0dHtwhhvCxqAr1uelfiq1Ztx41sGxnVEVqWREjtvkwEc9D1kZPHxHS_AW6cbs5-jkg/s1600/cristina.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFLhOTxiu8goJwe0aYfygVY3okBmyT0EhEkQk9v8DxWQ9ZGgto8HrHzcNRIOoLjTNiOnfTB1Lmu0dHtwhhvCxqAr1uelfiq1Ztx41sGxnVEVqWREjtvkwEc9D1kZPHxHS_AW6cbs5-jkg/s200/cristina.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td></tr>
</tbody></table>
<b>4. Eu não deixava passar em branco a exploração de menor</b><br />
<br />
Minha mãe era -- aliás, é ainda hoje -- uma fumante compulsiva. Ela fuma, em média, três maços de cigarro por dia. E, como todo bom fumante, era muito, mas muito preguiçosa. Descer para comprar os próprios cigarros era algo que raramente ela fazia. Primeiro, pedia para mim ou para minha irmã. Se estívessemos fazendo algo importante, como estudando, recorria a meu pai. E não adiantava espernear. Tínhamos que descer e comprar na banca de revistas que ficava a poucos metros do prédio. Mas eu não deixava por menos. Ela tinha conta na banca, só comprava fiado para pagar no fim do mês. Então, toda ida minha para comprar cigarros rendia um gasto adicional de chocolate Lollo (quem não gostava?) e uma revista de palavras-cruzadas. Não sei porquê eu curtia bastante fazer as palavras-cruzadas comendo Lollo. Não podia ser outra combinação. Porém, um dia, minha farra foi descoberta. A conta deu muito alta e minha mãe nos proibiu de pegar itens adicionais em seu nome. Demo-nos mal. Continuamos comprando cigarros, agora sem ter nenhuma vantagem. Mas a farra foi boa enquanto durou.<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzPpYov7EqIRHjhH4mpgBqagy3DuubuOyedmBT675v2-LJYHgjyONtSlgZy6R-nG8fsGk9Q8Za3p3iZKiOGnGRIVx1gDvEBLIWPKiTnWMtf8X7h6FwLKG8QZ_3-uzZ9h37JoMIQ_qSE_0/s1600/lollo620.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzPpYov7EqIRHjhH4mpgBqagy3DuubuOyedmBT675v2-LJYHgjyONtSlgZy6R-nG8fsGk9Q8Za3p3iZKiOGnGRIVx1gDvEBLIWPKiTnWMtf8X7h6FwLKG8QZ_3-uzZ9h37JoMIQ_qSE_0/s200/lollo620.jpg" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td></tr>
</tbody></table>
<b>5. Eu vendia revistas mal conservadas</b><br />
<br />
<div>
<span style="background-color: white;">Meu pai fez assinatura da revista em quadrinhos Turma da Mônica para mim e minha irmã. Todos nós lá em casa, inclusive ele, adorávamos a revista. E o problema que ocorre com todos que tem assinatura de uma revista também ocorria conosco: o que fazer com todos aqueles exemplares antigos. Bem, eu, minha irmã e mais alguns amigos do prédio tivemos uma ideia brilhante. Ao invés de jogar fora, revendíamos as revistas. Íamos até a calçada em frente ao prédio e oferecíamos as revistas a quem estivesse por ali. Ao lado do edifício, tinha uma padaria e uma farmácia e, logo em frente, um bar. Portanto, sempre tinham potenciais clientes. E não importava o grau de conservação. Bastava que a capa estivesse em boas condições. Espertinhos, não? Confesso que muitos compravam só de achar engraçada a abordagem dos 'vendedores'. E o que fazíamos com o dinheiro arrecadado? Não lembro. Mas, com certeza, gastávamos com alguma bobagem.</span></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjy8F1gbR95I7u-fxINVQdEYnAwaVuCDQlC-lSETuMEQOWxqiCSqMT2kIiQJyUsmkPTuCk8mzN72A6fwItQF5F-XeQTC0b1pnMN10wwKtRF6PhgI8oAP0JdAkSsZWQxWp2c1_USSMu27Bs/s1600/_Casc%C3%A3o44.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjy8F1gbR95I7u-fxINVQdEYnAwaVuCDQlC-lSETuMEQOWxqiCSqMT2kIiQJyUsmkPTuCk8mzN72A6fwItQF5F-XeQTC0b1pnMN10wwKtRF6PhgI8oAP0JdAkSsZWQxWp2c1_USSMu27Bs/s200/_Casc%C3%A3o44.jpg" width="141" /></a></div>
<br />
<b>6. Eu estuprava a amiguinha</b><br />
<br />
Eu juro. A culpa não era minha. Olhe só a foto abaixo. Qual homem em plena puberdade resistiria? Uma boneca do tamanho de uma criança de 8 anos sabia muito bem o que estava fazendo, não é mesmo? Uma saia curta dessas provoca os instintos mais primários nos homens. Chegar todo dia e ver as coxinhas grossas da amiguinha... a carne é fraca, gente. Macho como eu não resiste. De fato, eu deveria entrar com um processo contra essa criatura, por ter me tentado, por ter provocado o ato. A boneca periguete da Estrela, ela iniciou-me no mundo dos prazeres do sexo. Só não era versátil -- carrinho de mão era a única posição que ela fazia. Que horror.<br />
<br />
#ironia<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcXUgfFT9U6y_ooCOK_Mp33sgpZj4l1XhJyha5Xc8D2icGrRt6MI34SKJqJ_-cbX8Q7peD3yKzqkzQKj5O1PULc10SjwmJh_HfUERWxT9l_zg663Y3ekZDLkswCpIVr_UsjH56Hll1Cfk/s1600/68534965_1-Imagens-de-Boneca-Amiguinha.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcXUgfFT9U6y_ooCOK_Mp33sgpZj4l1XhJyha5Xc8D2icGrRt6MI34SKJqJ_-cbX8Q7peD3yKzqkzQKj5O1PULc10SjwmJh_HfUERWxT9l_zg663Y3ekZDLkswCpIVr_UsjH56Hll1Cfk/s200/68534965_1-Imagens-de-Boneca-Amiguinha.jpg" width="150" /></a></div>
<br />
<b>7. Eu tomava água da torneira</b><br />
<br />
Isso é muito comum, eu sei. Afinal, quem gostava de deixar a brincadeira, subir escadas e ir em casa tomar água filtrada? Nenhum minuto podia ser perdido. Então, eu saciava a sede ali mesmo, na garagem do prédio. Abria uma torneira, utilizada para lavar os carros e os playgrounds, formava uma conchinha com as mãos e... pronto. O problema estava resolvido. Era só fazer exame de fezes uma vez por ano, tomar um remédio contra vermes e tudo voltava ao que era antes.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcMzzVmOHyse3ypaC9kWqAoWPq_tn_WA-lnuCVpktcAXfWlGFe6x7lebhyZ6ItypsdkOhlfQmnESBf5kpMweruwtHiR6T40KMzZyBGfCScE4sbTzwsuEuYwrYafcPRtEDLIEJE8tnFGWI/s1600/dia-mundial-da-agua.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcMzzVmOHyse3ypaC9kWqAoWPq_tn_WA-lnuCVpktcAXfWlGFe6x7lebhyZ6ItypsdkOhlfQmnESBf5kpMweruwtHiR6T40KMzZyBGfCScE4sbTzwsuEuYwrYafcPRtEDLIEJE8tnFGWI/s200/dia-mundial-da-agua.jpg" width="200" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTPYFWMzKEdX63CH7vu4XNdrk7TB9E8f5B2_ru1rrS5EzlZdBST82iH7pwRgxp59tXR3HwVXqumhaJJ-KB76-2rNN9Y94sN7YFEFPEyBH951vqy3rZif4bkffZ8pbwrREWtIXP1-yclV0/s1600/herpes_labial+3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a></div>
<br />
<br />
<b>8. Eu brincava com um amigo no escuro do quarto</b><br />
<br />
Não direi o nome do Santo. Não adianta insistir. Vai que o cara, hoje casado e com filhos, lê e se revolta comigo... Mas vou contar a história. Eu tinha um amiguinho -- e esse não era boneco da estrela -- que brincava muito comigo. Nós frequentávamos a casa um do outro. Podia dizer que se tratava do meu melhor amigo na época. Uma das brincadeiras que gostávamos muito era ir para o quarto, meu ou dele, fechar e trancar a porta, desligar a luz e ficar de esfregação -- masturbação através do roçar dos corpos. Rolavam uns beijos também, bem tímidos. Às vezes, fazíamos isso enquanto nossos pais estavam em casa. Nossa relação era apenas de amizade, não havia nenhum outro sentimento. Não pretendíamos viver além daquilo, até por que não sabíamos do que se tratava. Toda brincadeira tem começo e fim. E ela podia começar e terminar quantas vezes quiséssemos, sem problema algum. Não sei ao certo como nem quem começou aquela brincadeira. Só sei que é algo natural para a idade, período da adolescência. Muitos homens passam por essa experiência e nunca revelam. Um dia, um outro amigo do prédio também participou. Ele era mais velho e, portanto, tinha um preconceito já consolidado. Lembro perfeitamente que ele disse, após a diversão, que não repetiria para não acabar gostando daquilo. Bobinho. Podia ter se divertido muito mais.<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjExGHHrNOdjSTq-nNAUKYgy1YY3-xfEmQKX9wGKJrZ2vV-v3Vnpf8xy0Sl2AMgzyc9F90qrUkoLfsxHIT_wJ1NLvPhvl1s9rOmzY0xaJ6iRRgwg9xvxTn7x0oEwLPa6k6MwU-ro9NSE4Q/s1600/SEXUAL~1.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="146" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjExGHHrNOdjSTq-nNAUKYgy1YY3-xfEmQKX9wGKJrZ2vV-v3Vnpf8xy0Sl2AMgzyc9F90qrUkoLfsxHIT_wJ1NLvPhvl1s9rOmzY0xaJ6iRRgwg9xvxTn7x0oEwLPa6k6MwU-ro9NSE4Q/s200/SEXUAL~1.JPG" width="200" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Não só do sexo oposto temos curiosidades</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: center;">
</div>
<br />
<b>9. Eu nunca levei namorada para casa</b><br />
<br />
Pode falar o que quiser sobre a minha puberdade, na qual passei em sua totalidade no armário. Chamem-no guarda-roupa, gaveta, caixa de boneca, baú, sótão ou mausoléu. Tudo bem. Mas nunca diga que eu levei uma garota, hetero, bi ou lésbica, para apresentar a meus pais. Nunca tentei enganá-los. Nunca passou por minha cabeça fazer o que alguns amigos da época faziam. E olhe que uma conhecida lésbica um dia se ofereceu para ir comigo à faculdade de mãos dadas -- eu tinha dezoito anos -- e eu recusei. A ideia de fingir um relacionamento, de ludibriar uma menina ou mesmo de tentar me enganar, não me agradava. Tudo o que me faltava era coragem para ligar o foda-se e viver minha vida.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAspsHr6Um71MpaAxJnJ0YFD9_IpMXenEaFeknThWCD6JjteLl9M96GR5gb_tHjHn-ufU4eCz9wJsbAidDP125dvShqwIOXGyMg6MES9Tj29cYKa7SjE8sbLEYRHpin4wKAlJ5DCYByxw/s1600/saindodoarmario.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAspsHr6Um71MpaAxJnJ0YFD9_IpMXenEaFeknThWCD6JjteLl9M96GR5gb_tHjHn-ufU4eCz9wJsbAidDP125dvShqwIOXGyMg6MES9Tj29cYKa7SjE8sbLEYRHpin4wKAlJ5DCYByxw/s200/saindodoarmario.jpg" width="155" /></a></div>
<br />
<br />
Fim da lista de minhas peripécias. Pelo menos, de algumas delas. E aí, diga a verdade, alguém conseguiria me difamar melhor?</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com0Salvador - BA, República Federativa do Brasil-12.9703817 -38.512382-13.218028200000001 -38.835105500000004 -12.7227352 -38.1896585tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-15690681270207462862013-10-27T16:55:00.001-06:002013-10-27T16:55:34.104-06:00A experiência BODYXX<div style="text-align: justify;">
Foi na disciplina Ação e Mediação Cultural Através das Artes, ministrada pelo Prof. Djalma Thürler, que tive minha primeira experiência artística concreta. Ainda que tenha ficado restrita às dependências da universidade, a exposição fotográfica BODYXX, que ajudei a organizar, foi um sucesso. Não só o professor ficou satisfeito com o resultado, mas também os visitantes. Algumas pessoas entraram em contato para tentar levar a exposição para outros departamentos e até mesmo para além da faculdade. Infelizmente, isso ainda não aconteceu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgD-ZHimtZomkSy1ko7uzvOL2iVmTudRqKF07hgR1NqBWGmR-K9ZZ7MkJkHVhtqaW2h0Blud2ZF7UDJ_eCwWzk-XOFcWmrmXfRJIEMtd6Yl5i41ZD30SuYxGTaO5_WD7XbSiQodp_dh314/s1600/DSCN2687.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgD-ZHimtZomkSy1ko7uzvOL2iVmTudRqKF07hgR1NqBWGmR-K9ZZ7MkJkHVhtqaW2h0Blud2ZF7UDJ_eCwWzk-XOFcWmrmXfRJIEMtd6Yl5i41ZD30SuYxGTaO5_WD7XbSiQodp_dh314/s320/DSCN2687.JPG" width="320" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Tudo começou quando o professou escolheu o tema no qual toda a turma deveria se debruçar para elaborar projetos artísticos: o feminismo. Instantaneamente, tive a ideia de tratar o feminino trans*: sua construção, seu devir. A proposta agradou ao professor de imediato e, então, partimos para uma pesquisa sobre o tema.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A ideia original era produzir um documentário, no qual xs protagonistas teriam voz para falar o que quisessem. Assim, de forma espontânea, elxs delineariam toda sua subjetividade. Desde o início, fui contrário a qualquer abordagem vitimizante, que mostrasse aspectos negativos, como o preconceito sofrido etc. Foi então que Patrícia, colega estudante de fotografia, propôs uma série fotográfica no estilo do <a href="http://thenuproject.com/">The Nu Project</a>. Como a maioria da equipe conhecia o projeto do artista americano Matt Blum, a proposta foi acatada e o documentário foi descartado. Porém, a dificuldade de fotografar o íntimo das pessoas, principalmente daquelas que transitam entre gêneros, era um obstáculo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOECnBhI_4HT6TgycfuPnIQtOPKmYJDykMSRZiaszLnKdX1485zUfwWz9Wqen-ZNWgFzyowr4xgOL_BmchvGeGrDXx252Yos_2CpuH4sTG8Hj2w8eVr7HPp6_9uhpqJEoJ7kildbPzxW4/s1600/DSCN2699.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOECnBhI_4HT6TgycfuPnIQtOPKmYJDykMSRZiaszLnKdX1485zUfwWz9Wqen-ZNWgFzyowr4xgOL_BmchvGeGrDXx252Yos_2CpuH4sTG8Hj2w8eVr7HPp6_9uhpqJEoJ7kildbPzxW4/s320/DSCN2699.JPG" width="320" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
O tema era completamente novo para mim. Tudo o que eu conhecia a respeito de transgêneros advinha de notícias em jornais e discussões com amigos. Isso causou uma grande insegurança. O tema exigia cuidado, principalmente no tratamento com xs fotografadxs. Isso foi sentido também pelo restante da equipe. Era preciso, também, vencer os preconceitos. E isso só era possível a partir de muita leitura.<br />
<br />
E foi justamente o que eu fiz. Através de amigos e conhecidos na Academia, levantei uma bibliografia capaz de sustentar o argumento do projeto e de nos fazer adentrar no universo trans*. Eles também forneceram alguns contatos importantes para chegarmos a possíveis 'personagens'. Não foi fácil conseguir pessoas dispostas a expor-se por completo. Mais do que o corpo, elas estariam expondo sua personalidade, seu interior. Por isso que o ambiente escolhido para a sessão de fotos foi a residência delas. De todas as pessoas contactadas, por volta de sete, somente três aceitaram o convite. Uma delas por sentir vergonha do próprio corpo, "acima do peso", como descreveu. Das três trans* que toparam participar, uma não quis que o ensaio acontecesse em sua residência, pois não morava sozinhx. Se não fosse o pouco tempo disponível -- tivemos apenas um mês para definir e produzir a exposição --, teríamos conseguido uma ou duas pessoas a mais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvKa-fNjAPU8J-74NKZzfQ9Drs1fAupTYik9QRgBCU4IjlkVZ494gBaPIWbCbRYlSJNMVHHZhyphenhyphenOjFpuR9q1Yp2qJbmuypQbwcHxR6e8DgB8MRlZg-tQX3tcl5iTT_TKna5XuskXTA0ASQ/s1600/DSCN2704.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="306" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvKa-fNjAPU8J-74NKZzfQ9Drs1fAupTYik9QRgBCU4IjlkVZ494gBaPIWbCbRYlSJNMVHHZhyphenhyphenOjFpuR9q1Yp2qJbmuypQbwcHxR6e8DgB8MRlZg-tQX3tcl5iTT_TKna5XuskXTA0ASQ/s320/DSCN2704.JPG" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Da esquerda para a direita: Eu, Sandro, Túlio, Patrícia e Ne</td><td class="tr-caption" style="text-align: center;">ila</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
Durante o encontro inicial com <a href="http://porcausadamulher.wordpress.com/">Viviane Vê</a>, realizado para apresentar-lhe o projeto e fazer-lhe o convite, foi grande a tensão. Pisávamos em ovos o tempo todo. O erro que mais cometi, talvez o mais comum aos que adentram ao universo trans*, foi o uso correto do gênero. De forma impensada, tal gafe era frequentemente cometida. Como todos os outros integrantes da equipe tinham menos segurança, eu fui o porta-voz em todas as reuniões. A partir dx segundx entrevistadx, os acertos superaram os erros.<br />
<br />
Após toda a tensão inicial, o projeto caminhou com certa tranquilidade. Afora os problemas que todo trabalho em equipe possui -- infelizmente, algo bastante comum no BI em Artes --, a exposição obteve sucesso. A sua montagem me custou uma tarde de trabalho e a "cara feia" da chefa, mas o resultado obtido fez valer o incômodo causado. A grande maioria dos comentários escritos no livro de visita da exposição parabenizava a equipe. O professor, além de ter escrito elogios no livro, nos deu nota máxima. Para completar o sucesso, resta agora levar a exposição ao 'grande público'.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPn-yJ3oDIHA-bn-hW8-IwmfrjgLpMEdyYvJJhRZ69jvV-Bz0ozSBCtxly7NfS3D_w11nHZTbqTUCD6IfHgR5kasuIfobOpqjo7oOKv0OzPMB3ve2S3yoU-gVndz6f7LB-4mstmf-3_J8/s1600/DSCN2693.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPn-yJ3oDIHA-bn-hW8-IwmfrjgLpMEdyYvJJhRZ69jvV-Bz0ozSBCtxly7NfS3D_w11nHZTbqTUCD6IfHgR5kasuIfobOpqjo7oOKv0OzPMB3ve2S3yoU-gVndz6f7LB-4mstmf-3_J8/s320/DSCN2693.JPG" width="240" /></a></div>
<br />
Abraços e beijos de agradecimento ao professor Djalma Thürler, e xs fotografadxs Viviane Vê, Nuriko e Marina Garlen. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com0Salvador - BA, República Federativa do Brasil-12.9703817 -38.512382-13.218028200000001 -38.835105500000004 -12.7227352 -38.1896585tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-78100485855003904932013-10-12T13:49:00.000-06:002013-10-12T13:50:27.955-06:00[Curtas #4] A maior flor do mundo<div style="text-align: justify;">
Depois de um mês distante do <i>blog</i>, retorno para compartilhar um vídeo que encontrei recentemente no youtube. Trata-se de "A maior flor do mundo", um curta-metragem produzido em <i>stop motion</i>, baseado na obra infantil homônima de José Saramago, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura, em 1998. Nela, o autor se coloca como personagem para contar a história de um menino capaz de fazer brotar a maior flor do mundo. Saramago está presente na narrativa para desafiar-se a criar uma obra infantil, para a qual sentia-se inapto por não conseguir utilizar palavras simples. Serve também como uma provocação aos colegas de ofício. E, para além disso, é algo que nos faz refletir sobre o que tentamos ensinar às nossas crianças. Uma história ideal para o Dia das Crianças.</div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
"E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo tem andando a ensinar?" </blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: right;">
José Saramago.</blockquote>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/sFj-LgVH39E?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com0Salvador - BA, República Federativa do Brasil-12.9703817 -38.512382-13.218028200000001 -38.835105500000004 -12.7227352 -38.1896585tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-30856928129280293632013-09-10T16:15:00.002-06:002013-09-10T16:15:42.883-06:00Exposição fotográfica "Fluxo"<div style="text-align: justify;">
Começa na próxima quinta-feira 12 e vai até 30 do mesmo mês a exposição fotográfica "Fluxo", de <a href="http://agnescajaiba.com/">Agnes Cajaíba</a>, no Espaço Xisto Bahia, ao lado da Biblioteca Pública, nos barris. Composta de dez fotos, a exposição foi vencedora do edital Portas Abertas para as Artes Visuais, da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB). Na abertura, haverá uma mesa redonda, na qual os convidados discutirão o tema "(Trans)Identidades". Na sequência, quatro transformistas farão performances exclusivas para a ocasião.</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsoNQKw4TZMy3bucRzJoiDr4XhwgmvH9q0XoTSZCAe-CZcYD__kW176Uwif4pdC6lnYO-6Kk8Gn_Sqf3XASlM-KMSEsJsS9YLpjqATPo-CY-qJ_9CGzk_RCaGjsQia1yjtgTil_BxQBdo/s1600/Fluxo_Agnes-Cajaiba.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsoNQKw4TZMy3bucRzJoiDr4XhwgmvH9q0XoTSZCAe-CZcYD__kW176Uwif4pdC6lnYO-6Kk8Gn_Sqf3XASlM-KMSEsJsS9YLpjqATPo-CY-qJ_9CGzk_RCaGjsQia1yjtgTil_BxQBdo/s320/Fluxo_Agnes-Cajaiba.jpg" width="223" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Integrante da equipe <a href="http://www.labfoto.ufba.br/">Labfoto</a>, da UFBA, a fotógrafa baiana registrou as transformistas em suas residências, buscando captar o íntimo por trás do viver artístico das personagens. Dentre outros trabalhos de Agnes, destaca-se o fotolivro "Imóveis - um ensaio sobre o abandono", organizado por Carolina Coelho, publicado pela Edufba e disponível no <a href="http://www.blurb.com/books/4131211-imoveis">Blurb</a>.<br />
</div>
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmh6dQg3TwzNKooVpS09SsYXp5yUDGZiq0ZJuOpnvRFmS8a9HBLrR_q9aKSlppKM-lNr47SIYyjTdWcMMgYb-Wmg_kAAWPYXUfwyYzDCxLZMLoZAJ1Dee7KgKCB_bMRcbnm-pGtJ6IHGc/s1600/fuxo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmh6dQg3TwzNKooVpS09SsYXp5yUDGZiq0ZJuOpnvRFmS8a9HBLrR_q9aKSlppKM-lNr47SIYyjTdWcMMgYb-Wmg_kAAWPYXUfwyYzDCxLZMLoZAJ1Dee7KgKCB_bMRcbnm-pGtJ6IHGc/s320/fuxo.jpg" width="240" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
"Fluxo" segue o mesmo conceito da exposição "<a href="http://impressoessobreaestrada.blogspot.com.br/2013/08/bodyxx-uma-experiencia-transcultural.html">BODYXX - uma experiência trans*cultural</a>", da qual participei da concepção, produção e curadoria. Ambas buscam a intimidade das personagens, visibilizando a sua essência e, ao mesmo tempo, contribuindo para a quebra da binarização dos corpos -- a formação cultural de homens e mulheres baseada exclusivamente no sexo. No entanto, "Fluxo" possui um escopo mais reduzido, focando-se apenas nos artistas transformistas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5Ne5Ed77704QDlgGfAwb-UOmG9oj9VOR7f1JQnvzZj3RNk8_3MWqNKHSQg57Xbe0ldkDJG-WvPqVVgTFd1Bf-bbMimf_zu-qhcJzIE3dFidAe1713isIklEYraTTWy82u1DbowpB0Nhc/s1600/url.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="184" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5Ne5Ed77704QDlgGfAwb-UOmG9oj9VOR7f1JQnvzZj3RNk8_3MWqNKHSQg57Xbe0ldkDJG-WvPqVVgTFd1Bf-bbMimf_zu-qhcJzIE3dFidAe1713isIklEYraTTWy82u1DbowpB0Nhc/s320/url.jpeg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com0Salvador - BA, República Federativa do Brasil-12.9703817 -38.512382-13.218028200000001 -38.835105500000004 -12.7227352 -38.1896585tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-22418156447096988572013-09-03T17:39:00.000-06:002013-09-03T17:39:39.743-06:00[Debates #3] Educação Sexista<div style="text-align: justify;">
Eis o último e o mais interessante debate promovido no semestre passado. Como disse no <a href="http://impressoessobreaestrada.blogspot.com.br/2013/05/debates-1-cultura-x-arte.html">primeiro debate publicado aqui no blog</a>, os relatórios resultantes faziam parte da avaliação da disciplina Estudos das Culturas. Infelizmente, não houve incentivo por parte da empresa nem por parte dos colegas em prosseguir com a experiência. Apesar de muitos terem me procurado para dizer que gostaram de participar dos debates, ninguém efetivamente demonstrou interesse em sua continuidade. Infelizmente, analistas de sistemas preferem limitar-se a temas tecnológicos. Um evento organizado por um colega para discutir temas diversos, distantes do cotidiano do trabalho, e mais aprofundadamente, parece só funcionar com a anuência da chefia. Talvez as pessoas só compareçam para agradar aos seus superiores. Uma pena.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/3jtaKFokAX0?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div>
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/NgWtOHVwaYk?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Este relatório apresenta uma análise do último debate promovido como
pré-requisito para aprovação na disciplina Estudos das Culturas. Ele
ocorreu em 20 de fevereiro de 2013, às 12h30, durante o horário de
almoço, numa sala de reunião da empresa em que trabalho, com a presença
dos colegas Ana Regina, Regina Lúcia, Gabriel Musse, Isabel Nadine e
Fábio Silvestre, envolvendo o tema “Educação Sexista”. O debate foi
registrado em vídeo, em duas partes.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Iniciei o debate, perguntando a todos se possuem ou desejam possuir filhos, se quiseram ou quererão saber o sexo da criança antes do seu nascimento e o motivo. Dessa forma, iniciando com perguntas e não diretamente com o vídeo, o tema foi introduzido aos poucos, resultando em respostas mais espontâneas e verdadeiras. Isso possibilitou também a percepção de contradições ao longo do debate, à medida que o tema surgia com maior precisão e denunciava algo cotidiano, porém pouco questionado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Apenas Isabel e Fábio ainda não tem filhos. Todos os outros participantes possuem ao menos um. Regina e Gabriel, por exemplo, possuem dois e ambos, quando indagados sobre o motivo de querer saber o sexo dos bebês, responderam só ter desejado saber o do segundo filho. Na primeira vez, quiseram manter a surpresa. Regina mencionou que sofreu pressão da família para saber o sexo do segundo filho, pois todos queriam um casal – ela já tinha uma menina. Gabriel salientou que, para ele, isso foi importante para montar o enxoval, “pra comprar a cor certa”. Ana foi ainda mais enfática ao dizer que precisava saber o sexo para não se privar de “fazer um quarto completamente cor de rosa”, caso tivesse uma filha, tal qual ela pareceu sempre sonhar. De fato, a mesa de trabalho de Ana é repleta de pequenos objetos, a maioria na cor rosa, refletindo sua posição sobre o assunto. No entanto, contrariando seu desejo, ela teve um filho e, por isso, preparou um quarto predominantemente azul, com “tema de menino”. Isabel disse, com menor ênfase, desejar saber o sexo do bebê pelo mesmo motivo. Para Fábio, “tanto faz”. Ele não pareceu disposto a discutir esse tema e se retirou da sala no início do debate.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A próxima pergunta referia-se às decisões tomadas após se ter ciência do sexo da criança. Ana respondeu que procurou conhecer o “mundo menino”. Citou ser mais fácil, hoje em dia, escolher presentes para meninos – ela sabe o que gostam, os heróis preferidos, os canais de TV que assistem, etc. Disse ser fácil comprar presentes para meninas na faixa de oito anos, pois já estão “ficando moças”. Exemplificou: kit de maquiagem, esmalte para as unhas, necessaires, etc. Os exemplos citados foram de produtos de beleza, mostrando como as mulheres são estimuladas desde crianças a ter um padrão de feminilidade. Quando indagada sobre o conceito de “mundo menino”, comentado anteriormente, ela prosseguiu com a ideia já iniciada, afirmando que os meninos enxergam o mundo de outra forma, que as meninas são mais românticas e doces. Em seguida, contou como se comporta frente à obrigação de assumir duplo papel na educação do filho, sendo pai e mãe. Pareceu-me fuga à pergunta, talvez por ter notado certo sexismo no seu discurso. O vídeo seguinte mostrou claramente de que tema se tratava o debate e suscitou por partos participantes a análise das respostas que tinham dado até aquele momento.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O primeiro vídeo apresentado (logo abaixo) foi de uma menina inglesa,
com idade próxima a três anos, que questionava ao pai o motivo de não
poder ter super heróis de brinquedo, como os meninos, e ter que se
contentar com a cor rosa. Terminado o vídeo, Gabriel criticou o
comportamento da maioria das pessoas, afirmando que somos acomodados e
não questionamos o que nos é imposto culturalmente. Para ele, a gente
apenas vai se adequando ao modo padrão de viver. Destacou haver
diferenças de criação: meninos brincam de caminhão e meninas de boneca,
pois estas são educadas para ser mães. Questionei se uma inversão de
cores (rosa para meninos e azul para meninas) ou uso de múltiplas cores
para ambos teria alguma influência negativa. Todos responderam que não.
Isabel disse que pretende usar temas neutros na decoração do quarto
do(a) filho(a), pois acha rosa cafona. Nas declarações seguintes, notei
uma postura defensiva de alguns participantes. Vários exemplos pessoais
foram apresentados, todos pontuais, para mostrar que o interlocutor não
aplicou uma educação sexista em algum momento. De fato, as afirmações
feitas na primeira etapa do debate, em que os participantes apenas
respondiam as perguntas, geraram um certo desconforto após a
apresentação do vídeo. Regina disse não se sentir confortável em contar
detalhes – talvez fatos – da sua educação e da educação de seus filhos.
Então, relatou que sua sobrinha sempre gostou de brincar com meninos e
que seus pais tentaram mudar isso diversas vezes. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/Lpp4Zt4caZY?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pouco depois, um vídeo promocional da fabricante de brinquedos infantis Magic Toys foi apresentado. Nele, era exibido o portfólio de brinquedos para meninas. Vários trechos remetiam ao assunto discutido e retratavam o comportamento esperado de uma menina quando adulta: “As máquinas de lavar são super divertidas”, aprende-se sua utilidade brincando; “As pias funcionam de verdade”, permitindo que a criança pratique as funções que desempenhará no futuro; “O fogão Master Chef é igual ao da mamãe”, indicando o motivo para elas desejarem ter um. Regina e Gabriel imediatamente disseram que se tratava de uma lavagem cerebral, que à menina já é ensinado a ser dona de casa. Ana mostrou-se contrária, dizendo que nos tempos atuais, o principal objetivo das mães para com as filhas é estudo/profissionalização, mas que as mulheres, quando adultas, de forma inconsciente, continuam a se preparar para cuidar da casa, dos filhos e do marido. Discordo da afirmação de Ana, pois não considero a educação apenas relacionada à educação formal e muito desse pensamento adquiri com os debates em sala de aula. Assim, a relação entre os pais, a divisão de tarefas domésticas, os papéis que exercem na educação dos filhos, os diferentes assuntos abordados no ambiente do lar, os gostos demonstrados, a escola, o convívio com as amigas e os amigos, a mídia, tudo embute sexismo na formação do indivíduo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/2iw3TYktecQ?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Regina contou uma experiência pessoal. Disse ter sido criada no meio de meninos – ela possui três irmãos – e que sempre foi normal participar de grupos misturados, em que todos brincavam juntos. Porém, contou que, ao brincar de casinha, a menina mais velha (não o menino mais velho) ia para o fogão cozinhar para todo o grupo. Ela não notou, mas ao dizer isso confirmou a divisão 'natural' de papéis de acordo com o sexo. A temática prosseguia até Regina, de forma espontânea, associar o tema à violência contra a mulher. Este era o ponto a ser tratado pelos slides seguintes, dois materiais publicitários referentes à campanha contra a violência. No primeiro, solicitado pelo Governo do Estado da Bahia, à época do carnaval deste ano, apelava para um tratamento adequado para a mulher durante a folia. No segundo material, um vídeo promovido pelo Governo do Equador, denunciava o machismo como crime e narrava a sucessão de gerações de uma família e a passagem da cultura sexista entre elas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O sexismo é a base do machismo, e este, por si só, é uma violência contra o homem e a mulher. As consequências da educação sexista extrapolam a relação heterossexual binária. De fato, as questões de gênero são bem mais amplas. Boa parte do preconceito existente hoje contra homossexuais e trans* advém do sexismo e sua normatização do corpo masculino e feminino. Como esse grupo transgride a relação com o corpo biológico, desvirtuando-o segundo a ‘norma’, não possui uma divisão clara de papéis. Por isso, os demais tendem a ter dificuldade de entender, por exemplo, uma relação homoafetiva com naturalidade. É comum enxergarem um macho e uma fêmea na relação, tentar encaixá-la em seu mundo. Conforme afirmou Guacira Lopes Louro<sob> [1]</sob>, a sexualidade não pode ser considerada através de uma abordagem meramente biológica, pois as identidades se definem no âmbito da cultura e da história. Além do mais, o corpo (comportamento e gestos) não é mais representação da identidade. Atualmente, podemos nos deparar com mulheres heterossexuais cada vez menos doces, românticas e sonhadoras. Algumas até com ‘trejeitos mais masculinos’. A situação é ainda pior quando se trata de travestis, transexuais e transgêneros por transgredirem ainda mais os conceitos estabelecidos. Não é à toa que estes são alvos de preconceitos dentro do próprio grupo LGBTQ. E também não é à toa que esses atos negativos estejam aumentando, devido à visibilidade que estas minorias estão alcançando e às conquistas no campo do direito, como o uso do nome social, a possibilidade de realização da cirurgia de mudança de sexo pelo SUS, entre outros. Trata-se da interação entre os grupos, os minoritários e os normativos, a chamada interculturalidade [2].<br />
<br />
Referências<br />
<br />
[1] LOURO, Guacira Lopes. O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. <br />
[2] DA SILVA, Tomaz Tadeu. Diferença e identidade: o currículo multiculturalista. In: Documentos de Identidade, uma introdução às teorias do currículo. 2ª edição. Belo Horizonte: Autêntica, 2007, p. 85-90.</div>
</div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com0Salvador - BA, República Federativa do Brasil-12.9703817 -38.512382-13.218028200000001 -38.835105500000004 -12.7227352 -38.1896585tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-82423637042316971802013-08-26T10:39:00.001-06:002013-08-27T12:20:27.640-06:00BODYXX - uma experiência trans*cultural<div style="text-align: justify;">
A partir desta quarta-feira (28) até a sexta-feira (30), estará em cartaz a exposição BODYXX - Uma experiência trans*cultural. É o primeiro projeto artístico do qual faço parte da produção. Ele é fruto da avaliação final da disciplina Ação e Mediação Cultural Através das Artes, do Bacharelado Interdisciplinar em Artes, da UFBA. Há muito o que contar sobre essa experiência, mas deixarei para fazê-lo em outra oportunidade. Agora, deixo apenas um convite para aqueles que se interessarem por esse encantador universo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
__________________________________________</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQytVFTO2OThhpEhb2upQvx04E6amDROeGRCYGbPG6IUHD0570H8eXJ3pzYuLDZ2HZpvX7IZ6Lt45m8XGPqdvNDt7ROu_9hMlPwtPPw6laOR7D-uNpqedr3Mlm2f7W6qSKr0dCDNP3SV4/s1600/Divulga%C3%A7%C3%A3o+BODYXX.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQytVFTO2OThhpEhb2upQvx04E6amDROeGRCYGbPG6IUHD0570H8eXJ3pzYuLDZ2HZpvX7IZ6Lt45m8XGPqdvNDt7ROu_9hMlPwtPPw6laOR7D-uNpqedr3Mlm2f7W6qSKr0dCDNP3SV4/s320/Divulga%C3%A7%C3%A3o+BODYXX.jpg" width="228" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Há uma estética homogeneizante dos corpos que dificulta nossa aceitação diante da diferença e, consequentemente, causa sofrimento pela nossa aparência e/ou identidade diante do mundo. O ''The Nu Project'' (<a href="http://thenuproject.com/">http://thenuproject.com</a>), projeto iniciado em 2005 pelo fotógrafo Matt Blum, busca revelar ''corpos de verdade'', mostrando mulheres de vários tipos e indo contra essa homogeinização dos corpos. O objetivo também é a valorização e aceitação dos corpos pelas próprias mulheres. Apesar da variedade de corpos presente no projeto, as mulheres retratadas são, aparentemente, cisgêneras. O fotógrafo e idealizador do projeto explica que o projeto é 100% colaborativo, e que ele não conhece as mulheres que vai fotografar até o dia da sessão, e nunca aconteceu de ser uma mulher transgênero.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A dificuldade de aceitação do próprio corpo não é um problema exclusivo das mulheres, muito menos só daquelas cisgêneras. Homens e mulheres cisgêneros, transsexuais, travestis, cross-dressers, hermafroditas etc, todos os tipos de corpos sentem algum tipo de pressão de tendência homogeneizante, e, por isso, necessitam de auto aceitação e visibilidade. Inspirado pelo ''The Nu Project'' e sentindo necessidade de complementá-lo, o projeto ''BODYXX'' busca um nu sincero dos mais variados corpos, um enquadramento alternativo que não seja tão homogeneizador e biologizante.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com0Salvador - BA, República Federativa do Brasil-12.9703817 -38.512382-13.218028200000001 -38.835105500000004 -12.7227352 -38.1896585tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-77044308459379206972013-08-14T15:27:00.000-06:002013-08-14T15:37:20.638-06:00A (des)colonização da história da arte<div style="text-align: justify;">
<div style="text-align: right;">
Carlos Henrique Costa </div>
<br />
A colonização europeia instituiu uma supremacia multifacetada perante os países colonizados que vai além do aspecto jurídico-político. Criou-se uma relação de poder capaz de perpetuar uma hegemonia até os tempos atuais, pós-colonização. A independência conquistada pelas colônias não foi capaz de reverter essa condição, presente na economia, na política, na educação, na relação social. Com a arte não foi diferente. Além de se apresentar como quesito de sublevação cultural, tentou-se estabelecer uma única arte válida universalmente, europeia e ocidental, sem diálogo com a arte produzida fora desse eixo. A dominação política configura-se, dessa forma, sob fortes aspectos culturais.<br />
<br />
Desde o fim do século XV se reproduz o modelo que considera os conhecimentos produzidos no mundo não-europeu e não-ocidental inferiores. Há um profundo desinteresse dos intelectuais europeus-ocidentais pelos conhecimentos advindos de outras partes do mundo. Diferencia-se, dessa forma, o “Norte” e o “Sul”, o ocidente e o oriente, através de uma relação unilateral dos primeiros para os últimos. As teorias desenvolvidas no “Norte” são impostas ao “Sul” sem considerar as realidades distintas dos países. Institui-se o universalismo, que privilegia um “sistema-mundo ocidentalizado/cristianocêntrico moderno/colonial capitalista/patriarcal” (GROSFOGUEL, 2012). Apesar do caráter integrador que o universalismo possui, sua prática embute um sistema de exclusão.<br />
<br />
Segundo Santos (1999), essa exclusão trata das relações de poder horizontais. Ela atua no eixo cultural de dominação. Dessa forma, o diferente é integrado ao mundo europeu-ocidental dentro de um sistema hierarquizado. A desigualdade transforma-se em exclusão. Apresenta-se um modelo a ser seguido e, ao mesmo tempo, fundam-se normas que impedem a “evolução” dos diferentes. Perpetua-se, então, a relação de submissão cultural, a que Balandier (1993) denominou “situação colonial”.<br />
<br />
A situação colonial é a relação entre dominador e submisso mesmo após a descolonização jurídico-política do país. Não se refere apenas a uma dominação econômica, mas fundamentalmente cultural (BALANDIER, 1993). Assim, o termo colonialismo pode ser ampliado para caracterizar toda relação de poder existente, como uma relação política, econômica, sexual, espiritual, epistemológica, pedagógica, linguística e cultural/estrutural de cunho etnorracial. Consequentemente, descolonizar assume o sentido de rompimento da relação social de poder que privilegia as populações euro-americanas em detrimento das demais (GROSFOGUEL, 2012). <br />
<br />
A hierarquia impõe uma geopolítica do conhecimento que dita o que é visível e o que não é visível. O lugar de onde se fala – a corpo-política – influencia na magnitude do pensamento (GROSFOGUEL, 2012). Por isso, a produção criativa e intelectual dos países colonizados é sufocada, possui um alcance pequeno, pois controlado. Seguindo esse princípio, a arte também esteve no curso do colonialismo cultural. Ela teve uma história, na maior parte de sua existência, marcadamente eurocêntrica.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyVdfimmo7o68ld2rDdGz6865ZhaDS3FQBnRFzIngePeMqQStkFLvmFcBt7ou2kMwSVvvlug230R3NRUTqlIU60B6_NVYHMeABVg0AeSqgdJB53guSf10XFW5FqdzdIbzR_HFA2ZSQQjo/s1600/struth9.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="274" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyVdfimmo7o68ld2rDdGz6865ZhaDS3FQBnRFzIngePeMqQStkFLvmFcBt7ou2kMwSVvvlug230R3NRUTqlIU60B6_NVYHMeABVg0AeSqgdJB53guSf10XFW5FqdzdIbzR_HFA2ZSQQjo/s320/struth9.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Salão do Museu do Louvre, em Paris</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
A história da arte é um produto da modernidade. Ela teve início no fim do século XIX, no decurso do conceito de estilo, surgido como um atributo que pretendia demonstrar um desenvolvimento da arte em conformidade com uma lei culturalmente estabelecida. O primeiro passo foi buscar no estilo do passado os fundamentos para determinar os princípios que norteariam a história da arte daquele em momento em diante. Assim, voltaram-se aos artistas, às suas vidas e às formas de suas obras de uma época remota. Surgiu daí o contraste entre o que buscavam os historiadores (e também os cientistas e os críticos) da arte e os próprios artistas modernos, para os quais o modelo estilístico adotado não se encaixava (BELTING, 2012).<br />
<br />
Ao abordar a visão construída pelo historiador acerca da situação colonial, Balandier (1993) a definiu como uma descrição da mecânica da relação da metrópole com a colônia, focada, sobretudo, no fator econômico. Os processos de resistência e a dinâmica social de poder não foram esmiuçados por eles. Prevaleceu uma visão a partir do dominante, eurocêntrica e ocidental. Os historiadores da arte seguiram o mesmo caminho.</div>
<div style="text-align: justify;">
<blockquote class="tr_bq">
“<i>Na maior parte do século XX, a Europa Ocidental e a Oriental não possuíram nenhuma história da arte que pudessem compartilhar entre si ou à qual se referir conjuntamente. A modernidade interrompida em países como a Rússia, cuja vanguarda deu o que falar por algum tempo mesmo no Ocidente, reforçava o equívoco de que a modernidade ocorrera apenas no Ocidente, como se ela não tivesse sido sempre reprimida no Leste, onde, aliás, o transcurso do tempo foi em geral totalmente diferente para cada um dos países da Europa Oriental.</i>” (BELTING, 2012, p. 101-102)</blockquote>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
A história da arte sempre foi uma história da arte hegemonicamente europeia. É uma criação de uso restrito e para uma ideia restrita de arte. Ela desconsiderou o clamor artístico por uma representação fidedigna do que ocorriam nas galerias/exposições em todo o mundo. Os artistas do pós-guerra tentavam se desvencilhar dos formalismos instituídos, atacando uma arte tida como elitista, voltada a intelectuais, oficialmente reconhecida nos museus. Fazia-se uma “arte cultural”, de idéias, conceitual, uma arte viva – notadamente, os artistas dos movimentos conhecidos como surrealismo, dadaísmo e outros. Por algum tempo, a produção do artista americano Andy Warhol permaneceu incompreendida pelos europeus. Atualmente, o mesmo ocorre com a arte multimídia, cujas análises confundem-se com a história da tecnologia utilizada no processo criativo (BELTING, 2012). As obras modernas em si são alijadas da história da arte, ainda sob forte influência do modelo europeu ocidental de formalismo arraigado. Quando muito, elas constroem para si uma história da arte alternativa. Dessa forma, o trabalho dos artistas modernos – e daqueles que, em sua época, eram também incompreendidos – constitui-se num claro processo de descolonização da arte. <br />
<br />
Com o tempo, reproduz-se o costume de atribuir ao objeto o status de arte se este foi aceito como tal pelas autoridades conhecedoras do assunto (historiadores, cientista e críticos de arte) e por suas instituições (museus, cinemas de arte, salas de concerto) (COLI, 2006). O que é e o que não é arte sempre foi determinado culturalmente, e sob um viés colonizador. A dominação cultural da arte cria sua própria hierarquia, fundamentada na ideologia europeia-ocidental instituída no século XIX. O conceito de obra-prima é a determinação de um nível hierárquico superior que seleciona estilos, obras e autores em detrimento dos demais. Além disso, impõe modelos formais de criação. Torna-se normativo. Estabelece uma relação de poder que exclui quem rompe com o estabelecido. Por fim, não estreita laços com os artistas e seu público, tal qual os intelectuais do “Norte”, que não reconhecem os conhecimentos produzidos pelos intelectuais do “Sul”.<br />
<br />
* Leia também o artigo "<a href="http://impressoessobreaestrada.blogspot.com.br/2013/03/afinal-alguem-pode-me-dizer-o-que-e-arte.html">Afinal, alguém pode me dizer o que é arte?</a>" <br />
<br />
<b>Referências</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
BALANDIER, Georges. A noção de situação colonial. Tradução: Nicolás Nyimi Campanário. Revista plural. PPG Sociologia. São Paulo: USP, 1993.<br />
<br />
BELTING, Hans. A modernidade no espelho do presente – sobre mídias, teorias e museus. In: O fim da história da arte – uma revisão dez anos depois. 1a Ed. São Paulo: Cosac Naify, 2012, p. 24-198.<br />
<br />
COLI, Jorge. O que é arte. São Paulo: Brasiliense, 2006.<br />
<br />
GROSFOGUEL, Ramón. Descolonizar as esquerdas ocidentalizadas: para além das esquerdas eurocêntricas rumo a uma esquuerda transmoderna descolonial. Dossiê Saberes Subalternos. Revista Contemprânea: UFSCAR, 2012.<br />
<br />
SANTOS, Boaventura de Sousa. A construção multicultural da igualdade e da diferença. CES – Centro de Estudos Sociais. Coimbra, 1999.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com0Salvador - BA, República Federativa do Brasil-12.9703817 -38.512382-13.218028200000001 -38.835105500000004 -12.7227352 -38.1896585tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-21409288179165899802013-08-07T16:00:00.001-06:002013-08-11T05:35:04.328-06:00A reeducação de adultos<div style="text-align: justify;">
Por causa da greve dos professores universitários ano passado, o calendário acadêmico foi alterado e tivemos aulas em períodos nos quais costumávamos estar de férias. Assim, em janeiro deste ano, o meu segundo semestre do curso de Artes, na UFBA, estava a todo vapor. Eu e outros quatro colegas marcamos uma reunião de equipe na área externa de um shopping center para discutir o trabalho que apresentaríamos duas semanas depois. Como de costume, o quórum foi baixo. Apenas eu e um colega fomos ao encontro. Ele me apresentou o trabalho que fazia para uma outra disciplina e conversamos sobre assuntos diversos. Em um deles, tive que corrigir o gênero utilizado para se referir ao meu namorado. Como se sabe, é culturalmente estabelecido que um "homem" deve se relacionar com uma "mulher". É o comportamento esperado, tido como padrão. Eu usava aliança na mão direita e falávamos de relacionamentos, então tive de modificar o gênero que ele havia mencionado, explicitando a minha orientação sexual -- se é que ele ainda não havia percebido. A partir deste momento, ele pediu licença para me fazer algumas perguntas que julgava pessoais.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
As perguntas que se seguiram denotaram muita curiosidade. Meu colega aparenta ter entre 35 e 40 anos de idade, negro, morador de bairro popular, policial militar, músico e está fazendo o seu primeiro curso de graduação. Ficou bastante claro o desconhecimento e a imagem convencional por trás das indagações. Lembrou-me uma criança fazendo descoberta, ávida por novidade. Mas se tratava de um adulto, com personalidade e (pré-)conceitos formados.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://cantodoslivros.files.wordpress.com/2012/04/pq.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://cantodoslivros.files.wordpress.com/2012/04/pq.jpg" /></a></div>
<br />
Estas foram as perguntas feitas, sem acrescentar nem remover uma palavra:<br />
<ul>
<li>Quando você decidiu ser homossexual?</li>
<li>Você nunca gostou de mulher?</li>
<li>Como é o preconceito social? </li>
<li>Você e seu namorado tem a mesma relação de sentimento, carinho e tesão que um homem tem por uma mulher?</li>
<li>Como você leva a sua vida?</li>
</ul>
Entre perguntas e respostas, seguiram-se comentários ainda mais carregados de preconceito, tais como:<br />
<ul>
<li>Ele afirmou admirar homossexuais pela coragem que tiveram de querer ser assim, mesmo eu já tendo dito que não foi uma decisão, assim como a sua orientação heterossexual.</li>
<li>Assim como o "<i>swing</i> baiano" -- como ele denomina o pagode, excluindo daí as músicas pejorativas produzidas --, o homossexualismo (sic) também tem suas divisões. Por exemplo, ele detesta as bichas espalhafatosas (sic), relacionando tal comportamento a falta de educação.</li>
<li>Ele afirmou também não gostar da promiscuidade de alguns homossexuais.</li>
</ul>
Opto por não transcrever minhas respostas e comentários. Nelas, tentei ser o mais didático possível, apesar de não me alongar muito nas explicações. Não almejei desconstruir preconceitos, pois não era possível fazê-lo numa conversa rápida e informal na varanda de um shopping. Confesso que tenho tido pouca paciência para fazer isso ultimamente. Mostrei os erros que cometera, mais para aguçar a sua curiosidade, fazê-lo buscar conhecimento. Aquele era um contato inicial, que pode ter sido o primeiro de muitos que ele terá na universidade, com muitos outros colegas de diferentes orientação sexual e gênero, além de discussões levadas por professores. Penso que, como ele, existem muitos outros adultos na universidade precisando ser reeducados. A oportunidade está aí. A minha contribuição está sendo dada.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com0Salvador - BA, República Federativa do Brasil-12.9703817 -38.512382-13.2180292 -38.835105500000004 -12.722734200000001 -38.1896585tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-80079717447058530172013-08-01T09:25:00.000-06:002013-08-01T09:25:35.401-06:00Súplica<div style="text-align: justify;">
Este segundo poema que apresento veio na esteira de "<a href="http://impressoessobreaestrada.blogspot.com.br/2013/03/vazio.html">Vazio</a>". Na verdade, sua concepção iniciou-se antes deste, mas demorou muito, mais de um mês, para que irrompesse da minha mente. Os primeiros cinco versos surgiram primeiro, durante uma noite comum, na qual o sono demorou para manifestar-se. Saí da cama e peguei papel e caneta sofregamente. Parei no quinto verso, reservei toda a estrofe e esperei o momento até que o restante do poema surgisse. E eu não fazia ideia de como se desenvolveriam os versos seguintes. A estrofe criada dava muitas possibilidades, o que tornava ainda mais nebulosa a sua continuidade. Ideias vinham e iam. Até que um dia brotou este que foi o melhor -- o que mais gosto -- poema que já escrevi.</div>
<br />
Súplica<br />
<br />
Rompe-se dos céus<br />
O soar das estridentes trombetas dos anjos<br />
É o sinal do findar de um império<br />
E despertar dos martírios humanos<br />
O inferno, enfim, vigorará!<br />
<br />
Vês, majestade, enganaste a ti próprio<br />
Teus enormes pilares<br />
Que antes sustentavam soberba riqueza<br />
Hoje denunciam rachaduras<br />
Em meio a tão frágil barro com que ergueste<br />
<br />
Sintas, supremo rei,<br />
O amargo sabor da traição<br />
Daqueles que devem a ti a existência<br />
E intimamente espalharam teu segredo<br />
Compartilharam da tua fraqueza<br />
<br />
Criaste-os como matéria<br />
Domesticaste-os segundo teus ingênuos conceitos<br />
Deste-lhes a carcaça,<br />
O incestuoso corpo<br />
Mas esqueceste de lhes colocar uma alma<br />
<br />
Tu não criaste o homem<br />
Criaste o diabo<br />
A tua imagem e semelhança<br />
E vendo quão perfeita era tua criatura,<br />
Descansaste<br />
<br />
Estando ilhado de mentiras<br />
Por que, então, não me transformaste em anjo?<br />
Por que rejeitaste tão pura servidão?<br />
Que infortúnio te obrigas a renunciar socorro?<br />
Escolha uma face e responda!<br />
<br />
Deus do inferno,<br />
Por que não carregas minha alma contigo<br />
Não me tornas o que carnalmente nunca fui<br />
Um ser feliz,<br />
Para servir-te até a tua morte?<br />
<br />
Teu cajado não mais suporta<br />
O peso da tua lamúria<br />
Já não podes acudir a quem te ama<br />
Sentes-te inseguro, tens medo<br />
Quem és, afinal?<br />
<br />
Respondo eu a mim mesmo:<br />
- Não és nada!<br />
<br />
Finalizado em 27/10/1997, também aos 17 aninhos.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com1Salvador - BA, República Federativa do Brasil-12.9703817 -38.512382-13.218028200000001 -38.835105500000004 -12.7227352 -38.1896585tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-25163604199211356112013-07-19T10:47:00.001-06:002013-07-19T10:50:11.710-06:00Procuram-se amigos cinéfilos desesperadamente<div style="text-align: justify;">
Li o texto de Ricardo Cota, no site <a href="http://criticos.com.br/">Criticos.com</a>, na semana passada e não me contive. A vontade de compartilhá-lo foi imediata. Mas não podia ser no <i>facebook</i> ou em qualquer outra rede social que não permite expressar o motivo da comoção apropriadamente. Por lá, só mesmo imagens rendem leituras, sempre apressadas. Resolvi, então, publicá-lo aqui.<br />
<br />
Gosto bastante de cinema e teatro, a ponto de frequentar as salas quase todos os fins de semana. Às vezes, eu e meu esposo vamos ao cinema e ao teatro no mesmo fim de semana. Para nós, é uma programação padrão. Quando não tem uma opção de lazer que nos cause maior ansiedade, escolhemos teatro e/ou cinema. Quando estamos com preguiça de sair de casa, assistimos a filmes deitados na cama, enrolados no lençol. Mesmo se o filme ou a peça não agradar, o programa em si sempre nos agrada. Comentar sobre o que acabamos de assistir é algo que adoramos fazer. Só lamentamos quase sempre fazê-lo sozinhos.<br />
<br />
Temos pouquíssimos amigos que topam curtir o escurinho do cinema facilmente. Para estarmos acompanhados, o filme escolhido deve ser um <i>blockbuster</i>. Se dissermos que vamos à Sala de Arte -- circuito de filmes alternativos, tidos como <i>cult</i>, de Salvador --, não importa a qual filme pretendemos assistir. Ele sempre será chato, monótono, feito para "intelectuais". Certa vez, um colega de trabalho disse que não frequentava a Sala de Arte porque ia ao cinema para se divertir, não para "filosofar". Eu indaguei imediatamente: "Mas por quê não as duas coisas?" Ou, por quê não diversão numa noite e "filosofia" numa outra?<br />
<br />
Tal lamento não enseja "superioridade cultural". É muito mais uma queixa de não conhecer pessoas que gostem de arte sem atrelá-la sempre a entretenimento. É óbvio que gosto de entretenimento. Costumamos assistir de <i>blockbuster</i> a <i>avant-garde</i>. Nossa paixão é por cinema. Em nenhum momento desejamos que os outros tenham o mesmo gosto que nós temos. Se gostamos de comédia romântica, por exemplo, assistimos ao gênero produzido por Hollywood, mas também por franceses, ingleses, canadenses, argentinos, etc. Por que se limitar a uma indústria cinematográfica, a uma única forma narrativa, a um único caminho para a fruição? A questão colocada aqui diz respeito a "sair da caixinha de fósforo". Se quiser, estendo a mão. Vem, Alice, queremos sua companhia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgv7PGShQN1bu-zQdlpSTwLGvViTS8fSTS9ELqadBx07hmg85ukdk35jj2oBmNgp7i_39_9YWFvcAGHvIGy92Ejni2aMhQyr0xZHv2F0RpTW7SuvQ_c5VXmTg7I14DJ0CizNRrwAiYoZh8/s1600/pipoca.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgv7PGShQN1bu-zQdlpSTwLGvViTS8fSTS9ELqadBx07hmg85ukdk35jj2oBmNgp7i_39_9YWFvcAGHvIGy92Ejni2aMhQyr0xZHv2F0RpTW7SuvQ_c5VXmTg7I14DJ0CizNRrwAiYoZh8/s200/pipoca.jpg" width="188" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="font-size: small;">“AMOUR NÃO!”</span></b></div>
<br />
<div style="text-align: right;">
Por Ricardo Cota</div>
<br />
<div align="justify">
Recentemente li uma colunista, que pessoalmente desconheço, escrever que após assistir Amour numa sessão de segunda-feira à noite foi surpreendida pelos comentários do marido irritado: “por que ver esse filme agora? Você mal acabou de passar por isso? Por que mais sofrer?” Há uns meses atrás, uma querida amiga, no intervalo do ótimo musical metafísico “Quase Normal”, a caminho do baleiro sussurrou-me: "ainda bem que minha mãe não veio”.<br />
<br />
Todos estão certos em suas observações.<br />
<br />
Tanto Amour, crônica da finitude, quanto Quase Normal, musical da depressão pós-traumática, são obras de arte maravilhosas, de qualidade estética reconhecíveis, ainda que questionáveis do ponto de vista da melhor crítica. Mas a pergunta é: são obras recomendáveis? E, afinal de contas, o que é uma obra de arte recomendável?<br />
<br />
Meus amigos de crítica, que a esta altura já estão cascudos, sabem o quanto é difícil responder a pergunta de pessoas queridas, que na maioria das vezes não vivem a experiência artística cotidianamente como nós, mas questionam legitimamente: “e aí, que filme você recomenda?<br />
<br />
E quase sempre recomendamos o filme que destrói o fim de semana do sujeito, que amarga o jantar combinado com os amigos. Lembro de um primo que uma vez chegou para mim e disse: “poxa, aquele filme que você recomendou estragou o meu sábado!”<br />
<br />
Para nós, críticos e humanos, a questão envolve o conceito de ética. Respondo a este ser que respeito e admiro o que realmente penso ou respondo com aquele ar de presunção: “acho que você não vai gostar”.<br />
<br />
Sempre que me vejo diante deste tipo de resposta me identifico com a indignação. “Quem é você para dizer se eu vou ou não gostar de tal filme?” O problema é que o cidadão retorna ainda mais indignado do cinema : “Pô, que merda de filme você me indicou”.<br />
<br />
A ex-mulher de um amigo, figuraça, do tipo opinião eloquente, uma vez me olhou à saída de um filme e gritou: “Cotinha, meu querido, gosto tanto de cinema quanto você. Agora, aqui entre nós, nada de Bergman, NADA DE BERGMAN!!!” Nos abraçamos e rimos numa felicidade alienada que jamais esqueço. Ela odiava Bergman; eu delirava com sua sinceridade. Para ela, minha opinião sobre Bergman e merda eram a mesma coisa. Para mim a opinião dela...<br />
<br />
Podemos nos confortar com o conceito comum de arte como entretenimento, como <i>couvert</i> da noite que se abre, mas não podemos fugir do poder que a arte tem de, no pequeno gesto do bailarino, no menor solfejo do intérprete, na filigrana da letra da canção, no enredo do samba que não entendi, no argumento do filme, na cena final da peça, expor-nos aos anjos e demônios que nos cercam. Quem não quer passar por isso, que marque o encontro direto no restaurante.<br />
<br />
E seja feliz.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com1Salvador - BA, República Federativa do Brasil-12.9703817 -38.512382-13.218028200000001 -38.835105500000004 -12.7227352 -38.1896585tag:blogger.com,1999:blog-4532750374309435629.post-69741062204464033382013-07-09T10:01:00.000-06:002013-07-09T10:01:41.707-06:00[Debates #2] Usos do termo "popular"<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/U9A2QRoFphM?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O segundo debate ocorreu em 24 de janeiro de 2013. Desta vez, o tema escolhido
foi "Os usos do termo 'popular'". Iniciei o debate solicitando aos participantes que conceituassem “Festa Popular”. As duas explanações que emergiram convergiam para um evento que tinha participação ativa do <b>povo</b>, sem levar em consideração a classe social. Ana citou a Lavagem do Bonfim como exemplo e contou sua origem. Tratava-se de uma atividade anual dos escravos, que se reuniam em mutirão para lavar as igrejas e as casas dos senhores, que se mudavam para outras residências durante os trabalhos. Portanto, resumia-se à participação dos escravos. Regina Lúcia adicionou que a lavagem virou festa devido às manifestações alegres dos negros, com suas danças e cantorias. Indaguei, então, se eles consideravam a Lavagem do Bonfim como “Festa Popular” por causa de sua origem: era feita pela população menos abastada. Fábio concordou, afirmando que muitas festas de largo deixaram de acontecer porque não tinham relação com uma tradição, “não eram de raiz”, foram criadas na esteira das outras – em alguns casos, pela elite.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Num segundo momento, apresentei imagens de festas, como Boa Morte, Boi Bumbá e Carnaval. Perguntei se eles as considerariam, uma a uma, como populares. De imediato, instaurou-se uma confusão a respeito da “motivação” das festas. Fábio condicionou o caráter popular às manifestações religiosas, pois, sem isso, estariam mais suscetíveis a desaparecer. “Festa pela festa”, segundo ele, estaria fadada ao esquecimento, como ocorreu com as lavagens da rua 8 de dezembro, na barra, da pituba e de mussurunga. Porém, quando um participante citou a Festa de Reis como um outro exemplo, ressaltei que ela já estaria enfraquecida, com pouquíssima participação. Como se trata de uma festa de cunho religioso, a hipótese de Fábio não poderia ser considerada verdadeira.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O debate ficou polêmico à medida que o carnaval de Salvador era mencionado como festa popular, tanto pelos próprios participantes quanto por mim. A maioria concordou que o carnaval é uma festa popular. No entanto, Arilson ressaltou que ela é, também, hoje, uma festa comercial, porém “feita pelo <b>povo</b>”. Fábio discordou, dizendo que o carnaval deixou de ser popular. Ele argumentou que há muita segregação, que a festa é um subproduto dela própria, “não é mais uma manifestação do <b>povo</b> em si”. Para ele, não há espaço para a espontaneidade, pois as cordas padronizaram e monopolizaram o “pular carnaval”; o folião não se manifesta da forma que quer. Arilson complementou, afirmando que a dinâmica comercial acentuou a segregação – os excluídos socialmente não participam da mesma forma ou intensamente. Os demais contra-argumentaram: Lívia disse que, apesar do pouco espaço, da privatização do espaço público, “todo mundo dá seu jeito de curtir”. Notei que o teor comercial do argumento contrário ao carnaval ser uma festa popular estava diretamente relacionado à ideia generalizada da festa ser, atualmente, feita por e para a elite.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em seguida, para provocar uma comparação, eles analisaram a imagem do carnaval de Veneza, na Itália. Mesmo sem conhecer a fundo a festa, todos concordaram, inclusive Fábio e Arilson, que “ela pode ser mais democrática que a nossa”, pois os foliões “se manifestam como querem, fazem o querem, quando querem, se reúnem com quem querem, onde querem” e “ninguém vai mandá-los tirar a máscara porque está fugindo do padrão do abadá”. Por correspondência de estilo, a imagem seguinte mostrava o anúncio de um baile de máscaras brasileiro, ainda vigente. Alguns disseram, de imediato, que esta não é uma festa popular, pois é elitizada, se trata de um evento fechado. Fábio retrucou, incitando a dúvida nos demais participantes: “se esta não é festa popular, o trio elétrico é?!”. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O próximo tópico colocava em questão a existência de vários carnavais dentro do carnaval de Salvador. Todos assentiram. Arilson chamou atenção para a diferença de público entre diferentes localidades (bairros) de um mesmo circuito de desfile de trios. O folião da barra é completamente diferente do folião de ondina, por exemplo. Eu acrescentei que o público de ondina, um mesmo local, é muito diferente: de um lado da rua, embaixo do camarote de Caesar Towers, vê-se um público diferente do que se fixa do outro lado da rua, no canteiro central da avenida. O carnaval tem suas demarcações territoriais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um outro ponto utilizado para caracterizar a existência de diferentes carnavais foi o camarote. Arilson disse que é um artifício criado para separar o <b>povo</b> da elite. Eu questionei se o motivo de escolher o camarote era apenas por proteção, se não seria também por questões de <i>status,</i> por procurar conforto, luxo, serviços mais próximos, quase às mãos. Lembrei-lhes que a caracterização dos foliões de camarote não é igual à dos foliões de rua, apesar de poderem ter o abadá em comum. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2PS8E5SrirtGKSpVtx9kRFavkqfTdon-iZZ4zjDiQMu8uOFXPDkiJ7XyhGDd2p2tSu8pL4HMZsWDOglZPnVJFOkC3RO2qDxvBSMIOn1X_6AiGsVqwsQNeATyVOqkPk_MXjG_7MLGjcvo/s1600/camarote-salvador-4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2PS8E5SrirtGKSpVtx9kRFavkqfTdon-iZZ4zjDiQMu8uOFXPDkiJ7XyhGDd2p2tSu8pL4HMZsWDOglZPnVJFOkC3RO2qDxvBSMIOn1X_6AiGsVqwsQNeATyVOqkPk_MXjG_7MLGjcvo/s320/camarote-salvador-4.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Fonte: Central do Carnaval</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
A imagem seguinte apresentada aos participantes exibia uma tela que representava o entrudo, manifestação trazida por portugueses durante o período colonial brasileiro, praticada durante os dias que antecediam a quaresma. A partir da leitura do livro “A História de Ouro do Carnaval Brasileiro”, de Felipe Ferreira pude resumir uma parte da história do Entrudo, enfatizando o caráter marginal que a festa adquiriu quando a elite carioca, com a ajuda do governo local, coibiu sua prática, tida como grosseira, na tentativa de civilizar as festanças e copiar o modelo carnavalesco europeu, especialmente o parisiense e o veneziano. Ironicamente, a festa originara-se da própria elite, era praticada dentro de suas casas. Porém, quando eles começaram a perder o controle da festa, que popularizava-se, tomando as ruas do centro e envolvendo outras camadas sociais, ficaram incomodados. A hierarquia tinha de ser mantida a todo custo. Então, resguardaram-se nos clubes, em seus luxuosos bailes de máscaras, desprezando qualquer outra manifestação que erigisse das ruas. Assim, entrudo e carnaval passaram a ser antônimos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O carnaval possui a marca da diferença. Nele vê-se claramente as diferenças existentes na sociedade. Desde a sua origem, os interesses da elite econômica são privilegiados, ditando o que é considerado carnaval e a forma correta de frui-lo. O capitalismo indubitavelmente afetou a festa contemporânea, exacerbando as mazelas invisíveis e banalizadas do dia a dia. Dessa forma, o camarote é mais um elemento criado para distinguir (e não segregar) os carnavais, assim como tentavam fazê-lo contra o entrudo. Apesar de aberto a todos – vende-se indiscriminadamente, sendo apenas necessário pagar a quantia pedida –, tudo naquela estrutura restringe o acesso a um público específico. Os foliões que por ali passam ostentam, com suas vestimentas limpas, personalizadas, com seus corpos majoritariamente brancos, atléticos, cobertos de assessórios de valor – poucos arriscam usar relógio num bloco ou na pipoca –, mostram-se orgulhosamente diferentes. No entanto, os que ali não estão também desfrutam o carnaval. Se o espaço é reduzido, dando a empresas permissão de privatizar os espaços públicos, outras alternativas se abrem para aqueles que dele são retirados. Novos modos de brincar o carnaval são criados ou mantidos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por diversas vezes, a palavra “povo” foi utilizada no debate. Em algumas ocasiões, de forma a contradizer seu uso anterior. Até discutirmos o carnaval, “povo” representava toda a população; após instaurarmos a polêmica envolvendo esta festa, foi então dito que o camarote distancia o povo da elite. Deixei a palavra em negrito neste relatório para explicitar esta situação. O uso de “povo” para se referir a uma parcela específica da população relaciona-se ao uso do termo “popular”. Quando se utiliza este termo, evoca-se, no primeiro instante, algo voltado para o público de baixa renda. Moradia <u>popular</u>, bairro <u>popular</u>, ingressos a preços <u>populares</u> e farmácia <u>popular</u>, banco do <u>povo</u> tem muito em comum. Pode ter uma conotação de abertura para todos os “cidadãos”. Porém, se assim o fosse, por quê manter a diferenciação de preço e de localização, por exemplo, nas casas de espetáculo para os ingressos destinados ao público de baixa renda? Por quê não reduzir os ingressos a um valor que o torne acessível a todos? Vários outros exemplos podem ser extraídos do cotidiano para reforçar essa teoria arraigada na nossa cultura. E esta, é claro, não foge à regra: repetimos à exaustão que precisamos valorizar a nossa <u>cultura popular</u>.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10358066650378054522noreply@blogger.com0Salvador - BA, República Federativa do Brasil-12.9703817 -38.512382-13.218028200000001 -38.835105500000004 -12.7227352 -38.1896585